As Fábulas de Lisboa

Carlos Moedas conseguiu superar o Partido Socialista no que a fabulação comunicacional respeita. Não era fácil!

O Web Summit tornou-se uma imagem de marca de Lisboa e contribui para uma perceção internacional positiva da capital e de Portugal. É um evento que traz milhares de pessoas muito qualificadas provenientes das mais diversas partes do mundo; gera milhões de euros de atividade económica, essencialmente nos setores da hotelaria e restauração, gera rede de contactos e atrai diversos a estabelecerem por cá as suas vidas e as suas atividades. É notório que a Câmara Municipal de Lisboa coloca um enorme esforço e aloca fundos significativos neste evento-festa que junta turismo, empreendedorismo e networking, relativamente ao qual se faz, desde a sua primeira edição, um aproveitamento político onde o glamour de um evento-festa serve para, no discurso, caracterizar a capital Portuguesa como uma cidade exemplarmente gerida.
A forma como se diz ter o que não se tem é, na apreciação que faço do rigor, profundamente desonesta. Até nas matérias da inovação e do empreendedorismo a Câmara de Lisboa inventa conceitos que servem essencialmente para promover um trabalho que não foi feito. Imagine-se que os empresários do comércio automóvel decidiam chamar aos stands, fábricas. Portugal seria, estatisticamente, o país com mais fábricas de automóveis. Fábricas, claro está, que não fabricam nada… Limitam-se a vender o que outros, noutras localizações, fabricam. É exatamente o que se passa com a tão aclamada Fábrica de Unicórnios; não fabricou nenhum, e os que lá estão representados escolheram Lisboa para dar corpo às respetiva estratégia de internacionalização.
Fabricar Unicórnios é uma tarefa que envolve muito mais do que em Portugal está a ser feito. Para que um país da dimensão de Portugal possa produzir empresas internacionais de sucesso precisa de uma clara estratégia para o desenvolvimento da economia (alguém faz ideia do que Portugal quer ser quando for crescido?) que alinhe centros de investigação, universidades, investimento publico, privado e empreendedores a trabalhar com cientistas e tecnólogos em projetos alinhados com uma estratégia de desenvolvimento. Os poucos unicórnios fabricados em Portugal (empresas que nascem start up e atingem valor de 1000 milhões de USD) são resultado de atos isolados, de empreendedores extraordinários, inseridos em ecossistemas muito particulares. Na realidade não há uma Fábrica de Unicórnios, e em minha opinião, a insistência por parte do presidente da câmara de Lisboa nesta fabulação acaba por prejudicar o desenvolvimento da consciencialização do que é necessário fazer para efetivamente Portugal poder estimular uma estratégia económica que promova, em ecossistema devidamente integrado, a geração de unicórnios fabricados em Portugal; Made in Portugal.
Enquanto o presidente de câmara de Lisboa fantasia e festeja, a qualidade de vida na cidade tende a diminuir. As operações correntes e básicas de manutenção e limpeza apresentam falhas gravíssimas; Lisboa é uma cidade cada vez mais suja e esburacada. A sensação de insegurança em muitas zonas da capital é evidente. A transição energética no que à CML diz respeito está em índices do século XX e a resolução dos temas que afetam o desenvolvimento da região metropolitana de Lisboa nos investimentos em habitação pública, transporte publico, aeroporto, ferrovia e novas travessias do Tejo (seja por ponte ou túneis), são deixados a pairar num patamar de profunda falta de empenho e competência que caracteriza a gestão da Câmara. Carlos Moedas conseguiu superar o Partido Socialista no que a fabulação comunicacional respeita. Não era fácil!