Um ciclo de máscaras

Das máscaras da pandemia à máscara de celebração de Gyökeres, o encanto de Rúben Amorim manteve-se mesmo na hora da despedida.

O Sporting fecha um ciclo com a saída de Rúben Amorim. Um período de máscaras, ironicamente com um dos treinadores mais transparentes da liga.

O percurso de Amorim parece, aliás, fazer-se de peculiares curiosidades, já que de Braga a Lisboa, seria um e outro Sporting a consolidar o seu estatuto de técnico. Para trás ficava uma carreira de jogador no Benfica, o seu “clube do coração”.

Chegou otimista a Alvalade em março de 2020. Tinha aparentemente pouco a perder, e o Sporting não ganhava – o título de campeão nacional era uma miragem de quase duas décadas.

Venceu o Aves na estreia, numa semana que ficou marcada sobretudo pelo anúncio da OMS, que decretava nessa altura a covid-19 como pandemia.

Muitos preferiram acreditar que as circunstâncias extraordinárias tinham ditado o sucesso da equipa e do jovem treinador, que se sagraria campeão nacional cerca de um ano depois, em maio de 2021.

As portas do estádio voltaram a abrir-se para os adeptos e a fórmula Amorim continuava a funcionar.

Não havia máscaras que tirassem o fôlego aos adeptos ao ver a equipa jogar. E já não havia possibilidade de camuflar um título face ao contexto pandémico.

Guardaram-se as proteções faciais, mas a máscara continuaria a ser protagonista nos leões. E nos seus festejos. Chegava então o sueco Gyökeres a Alvalade, no verão de 2023. A celebração a cada golo tornou-se um dos gestos preferidos dos adeptos (e certamente do treinador), até porque cada repetição significa estar mais próximo da glória.

Rúben Amorim voltou a sagrar-se campeão nacional em 2023/24. Ficavam para trás as duas décadas de jejum e assinalava-se agora 20.º troféu do Sporting na liga. A mudança estava feita. E pelo meio ainda somou duas conquistas na Taça da Liga e outra na Supertaça. Uma mão cheia de títulos na hora da despedida. No adeus o mesmo encanto, curiosamente na Pedreira, frente ao Sporting de Braga, o primeiro clube que orientou. Do seu primeiro onze no Sporting ao último jogo não sobrou um jogador, restava um trunfo: o próprio Amorim.

O resultado já não mudava o rumo da história que deixava à vista de todos, mas a reviravolta provou mais uma vez que está disposto ao mais difícil. Harder, nem a tradução literal do autor dos dois golos finais poderia vir mais a propósito para este fim. E mais ainda para o início que se avizinha em Inglaterra, onde os pesadelos têm invadido o Teatro dos Sonhos.