Educam-se os filhos à vez. Cada um tem o seu feitio, as suas manias, fragilidades e qualidade e nós somos pais diferentes conforme os filhos que nos caem na rifa. É assim a vida toda: a deles e a nossa. Não somos sempre iguais e muito menos educamos todos da mesma maneira. Uma das maiores falácias é quando nos surpreendemos com a diferença entre os nossos filhos porque estamos convictos de que ‘foram todos educados da mesma maneira’ e muitas vezes revelam-se o oposto uns dos outros quando crescem. A verdade é que não foram educados da mesma maneira, nem podiam. A verdade é que cada filho tem pais diferentes e todos os pais educam todos os seus filhos de forma diferente. Tratamos de forma diferente aquilo que é diferente, o que não tem nada de injusto: igualdade não é igual a justiça. E no que diz respeito à educação, a desigualdade é mesmo uma questão de justiça. A ideologia da educação é contrária aos princípios da Revolução Francesa – tirando a parte da fraternidade que ainda assim só deve ser considerada literalmente. Desigualdade, autoridade e fraternidade são os motes que nos regulam.
Nós pais somos reativos. Não temos um plano, uma estratégia e muito menos um manual sobre como educar filhos. Temos pistas, que na maioria dos casos são exemplos de outros pais – incluindo bem ou mal os nossos pais – e agora os milhares de podcast que nos levam à beira de esgotamentos emocionais, mas seguimos teimosamente, e ainda bem, o instinto. Esse instinto diz-nos que devemos adormecer ao lado de um filho que tem terror do escuro e deixar sozinho o outro que nem sabe o que isso é. Parece injusto, mas é só bom senso.
Um bebé que chora a noite toda, que não sabe o que é dormir e que não sossega um minuto enquanto não rebolar pelas escadas abaixo, faz de nós pais diferentes dos pais que somos de um bebé de sonho. Daqueles bebés que sonham a sorrir, que sorriem quando lhes pedimos, que não dão um pio e que preferem contemplar o mundo a andar pela casa a desafiar todas as esquinas e fichas elétricas.
Um adolescente que exagera o tempo que dedica ao estudo em vez de exagerar o tempo que dedica aos videojogos, deve ser subornado, se for preciso, a abrir pelo menos uma vez na vida um videojogo. Enquanto que o outro, o viciado, deve ser ameaçado com todo o tipo de castigos para largar a consola. O caminho da educação é o da moderação e exige dos pais múltiplas personalidades. Esquizofrenia, mesmo. Os filhos queixam-se de que são tratados de forma diferente, é uma reclamação milenar – já o irmão do Filho Pródigo se queixava do mesmo. O que para eles é uma injustiça porque se comparam uns com os outros, para nós é a mais pura das justiças porque cada filho é um filho único.
Depois há épocas, períodos, fases em que uns precisam de mais mimos do que outros, mais ajuda, mais dinheiro ou mais apoio. As regras para o filho que não deita a roupa suja para dentro do cesto são diferentes das regras que estabelecemos para o filho que sai de casa às sete da manhã com a cama feita. Para uns somos uns pais severos, chatos, exigentes e sempre zangados, para os outros somos pais babados e orgulhosos. Mas tanto para uns como para outros há que moderar o orgulho e a exigência e equilibrar tudo com firmeza e reconhecimento. Igualdade só existe no amor que lhes temos, tudo o resto tem de ser perfeitamente desigual se queremos ser justos.
Um filho de cada vez
A ideologia da educação deve ser contrária aos princípios da Revolução Francesa – tirando a parte da fraternidade que ainda assim só deve ser considerada literalmente. Desigualdade, autoridade e fraternidade devem ser os motes.