Com as aprazadas eleições dos órgãos sociais da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para o quadriénio 2024-2028, abre-se um novo ciclo neste organismo e nas competições desportivas que dirige. Atingido o limite de três mandatos, Fernando Gomes vai conhecer o seu sucessor no início do próximo ano.
É justo reconhecer o muito que foi concretizado por Fernando Gomes e pelas suas direções, nas quais pontificaram quadros de grande competência, como Tiago Craveiro e Hermínio Loureiro. De dezembro de 2011 até hoje, ressaltam desde logo, e no que é mais visível, as conquistas inéditas da nossa seleção principal. Naturalmente que estas vitórias resultaram, em grande medida, do mérito individual dos atletas, mas é bom recordar que houve outras gerações de ouro de futebolistas portugueses que não alcançaram tantos êxitos. E, para quem diz que foi tudo fruto de um afortunado acaso, apenas recordo que ter sorte dá muito trabalho.
A internacionalização dos nossos jogadores, que hoje integram os plantéis dos melhores clubes mundiais, serviu para acabar com as velhas polémicas clubísticas. Quem não se lembra de, ainda há poucos anos, discutirem-se as convocatórias, não pela qualidade individual dos selecionados, mas em função do clube nacional que cada um representava? Se não havia um jogador do Benfica, do Sporting ou do FC Porto era um ai-jesus.
Em virtude do empolgamento pelos sucessos obtidos e da diversidade clubística na captação de jogadores, as seleções nacionais passaram a ter adeptos próprios. No nosso imaginário surgiu o Futebol Clube de Portugal. Em qualquer estádio, seja o jogo oficial ou particular, há sempre casa cheia de adeptos entusiásticos e equipados a preceito. Ora, nada disto aconteceu por milagre ou casualidade. Resultou de uma bem-sucedida estratégia desportiva, que, ademais, trouxe importantes proveitos de bilhética e merchandising.
Agora, o futebol português prepara-se para superar novos desafios. E isso só será possível com a mobilização de todos os seus agentes, unidos por um objetivo comum. Neste sentido, a escolha do próximo presidente da FPF tem de recair sobre alguém com currículo, reconhecimento e autoridade para, dando continuidade ao trabalho realizado, promover de forma efetiva um maior envolvimento de todos os agentes na discussão do futuro do futebol português. Alguém que saiba congregar num amplo debate o conhecimento, a experiência e a visão dos agentes do futebol e das organizações nacionais e internacionais da modalidade.
Ora, isto implica uma governação que dê representatividade e voz a todos: associações de âmbito nacional, distrital ou regional e de natureza profissional ou não profissional, que representem jogadores, treinadores, árbitros, médicos desportivos, preparadores físicos, entre outros. Obviamente sem nunca esquecer os clubes que competem no futebol profissional e não profissional.
Mas é indispensável envolver também os adeptos, que, em Portugal, não têm ainda estruturas com representatividade, ao contrário do que sucede noutros países. O entusiasmo, a fidelidade e o comportamento exemplar dos adeptos das seleções podem nortear uma nova cultura cívica nas bancadas, que atrairá novos públicos. Por isso, é importante que os adeptos sejam ouvidos em questões como o calendário das provas, o horário dos jogos, o entretenimento nos estádios e a gestão da bilhética.
Um outro desafio que se colocará à nova direção é o aprofundamento das relações com os PALOP. Nestes países, o futebol português goza de uma imagem forte mas não tem sabido ser um elemento ativo na cooperação bilateral. Ora, esta é uma matéria em que a FPF deve tomar a iniciativa.
Em suma, vai iniciar-se um novo ciclo na promoção do futebol em Portugal, em que, não desperdiçando o capital acumulado, a FPF deve adotar um modelo mais aberto e participado. Um modelo que valorize o contributo do ecossistema futebolístico e difunda os valores cívicos daquele que é, sem dúvida, o maior fenómeno de massas no nosso país.