Manuela Eanes: “Só reencontrei o meu marido três dias depois”

Manuela Eanes conta como viveu em casa o 25 de Novembro. Fala das reuniões preparatórias, das ameaças de que foi alvo (como o rapto do filho de 3 anos) e da fé que nunca perdeu de que o marido regressaria são e salvo.

No 25 de Novembro, o seu marido, antes de sair de casa, disse-lhe o que ia fazer?
Em nossa casa, durante todo o Verão de 1975, o meu marido reunia-se, frequentemente, com o grupo que estava a preparar o 25 de Novembro, dado o ambiente do PREC (que, infelizmente, alguns persistem em desvalorizar). Portanto, não participando nas reuniões, eu sabia que estavam a preparar a resposta a uma previsível sublevação política armada e a uma certa anarquia que se vivia nessa altura. Sabia e vivia também todo esse ambiente, mas, discretamente, com algum receio, porque chegaram, até, ameaças de raptarem o meu filho de 3 anos.

O que levou o seu marido na bagagem? Ia fardado? Ia armado?

O que o meu marido levou na bagagem foi o que estava sempre preparado: saco de bagagem, farda e artigos de higiene.

Antes de voltar, ele telefonou-lhe? Mandou algum recado por alguém? Alguém lhe ligou? Como é que ia acompanhando os acontecimentos?

Como cidadã activa que procuro ser, ia acompanhando todos os acontecimentos pela televisão e, como se compreende, não havia telefonemas, nem telemóveis. E, como cristã, com fé, acreditava que, de novo, íamos ter um país em democracia, sem ditadura nem uma guerra civil.

Nalgum momento pensou que ele não voltaria?

Sinceramente acreditei e rezei para que voltasse.

Quanto tempo esteve ele fora de casa?

Só ao fim de 3 dias, comovidamente, nos encontrámos.