Não é mesmo não

Ceder ao extremismos é como deixar que os nossos filhos invadam o Capitólio. E quem fica a limpar o chão somos nós.

Para se perceber o crescimento dos movimentos dos extremos políticos, à Direita e à Esquerda, devemos pensar em cada um deles como se fossem nossos filhos. O rebelde é a Esquerda ativista, dos ‘coletivos’, que desafia regras, professores, ordem e disciplina. Sai até de madrugada em dias de escola e levanta-se o mais tarde possível todos os dias, prefere as claques ao desporto, fuma mas é vegan, usa barbicha quando devia ter apenas borbulhas, faz tatuagens em vez de natação e veste-se de preto mas não prescinde das roupas de marca. Depois temos os radicais de Direita. O menino saudoso de tempos que não viveu, que só tolera t-shirt se forem polos, é católico mas anti-Papa, democrata mas tem reservas quanto à qualidade e valor do voto de quem não é católico e não veste polos, fuma mas não engole, vai à missa mas não faz a cama, gostava de ser mais velho do que é mas já é mais velho do que os avós. É antiliberal em quase tudo menos na mesada e acredita na igualdade desde que o grupo seja homogéneo e não tenha mulheres. Quando não está a discutir teologia, está a aprender golf ou vai à tourada. Assiste às missas em latim mas balda-se às aulas de inglês.
Estes jovens adolescentes, que são filhos de alguém, são uma angústia para os pais. Assim como foi em tempos o BE que foi o pesadelo do PS e o Chega o terramoto doméstico do CDS e uma ameaça ao PSD. A tática para educar estes filhos e pô-los nos carris, não é tão simples quanto a estratégia de os obrigar a comer sopa ou a estudar matemática. Neste caso devíamos todos olhar para a política. Há a tática do não é não, que o PSD e o CDS adotaram, e a tática do estejam à vontade mas quem manda aqui somos nós, que foi aquilo que o PS fez com a ‘gerigonça’. Ou seja, não ceder aos ‘piercings’ nem tolerar as missas em latim ou, ao contrário, não contrariar as modas na ilusão de que são apenas ‘uma fase’.
Olhando para os resultados podemos verificar que na família do PS já ninguém janta à mesa e não há adultos na sala. Cedeu-se às birras e aos caprichos dos filhos com medo de os perder e de perder a autoridade ou o poder. Correu tudo mal: a casa ficou de pantanas, os filhos e os amigos dos filhos invadiram a sala e a autoridade foi sacrificada. Onde antes havia quem pusesse a mesa, hoje só há quem suje a loiça. O PS é um BE em grande. No caso do PSD ainda estamos para ver se a estratégia do não é não resulta. Ou seja, a estratégia segundo a qual os meninos podem brincar às missas, vestirem polos e fumarem charutos, desde que arrumem a cozinha, façam a cama, tenham boas notas e paguem as aulas de golf com o seu dinheiro.
Na educação aquilo que prevalece são os princípios, o exemplo e a persistência. Os resultados, esses, aparecem mais tarde ou mais cedo. Na política não é assim: os resultados têm de ser imediatos. A bondade das estratégias e dos princípios são aferidos em votos. E a persistência, coitada, acaba sacrificada. O não é não, é uma tática que exige e depende de persistência e firmeza. Ceder é como deixar que os nossos filhos invadam o Capitólio. E quem fica a limpar o chão somos nós.