Celebrou-se esta segunda-feira pela primeira vez o 25 de novembro de 1975, numa sessão solene (e não consensual) na Assembleia da República. Em moldes idênticos aos que acontecem no 25 de Abril, os 49 anos do 25 de Novembro de 1975 foram marcados por discursos comemorativos à direita e por críticas à esquerda. A data histórica foi assinalada depois de o CDS ter apresentado um projeto de resolução que recomendava a organização anual de uma sessão solene para celebrar a efeméride. O PCP foi o único partido que não esteve presente.
Neste dia, há 49 anos, o país estava à beira de uma guerra civil. Depois do Verão Quente de 1975, a tensão entre moderados e revolucionários escalava. Se por um lado o 25 de abril de 1974 veio deitar abaixo o regime autoritário do Estado Novo, por outro lado pôs a nu as divisões das forças políticas quanto ao rumo a seguir para o país.
Tudo culminou no dia 25 de Novembro de 1975, quando cerca de mil paraquedistas da Base Escola de Tancos ocuparam o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas, ato que o Grupo dos Nove considerou o indício de que poderia estar em preparação um golpe da chamada “esquerda militar”. Até hoje subsistem dúvidas sobre quem deu a ordem de saída dos “paras”.
Numa tentativa de reconciliação e estabilização política, a “direita militar”, chefiada pelo general Ramalho Eanes e Jaime Neves levou a cabo um contragolpe, para evitar tentativa de sublevação daquelas unidades militares.
Numa entrevista exclusiva ao Nascer do Sol, Ramalho Eanes revela que “fez o possível para que fosse outro” e não ele “a coordenar a execução do plano de operações”. O general conta ainda que saiu de casa armado com uma pistola, narra em pormenor o que se passou em Belém na reunião com Costa Gomes e afirma que a guerra civil esteve iminente.
Entre presenças e ausências: os discursos que marcaram a cerimónia em Lisboa
A cerimónia no Parlamento contou com várias ausências. PS, Livre, PCP e Bloco de Esquerda opõem-se à sessão solene e deixaram lugares vazios no parlamento durante a cerimónia.
Como um dos principais defensores das celebrações do 25 de novembro, o CDS deixou uma mensagem positiva em relação à data. “Temos obrigação de dizer às novas gerações que só com o 25 de Novembro a democracia e a liberdade saíram definitivamente vencedoras em Portugal: o 25 de Novembro completa o 25 de Abril”, afirma Paulo Núncio, líder parlamentar do CDS,
Por outro lado, Joana Mortágua – deputada do Bloco de Esquerda e única presente nas comemorações – referiu-se à sessão como um “solene disparate” e acusou o Governo de estar a ceder à extrema-direita. A bloquista afirmou ainda que “a celebração do 25 de novembro é a tentativa de esvaziar o conteúdo revolucionário e popular do 25 de abril”.
Do lado da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, relembrou a importância da data. “Esta cerimónia solene marca um momento decisivo no caminho para a afirmação da democracia em Portugal” e vinca que “Ramalho Eanes e Mário Soares não procuraram consensos com aqueles que não amavam a liberdade”.
Num parlamento altamente polarizado, o deputado do PSD, Miguel Guimarães, aproveitou para assinalar que a cerimónia “não serve para diminuir o 25 de abril” e que acredita que o 25 de novembro “concretizou a grande promessa de abril: a liberdade”. E lamenta ainda a ausência do PCP na cerimónia: “Nem todos os representantes dos portugueses estão aqui presentes, fazem mal”, resume.
De cravos ao peito, os deputados do PS homenagearam o 25 de abril e criticaram as equiparações do 25 de novembro à Reolução dos Cravos.Pedro Delgado Alves, do PS, assinalou que o 25 de novembro “não foi uma vitória da direita sobre a esquerda”, mas sim uma “vitória da esquerda democrática” contra uma “deriva sectária e radical”.
Já o discurso de André Ventura (CHEGA) levou vários deputados do PS a abandonar o plenário, após afirmar que “sem esquecermos o 25 de abril, este é o verdadeiro dia da liberdade em Portugal”. O líder do Chega defendeu ainda uma “nova democracia”, acrescentando que a imigração e a corrupção são os maiores problemas da política atual em Portugal.
Na sua intervenção, Inês Sousa Real (PAN), afirma que “há 49 anos o país estava entrincheirado, completamente dividido ao meio, e à beira da guerra civil. Hoje olhamos para esta sala e vemos novamente trincheiras erguidas, entre os que dizem que não traem Abril e os que usam Novembro. Hoje vemos novamente trincheiras fúteis que não dignificam a memória de Abril”.
A deputada Filipa Pinto, do Livre, assinalou as comemorações do 25 de novembro para relembrar o Dia para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, que também se celebra esta segunda-feira.
Porto assinala data com conferência “Porto da Liberdade”
Já na cidade Invicta, a Câmara Municipal do Porto assinala a data com a conferência “Porto da Liberdade”, ao longo do dia 25 e 26 de novembro na Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
Hoje a manhã foi dedicada ao tema “O Porto, reduto e palco de Liberdade”, seguindo-se o painel “O 25 de Novembro de 1975 no Porto”. À tarde, várias personalidades da cidade discursam sobre “O Porto das vozes insubmissas”.
O dia 26 será centrado nas temáticas “O 26 de Novembro de 1899”, “O futuro da liberdade: ameaças e desafios” e “A Liberdade”.