No próximo dia 1 de dezembro, António Costa, assumirá a presidência do Conselho Europeu. Ajudado pela ‘mercearia’ europeia que aproveitou com maestria, e com o apoio do amigo Orbán, que é o cavalo de Troia que Putin introduziu na UE, Costa vai cumprir o seu destino e realizar o seu sonho.
Beneficiou também do apoio provinciano do atual primeiro-ministro.
Decorrido um ano e poucos dias (7 de novembro de 2023) desde que o ex-PM abandonou o Governo, à boleia de um inofensivo parágrafo inscrito num comunicado da PGR, a opinião pública, distraída, primeiro pela rocambolesca novela do Orçamento e, mais recentemente, pela constatação da falência dos serviços essenciais, deixou de pensar no assunto.
Agora com a proximidade do início do seu mandato europeu, que se prolongará, pelo menos, até 31 de maio de 2027 e considerando o ‘estado da arte’ que se vive na política europeia, será legítimo recordar o que efectivamente se passou, para compreender o que se pode esperar de Costa perante tão exigente tarefa.
O comunicado da PGR e o celerado parágrafo foram apenas o pretexto para que o ex-PM se pudesse livrar das responsabilidades domésticas, fazendo crescer as hipóteses para atingir o seu verdadeiro objetivo.
Teve a ajuda, como se disse, do presidente no semestre do Conselho, o autocrata Orbán, e beneficiou de uma lógica perversa na escolha dos lugares cimeiros da UE que deposita nos três principais grupos políticos, a exclusividade das grandes decisões.
Para a ‘estória’ pequenina vai ficar a narrativa de que a renúncia terá sido provocada por imperativos éticos e na sequência de um quase golpe de Estado perpetrado pelo Ministério Público.
«Não é possível continuar a liderar o país quando se está a ser investigado» concluiu o próprio António Costa.
Sucede que este inabalável princípio tem de ser universal e aplicar-se, pelo mesmo sujeito, a todas as situações.
Ora se Costa não tinha condições, de foro pessoal, para continuar PM (isto sem levar em conta o manifesto exagero do juízo que formulou) também não teria condições para ser Presidente do Conselho Europeu. Até porque a investigação continua, segundo declarou o novo Procurador-geral da República.
Mas na realidade o que Costa pretendia era livrar-se do fardo da governação nacional para poder migrar para Bruxelas.
Conhecendo-se hoje o estado em que deixou a maioria dos serviços públicos, pode bem dizer-se que conseguiu juntar o útil ao agradável.
Tudo isto, e muito mais, serve apenas para memória futura e, eventualmente, para escrever a verdadeira História.
O foco, agora, deve ser a situação em que o futuro Presidente do Conselho Europeu, vai encontrar a UE e a análise da sua capacidade para ajudar a reverter a situação.
Ora o cenário não pode ser mais sombrio. A UE atrasou-se em vários domínios com especial destaque para a economia, onde perdeu competitividade, produtividade e capacidade de inovação.
Mas também se atrasou em solidariedade e articulação de políticas e, infelizmente, enfraqueceu significativa e irremediavelmente (?) a sua coesão.
Mario Draghi (como já o fizera antes Enrico Letta) acaba de recordar estas debilidades de forma exaustiva e tecnicamente inatacável. E apresentou soluções construtivas mas que dificilmente podem ser concretizadas a curto e a médio prazo. Ora, tempo, é o que menos existe no projeto europeu.
Neste momento e com surpresa (?) ainda não está fechado o dossier ‘Comissão Europeia’, por causa da oposição do PPE à nomeação da Comissária indicada pela Espanha e à rejeição do S&D à nomeação do comissário desejado pela Itália.
É o resultado natural de uma política baseada em critérios meramente partidários mas que a ‘mercearia’ dominante, no fim e uma vez mais, acabará por resolver. Com que custos?
Não parece que o António Costa, aparentemente mais interessado em fazer fracassar o seu sucessor no PS do que em exercer o seu mandato europeu, tenha condições para assumir a liderança de que a UE necessita.
Ora a Europa precisa de uma liderança forte e indiscutível.
O escritor Luís Stau Monteiro escreveu que “Portugal é um sítio onde se cortam as árvores para que não façam sombra aos arbustos”.
A ‘burocracia’ europeia cortou Mario Draghi para deixar crescer António Costa.
Fez mal.
Só que, às vezes, há milagres.
As árvores e os arbustos
Ajudado pela ‘mercearia’ europeia, Costa vai cumprir o seu destino e realizar o seu sonho.