Obras na Portela. Os dois lados da moeda

O Governo vai avançar com obras na Portela. E se há quem aplauda a ideia, há quem considere que não faz qualquer sentido

Já foi assinado o contrato para adjudicação das obras no aeroporto de Lisboa. «Até que enfim!», atira ao Nascer do SOL Pedro Castro, especialista em aviação, que sempre foi a favor de melhoramentos na Portela. Na cerimónia, que decorreu esta semana, em que estiveram presentes José Luís Arnault, chairman da ANA, Thierry Ligonnière, CEO da ANA, e Carlos Mota dos Santos, o CEO da Mota-Engil – consórcio que ganhou as obras de expansão – soube-se que o contrato é de cerca de 233 milhões de euros.
«Este investimento não é só CAPEX. É um investimento que melhora a capacidade, melhora a experiência para os passageiros, e vai criar centenas de empregos diretos e indiretos», destacou o CEO da ANA. E atirou: «O sr. ministro não é homem de adiamentos. Gosta de fazer coisas, depressa. Esta apresentação é prova disso».
É nesse ponto que pega Pedro Castro, acusando o anterior Governo de nada ter feito para melhorar a infraestrutura. «De acordo com declarações de José Luís Arnault, os governos anteriores, enquanto proprietários da infraestrutura, impediram a concessionária de fazer obras necessárias e pretendidas. Nessa altura, o foco dos governantes estaca em criar todas as condições para a Portela ser o mais ineficiente possível para acompanhar a narrativa de essencialidade de um novo aeroporto». Por isso, defende: «Afinal, o que precisávamos mesmo era apenas de um novo Governo».
«As obras aqui são urgentes. Quem utiliza este aeroporto sabe que está sobrelotado. Há anos que é claro que estas obras era essenciais», destacou o ministro das Infraestruturas, presente na cerimónia. Miguel Pinto Luz defendeu que o turismo precisa disto e os negócios também. «Não há luz como a de Lisboa, mas um turista valoriza mais a cidade com a experiência quando aterra ou parte», defendeu o governante.
As obras de melhoramento incluem a renovação e melhoria de edifícios já existentes, mas também a construção de novas pontes de embarque, a instalação de painéis solares e o reaproveitamento da água do aeroporto.
«Mais do que apreciar o mérito técnico de cada uma das obras que vai ser feita, gostaria de me focar na gestão do resultado final que nos é prometido», diz Pedro Castro, defendendo que, em 2027, quando as obras estiverem concluídas, «o movimento de aeronaves aumentará dos atuais 38 para 45». Em termos de política pública, «este aumento é a oportunidade para corrigir três situações».
A primeira, elenca, é «acabar com os voos de madrugada, os que mais perturbam o sono – à semelhança de tantos outros hubs europeus proibir voos (chegadas e partidas) até às 6h da manhã». Junta-se promover «uma distribuição mais concorrencial dos novos slots (faixas horárias) adicionais – chamaria a intervenção da autoridade da concorrência para corrigir a posição dominante histórica da TAP na Portela (com quase 50% dos movimentos) que, em conjunto com o dito ‘esgotamento’ do aeroporto, impede a entrada da concorrência». Para finalizar, o especialista em aviação diz ser importante «supervisionar, fiscalizar e fazer cumprir as obras de insonorização dos edifícios públicos à qual a ANA Vinci está obrigada e está atrasada na execução».
Ainda assim, apesar destes melhoramentos, o Humberto Delgado acabará por, mais à frente, ser substituído pelo Luís de Camões, em Alcochete.

‘Obras não fazem sentido’
«Estas obras não fazem sentido», considera Lídia Ferreira, da plataforma ‘Aeroporto Fora, Lisboa Melhora’. «Vimos estarem a investir-se estes milhões que são anunciados numa primeira fase de um projeto que a única coisa que faz é aumentar o número de movimentações por hora de 38 para 45. São ganhos feitos à custa do sacrifício da população que vive em Lisboa e que vem durante o dia trabalhar ou estudar». E acusa o investimento de «exploração». «Estamos a ser explorados e, de alguma forma, também discriminados porque viver em certas zonas de Lisboa ou trabalhar nessas zonas faz mal à saúde».
Além disso, chama a atenção para o facto de nada se ouvir sobre o aeroporto de Alcochete. «Esse dinheiro está a ser gasto e não há nenhuma notícia sobre o que está a ser feito em relação ao novo aeroporto. Parece que está a fazer-se tudo para que isto se continue a perpetuar e é uma situação completamente inaceitável para nós», lamenta.