O Portugal dos Pequenitos, em Coimbra, símbolo e herança do Estado Novo, vai crescer e atualizar-se. Num espaço de um hectare, a sul do parque (do lado da Quinta das Lágrimas), vão nascer cinco novos pavilhões que constituem uma amostra do melhor da arquitetura contemporânea construída em Portugal. O Pavilhão de Portugal, de Álvaro Siza Vieira (Parque das Nações), a Casa das Histórias Paula Rego, de Souto Moura (Cascais), a Casa da Música, de Rem Koolhaas (Porto), o Terminal de Cruzeiros de Leixões, de Luís Pedro Silva, e o bar À Margem, de J. P. Falcão de Campos (Belém), foram as obras escolhidas pela Fundação Bissaya Barreto para trazer o parque temático para o século XXI. Dentro da lógica do Portugal dos Pequenitos, cada uma destas obras será representada por uma versão em miniatura, à escala das crianças.
«O parque atual estava muito datado e, como tal, achamos que faltava ali a componente da arquitetura contemporânea portuguesa», disse Patrícia Viegas do Nascimento, presidente do conselho de administração da fundação, ao Notícias de Coimbra. O diário conimbricense noticiou também que o projeto de uma nova entrada no parque, que tinha obtido parecer positivo da Câmara em 2018, foi preterido em favor desta ampliação.
Na apresentação, Souto Moura revelou que não se limitou a repetir a Casa das Histórias, mas antes teve de fazer algo novo e que o pavilhão de Coimbra será, ao contrário do museu de Cascais, em madeira. «Foi como um laboratório e uma experiência que nunca tive», assumiu o arquiteto.
Inaugurado antes da Disneyland
Situado paredes-meias com a Quinta das Lágrimas, onde foi assassinada D. Inês de Castro, o Portugal dos Pequenitos é também ele uma referência histórica a vários títulos. Fundado por iniciativa de Bissaya Barreto, médico de Coimbra e amigo de Salazar, foi inaugurado em 1940 – alguns anos antes da Disneyland, na Califórnia (de 1955).
Constituiu-se desde a origem como um repositório da arquitetura nacional. Num pequeno espaço, podemos encontrar réplicas – em ponto pequeno – de solares de Trás-os-Montes e Minho, de casas típicas do Alentejo e Ribatejo, uma capela, uma azenha, entre outros exemplos da arquitetura tradicional.
Numa segunda fase, foram acrescentados elementos emblemáticos de monumentos como o Convento de Cristo, em Tomar, da Torre de Belém e da Universidade de Coimbra, com a sua famosa torre, sempre na lógica salazarista de celebração da identidade nacional.
E, já no final da década de 1950, seriam concluídos pavilhões representativos das colónias, das ilhas e do Brasil, numa exaltação dos Descobrimentos muito característica do Estado Novo.
Curiosamente, todo este programa foi entregue não ao grande estudioso da tradição da arquitetura nacional, Raul Lino, mas ao modernista Cassiano Branco, autor de projetos ousados como o Teatro Éden, o Cinema Império e o Coliseu do Porto.
Com os cinco novos pavilhões contemporâneos, o Portugal dos Pequenitos honra e atualiza essa tradição de modernidade. As obras, com um custo estimado de sete milhões de euros, começarão em junho de 2025 e devem estar concluídas cerca de dois anos depois.