Venâncio Mondlane pede encontro com o Presidente moçambicano

A contestação em Moçambique continua nas ruas e a polícia voltou a reprimir com extrema violência. Uma ONG afirmou que foram mortas mais 12 pessoas nas manifestações dos últimos dois dias.

Pela sétima semana consecutiva, os moçambicanos seguiram a palavra de Venâncio Mondlane e saíram à rua para protestar contra os resultados das eleições gerais de 9 de outubro. Recorde-se que a Comissão Nacional de Eleições atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, com 70,6% dos votos, e Venâncio Mondlane, candidato independente que teve o apoio do Podemos, ficou em segundo lugar com 20,3%. Desde essa altura, não houve um dia sem protestos. Segundo a Organização Não-Governamental (ONG) Plataforma Eleitoral Decide, os confrontos com a polícia provocaram a morte de 76 pessoas, 240 manifestantes foram baleados pela polícia com balas reais e houve mais de três mil detenções.

Esta semana, o candidato derrotado Venâncio Mondlane voltou a apelar aos seus apoiantes para que saíssem à rua durante sete dias e até 11 de dezembro. Ato contínuo, os manifestantes ergueram barricadas, estacionaram os carros no meio das principais artérias e paralisaram as cidades entre as 8h00 e as 16h00 e usaram apitos e vuvuzelas.

O Governo moçambicano respondeu dizendo que ia usar todos os meios para travar as manifestações convocadas por Mondlane e o resultado foram mais cargas policiais de extrema violência em várias cidades. A Plataforma Eleitoral Decide afirmou que, pelos menos, 12 pessoas morreram e outras 34 foram baleadas na nova fase de manifestações e paralisações iniciadas na passada quarta-feira. Sete das vítimas mortais registaram-se na província de Nampula e uma em Maputo, havendo ainda a registar duas mortes em Cabo Delgado, uma em Inhambane e outra em Sofala.

As posições continuam extremadas, com as principais cidades a viverem numa anarquia generalizada. O Presidente da República Filipe Nyusi nada fez para resolver o problema, o que levou Venâncio Mondlane a afirmar que espera um contacto do presidente moçambicano para uma reunião sobre a situação pós-eleitoral no país. «Peço ao Presidente da República de Moçambique que tenha um encontro virtual comigo, o senhor em Moçambique, eu onde estou. Vamos virtualmente falar. Isso é possível. E se possível, que esse encontro virtual seja transmitido e mostrado ao público», escreveu ontem na rede social Facebook, acrescentando que: «Se esse encontro não acontecer, Nyusi será responsável pela falta de paz e tranquilidade em Moçambique», acrescentou Venâncio Mondlane.

A situação política continua bastante instável e pode deteriorar-se se não houver um entendimento entre as partes. Ninguém sabe o que poderá acontecer a partir do dia 23 de dezembro quando o Conselho Constitucional (CC) proclamar os resultados oficiais das eleições gerais. A afirmação de que está a «trabalhar afincadamente para alcançar a verdade eleitoral» não deve ser suficiente para travar uma nova onda de protestos em todo o país e, eventualmente, mais violentos. O candidato do Podemos voltou a dizer esta semana que apresentou ao CC os editais de 11 províncias onde foi o mais votado. Consciente de que a situação se pode agravar, Venâncio Mondlane pediu que se suspendam as festas de Natal e Passagem de Ano «vamos perder as festas. Não há festas felizes quando um povo está triste, assassinado e preso», sublinhou, e deixou um aviso aos governantes «eles devem estar em Moçambique. Se eles saírem, nós vamos ocupar».

Com o país num impasse, Manuel de Araújo, candidato da Renamo à presidência do município de Quelimane, convocou manifestações e marchas a partir desta sexta-feira. «Convocamos todos os zambezianos, em cada distrito, localidade e bairro desta vasta e rica província a erguerem as suas vozes de forma pacífica e ordeira, para exigir a reposição da verdade eleitoral», pode ler-se no comunicado divulgado pelo autarca, que não reconhece a vitória da Frelimo. A Comissão Nacional de Eleições declarou Pio Matos, candidato da Frelimo, como vencedor nessa província, o que não foi aceite pelo autarca «a Zambézia escolheu a Renamo para liderar os destinos desta província e não permitiremos que a vontade soberana do povo seja obliterada por quaisquer artimanhas ou manipulações» concluiu.