CGD impõe senhas e tempo máximo de atendimento

Banco público contratou uma empresa externa para resolver o problema de ‘filas intermináveis’. Presidente do sindicato critica medida e acusa ainda a administração da Caixa de estar a abandonar os clientes.

A Caixa Geral de Depósitos está a impor um sistema de senhas e a limitar o tempo máximo de atendimento por cliente. O alerta é feito pelo Sindicato de Trabalhadores das Empresas do grupo Caixa Geral de Depósitos (STEC). Esta foi a solução encontrada pelo banco público para «contornar as filas intermináveis de alguns balcões devido ao número reduzido de trabalhadores», diz ao Nascer do SOL Pedro Messias, presidente da estrutura sindical.


De acordo com o responsável, o banco liderado por Paulo Macedo contratou uma consulta externa que definiu o tempo que considera razoável para atender o cliente e «quando é ultrapassado o tempo vai fazendo sinal junto do trabalhador, apontando para o relógio para indicar que já está a ultrapassar o tempo». Messias lembra que, se há situações que até podem demorar cinco minutos, há outras que nem em 40 minutos conseguem ser resolvidas. «Com este sistema, o tempo médio diminui, criando-se assim um suporte estatístico que falseia a realidade, que apregoa o ‘mundo perfeito’ que esta administração quer mostrar: uma CGD bem oleada e sem tempos de espera», salienta.


Um comportamento que, segundo o responsável, está a afetar «a imagem da Caixa Geral de Depósitos, que é um banco público e como banco público tem a obrigação de ter um posicionamento e uma postura completamente diferente dos outros bancos privados». E não hesita: «Não conseguimos perceber esta ideia de afastar as pessoas de irem ao banco presencialmente.
Ao Nascer do SOL, fonte oficial da CGD esclarece que «a Caixa está a implementar um conjunto de investimentos com o objetivo de contribuir para aumentar a qualidade de atendimento e serviço aos seus clientes nos diferentes canais, nomeadamente nas suas agências», referindo que a implementação de um sistema de gestão de assuntos e de senhas enquadra-se neste objetivo.


«O sistema de senhas – que existe hoje na generalidade dos serviços – contribui para uma gestão de fluxos para cada serviço pretendido, reduzindo o tempo de atendimento e aumentando a satisfação dos clientes. No sistema implementado, o cliente pode imprimir o comprovativo do seu pedido com o número pelo qual será chamado ou também recebê-lo por SMS para o telemóvel que indicar. Caso opte pelo SMS, o cliente será informado quando estiver para ser atendido, permitindo-lhe gerir melhor o seu tempo enquanto aguarda», acrescenta.

Agências SMART


Outra crítica do sindicato diz respeito à implementação das agências SMART que estão a avançar em todo o território nacional. De acordo com Pedro Messias, este tipo de agências «supostamente são inteligentes e funcionam à base de máquinas. Mas quem quer levantar ou depositar dinheiro tem de ter cartão, o que muitas vezes é um entrave. E dá exemplos: «Isso acontece em zonas como Vila Velha de Ródão, onde infelizmente ainda temos muita gente analfabeta e para levantar a reforma e por não terem cartão têm de ir a Castelo Branco. Isso é impensável. A Caixa tem um papel fundamental nesta questão de coesão social e territorial. A Caixa está a perder essa matriz», salienta ao nosso jornal.


Fonte oficial do banco diz que, desde 2020 que a CGD está a implementar novos modelos de agência com o objetivo de aumentar a disponibilidade deste serviço, além dos intervalos horários habituais, estando mesmo disponível em alguns locais 24h por dia, através de máquinas automáticas. «Estes equipamentos, fáceis de utilizar, permitem depósitos e levantamento de valores mais elevados do que as tradicionais ATM, incluindo de moedas. Nos horários de funcionamento da agência, há sempre um colaborador disponível para ajudar os clientes que possam ter alguma dificuldade», refere.


Um argumento que não convence a estrutura sindical, principalmente depois de a Caixa ter apresentado lucros acumulados de 1.369 milhões de euros até setembro, uma subida de 38,7% face ao mesmo período do ano passado e de entregue ao Estado 1.527 milhões de euros, entre dividendos e IRC referentes a 2023 e 2024, chamando assim à responsabilidade o Governo, enquanto acionista do banco. «O banco não tem de ter esta postura e o Governo enquanto representando do acionista perante uma situação de fecho de agências ou de redução de serviços tem de ter obrigatoriamente uma palavra a dizer. Não se confunda isso com interferência na gestão da Caixa, o que estamos a dizer é que a CGD como banco público tem de continuar a prestar esse tipo de serviços. E o que a administração da Caixa pode dizer perante esta decisão do Governo de dizer não é que poderá não entregar tantos dividendos, mas não vai à falência», refere.


E questiona: «É isto que se pretende do banco Público? Abandonar e discriminar as populações e o interior? É assim que se respeitam os clientes e reduzem os tempos de espera na CGD? Onde fica a missão e a imagem do Banco Público? Onde está a tão apregoada satisfação do cliente? Que palavra têm o Governo, que tutela a CGD e as autarquias, que representam as populações, sobre esta realidade?»