Madeira nas mãos do Chega

As sucessivas crises políticas na Madeira estão a tornar-se numa novela sem fim à vista. Com uma repetição de resultados à vista, a estabilidade fica de novo nas mãos do Chega.

«Estamos todos nas mãos do Chega». Foi com estas palavras que um militante histórico do PSD/Madeira resumiu o futuro político na Região Autónoma depois de na passada terça-feira a oposição em bloco ter aprovado a moção de censura que o Chega apresentou contra o Governo de Miguel Albuquerque.

Com nova crise política aberta, os partidos preparam-se para mais uma campanha eleitoral, com muitas dúvidas de que os resultados de novas eleições dêm um resultado diferente do obtido em maio. Acresce que os dois maiores partidos vivem um ambiente de contestação interna. Dentro do PSD e do PS há quem queira mudar a liderança antes de um novo ato eleitoral, argumentando que essa é a única possibilidade de resolver o impasse político. O social democrata Manuel António Correia tornou mesmo pública essa intenção em conferência de imprensa, imediatamente a seguir à votação no Parlamento regional, apelando ao Presidente da República para que desse tempo a uma reorganização interna do partido, antes da convocação de eleições. No PS_os críticos não são tão vocais, mas a contestação a Paulo Cafofo é evidente.

Mas se PSD_e PS têm razões para ter dores de cabeça face à previsão de resultados que não alterem a situação política, o que nos dizem várias vozes na região é que quem tem mais razões para se preocupar sobre o que fazer no dia seguinte às novas eleições, é o Chega.

O dilema do Chega

Se há dois temas constantes no discurso político do partido de André Ventura, esses dois temas são, o combate à corrupção e afastar o Partido Socialista do poder.

Depois de ter provocado a queda do governo regional, o Chega vai confrontar-se com a escolha difícil de optar entre viabilizar um novo Governo  de Albuquerque (que não deixará de estar na condição de arguido num processo de alegada corrupção), ou um Governo de coligação de esquerda liderado pelo PS ou pelo Juntos Pelo Povo. Em suma, «o Chega vai ter que escolher se está do lado da direita, ou do lado da esquerda», diz-nos um deputado regional.

Do lado do PSD há a expectativa de que uma confirmação de Albuquerque nas urnas venha a acabar com a guerra ao social-democrata, mas ninguém consegue garantir que isso vá acontecer. Ao que o Nascer do SOL apurou, o diálogo político entre os dois partidos nunca deixou de existir, apesar da hostilidade demonstrada em público. É com base no sucesso de entendimentos passados, como o que permitiu que o Chega tivesse deixado passar o programa de governo em junho, que no PSD/Madeira se acredita que André Ventura desista de apontar a mira a Albuquerque.

Segundo fontes sociais-democratas ouvidas pelo nosso jornal, a aposta numa trégua com o Chega depois das eleições assenta muito na previsão de que o partido mantém o score eleitoral ou até pode descer.

Eleições antes do Carnaval?

Tanto Miguel Albuquerque, como Paulo Cafofo, apressaram-se a dizer à saída do encontro com o ministro da República, esta quinta-feira, que querem eleições o mais rapidamente possível. A marcação para a audição dos partidos por Ireneu Barreto, apenas dois dias depois da votação da moção de censura, foi vista pelos partidos como um sinal de que o processo será rápido.

As audiências com o ministro da República são um passo obrigatório antes de o processo chegar às mãos do Presidente da República. Na leitura dos responsáveis políticos da região, a rapidez de Ireneu Barreto em «despachar este procedimento» é feito em consonância com Marcelo Rebelo de Sousa que agora tem caminho livre para convocar os partidos, não necessitando de atrasar o processo. Miguel Albuquerque e Paulo Cafofo apostam em eleições antes do carnaval, a 16 ou a 23 de fevereiro, o que significa que estão a contar com uma decisão de Marcelo ainda antes do fim do ano.

A pressa  dos  dois líderes regionais prende-se sobretudo com a necessidade de evitar discussões no interior dos dois partidos. Eleições em fevereiro impedem eleições internas.

Tal como António Costa fez na campanha eleitoral de 2022, Miguel Albuquerque prepara-se para fazer campanha com o Orçamento Regional para 2025, chumbado pela oposição, debaixo do braço.

Com o argumento de que as boas notícias para os madeirenses não vão chegar porque os partidos da oposição não deixaram, o líder do PSD/Madeira não se vai cansar de dizer que não há aumentos salariais, nem descida de impostos porque as contas para 2025 chumbaram no Parlamento regional.

A seu favor, Albuquerque conta também com os últimos dados  da economia na Madeira, divulgados esta semana. O crescimento do PIB e o aumento do emprego no último ano, são duas boas notícias para o Governo demissionário em véspera de eleições.

«Falar pouco do PSD e muito dos resultados de governação» é a aposta para a campanha no terreno, «do PSD só se vai falar, para dizer que somos o garante do equilíbrio, da experiência  e da estabilidade», garantem-nos.

Tal como aconteceu em maio, Luís Montenegro não se deverá juntar à campanha. O primeiro-ministro que esta semana voltou a acusar o Chega e o PS_de conluio na Madeira, ainda não terá falado com Miguel Albuquerque, mas deverá fazê-lo nos próximos dias.