Ano Novo. Marcelo evita falar da Madeira

O silêncio presidencial, que evitou abordar a moção de censura que derrubou o Governo Regional, levanta questões sobre o papel do Presidente como mediador em tempos de crise.

Enquanto o país brindava a um novo ano, uma ausência flagrante fazia-se ouvir na penúltima mensagem de ano novo de Marcelo_Rebelo de Sousa. Entre apelos à estabilidade política e elogios à resiliência nacional, ficou de fora um dos assuntos que mais tem gerado impasse e instabilidade nos últimos meses: a crise política na Madeira.

A omissão deliberada de Marcelo pode ser interpretada como uma tentativa de evitar inflamar ainda mais as tensões políticas, na sequência da moção de censura ao Governo Regional aprovada em 17 de dezembro.

Ao mesmo tempo, a decisão levanta questões sobre o papel do Presidente como mediador e representante de todo o território nacional. A mensagem de Ano Novo é, tradicionalmente, um momento para refletir sobre os desafios do país e traçar linhas de ação para o futuro. Esta omissão pode ser vista como uma oportunidade perdida para reconhecer e abordar uma crise política que ameaça a estabilidade na região autónoma. O silêncio sobre a Madeira pode abrir um precedente preocupante, já que, em tempos de crise, o papel do Presidente é o de mediador e comunicador.

Questionado pelo Nascer do Sol, Marcelo Rebelo de Sousa desvaloriza a gravidade da omissão e justifica-a com o facto de «ser uma indelicadeza» tocar no assunto, antes de ouvir os partidos representados na Assembleia Legislativa da Madeira a 7 de janeiro.

Segundo uma nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado vai ouvir na próxima terça-feira, a partir das 13h, os partidos políticos representados no parlamento madeirense, pela seguinte ordem: PSD, PS, JPP, Chega, CDS-PP, IL e PAN.

O chefe de Estado já tinha anunciado que iria ouvir os partidos representados na Assembleia Legislativa Regional da Madeira no início de janeiro e convocar o Conselho de Estado, após ter recebido o representante da República para esta região autónoma, Ireneu Barreto.

Recorde-se que compete ao Presidente da República «dissolver as Assembleias Legislativas das regiões autónomas, ouvidos o Conselho de Estado e os partidos nelas representados», de acordo com o artigo 133.º da Constituição da República.

Uma Mensagem de Unidade… incompleta

No seu discurso de final de ano, Marcelo apelou à unidade e à cooperação entre partidos e instituições, mas vozes críticas consideram que o silêncio sobre a Madeira enfraquece o impacto destas palavras de união.

Se se considerar a mensagem de Ano Novo como um reflexo das prioridades do Chefe de Estado, pelo menos uma menção à crise na Madeira seria o suficiente para demonstrar que o tema não é apenas uma nota de rodapé nas prioridades nacionais.

Este deslize, num momento crítico para a Madeira, coloca em evidência os desafios de uma liderança nacional que, por vezes, parece hesitar em reconhecer o momento certo para se chegar à frente.