Uma sondagem recente sobre as tendências do eleitorado português demonstrava uma pequena subida da AD aparentemente à custa do Chega e da IL, um ligeiro decréscimo do PS (quiçá igualmente contribuindo para a subida da AD), e uma estabilização da restante esquerda, face a resultados anteriores. Perante tais resultados, acredito que os sinos tivessem tocado a rebate, quer ali para os lados do Rato quer nas sedes dos partidos da esquerda radical, todos a constatar como absolutamente infrutíferas, em termos de potenciais ganhos de votos, as ações de rua que recentemente têm levado a cabo.
Estremunhados, devem ter esfregado os olhos umas 10 vezes e repetido outras tantas – como é possível? Somos os campeões das mobilizações das ruas, tantas greves que temos feito a desmascarar este Governo radical de direita e o povo não compreende? Eu diria que até estarão com sorte, porque se a sondagem tivesse sido feita depois deste fim de semana, onde a seguir às ‘manifs’ da esquerda ‘contra o racismo e xenofobia (e jamais contra a PSP)’, logo seguida por umas cenas de facadas exatamente na Rua do Benformoso em que estiveram envolvidos cidadãos ‘estrangeiros’ (Público ‘dixit’), porventura o povo português ainda teria reforçado as tendências de voto na direita.
Muito a sério, aquilo que me impressiona mais é que a esquerda parece fechada nos seus sonhos e absolutas certezas, raramente abrindo os olhos a tentar perceber a realidade que os rodeia. No seu programa televisivo semanal, Luís Marques Mendes dizia, por estas ou outras palavras e a propósito da escola pública, uma realidade que se mete pelos olhos dentro: «As greves (e baixas) a mais não contribuem para prestigiar a escola pública, na verdade só prejudicam a sua imagem». Eu acrescentaria que as greves prejudicam (i) na educação, os que não têm posses para estudar no privado, (ii) na saúde, quem não consegue ter acesso aos seguros de saúde (cujo negócio sobe exponencialmente nos últimos anos), e (iii) nos transportes, quem anda nos transportes públicos e deles depende para ir trabalhar.
Todos estes, ou seja, aqueles que penam com tantas greves, acabam por ficar a pensar se realmente as mesmas e suas sucessivas repetições farão sentido e, seguramente uns quantos, começa-se a questionar sobre se os argumentos aduzidos para a sua realização (normalmente absolutamente pertinentes) afinal não se reduzem a uma única razão: a AD está no Governo e o verdadeiro objetivo é descredibilizar o Governo, tudo valendo para minar a sua governação.
Regresso ao exemplo da ‘manif’ do passado dia 11 de janeiro que juntou figuras gradas da esquerda como Alexandra Leitão, Rui Tavares, João Ferreira e Mariana Mortágua, porque constitui, em si, um desses exemplos flagrantes. Houve nos últimos 20 anos diversas situações similares, mas que nunca provocaram qualquer reação a estes pseudo-revoltados. Estando a AD no Governo, alguém se lembrou de criar artificialmente um facto político para mais uma daquelas ‘manifs’ ocupar espaço na comunicação social e criar artificialmente uma revolta popular. Os trágicos acontecimentos no dia seguinte com 7 feridos hospitalizados, foram um autêntico ‘tiro pela culatra’ e vieram repor uma realidade indiscutível – a pertinência da atuação policial.
Esta esquerda precisa de refletir, sobretudo o PS, enfeudado a PNS e Alexandra Leitão (ora designada candidata à Câmara de Lisboa). É tamanho a afã de se constituírem baluartes da esquerda, procurando esvaziar o Bloco e PCP, que ainda não perceberam que o PS se constituiu como referência quando defendeu os princípios da social-democracia, em que ocupando o centro político do país nos governava (bem ou mal é outra estória).
Lá diz o povo que ‘pior que o cego é aquele que não quer ver’, sem esquecer a objetiva contribuição desta cegueira para o paulatino crescimento da direita radical, ávida de pretextos para os seus combates ideológicos que lhes têm sido dados de mão beijada.
A cegueira da esquerda
Esta esquerda precisa de refletir, sobretudo o PS, enfeudado a Pedro Nuno Santos e Alexandra Leitão…