Alexandra Leitão. A mulher que deu uma ‘nega’ a Costa

A “aluna brilhante” de Marcelo Rebelo de Sousa que passou do Governo ao parlamento e agora quer conquistar Lisboa. Há quem a chame “conflituosa”, mas ela prefere “determinada”. Conheça Alexandra Leitão, o braço direito de Pedro Nuno Santos e candidata à autarquia.

“Jornada académica com sucesso. Mais uma professora virada para o futuro: Alexandra Leitão. Vai ouvir-se falar dela, em vários tablados, universitários e institucionais». O apontamento de Marcelo Rebelo de Sousa, numa crónica no Nascer do SOL, a 21 de janeiro de 2011, já preconizava o que viria a ser uma carreira de sucesso para a « professora universitária de Direito e jurista» – como prefere ser chamada. Mas Alexandra Leitão não é apenas uma mulher de leis, é também uma mulher de ação. Na política, construiu um percurso sólido e reconhecido que agora a coloca na linha da frente para liderar a Câmara Municipal de Lisboa.

Uma aluna brilhante e com ideias próprias
Nascida em Lisboa, Alexandra Leitão licenciou-se com 16 valores na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde hoje leciona um seminário de doutoramento em Direito Administrativo, sobre digitalização e inteligência artificial. Foi também nesta academia que a atual líder parlamentar do PS se doutorou em Ciências Jurídico-Políticas, com 18 valores. Não é por acaso que é a faculdade do coração de Marcelo Rebelo de Sousa, que também chegou, em tempos, a ser seu professor.


Questionado pelo Nascer do Sol, o Presidente da República recorda aquela que foi a sua «aluna, assistente e professora colaboradora durante muitos anos», mas recusa «misturar isso com a candidatura autárquica», como não misturou «com lugares no Governo ou na Assembleia da República».
Mas quem testemunhou de perto destaca a boa relação entre ambos, que perdurou ao longo tempo. «A Alexandra foi minha aluna nos anos 89-90, no seu primeiro ano da licenciatura. Eu era docente na equipa do professor Marcelo Rebelo de Sousa, curiosamente. Ele também gostava muito dela e já partilhou essa opinião publicamente», recorda o constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia.


Uma estima também assumida por Alexandra Leitão que, em 2016 assumia à Visão que Marcelo foi «talvez a pessoa mais incontornável» do seu percurso académico.


De resto, o brilhantismo académico não passou despercebido aos professores. «Foi uma excelente aluna e sempre teve excelentes capacidades académicas. Assumo que tem grandes qualidades intelectuais e políticas e de combatividade», reconhece Bacelar Gouveia, que não poupa nos elogios: «Já enquanto a aluna era proactiva, gostava de fazer coisas. E depois tem uma postura vincada e ideias muito próprias, o que é uma coisa rara hoje em dia. As pessoas costumam reproduzir o que os outros dizem, mas ela tenta ter um discurso inovador. Isso é muito meritório».


Características que a ajudaram a conquistar o antigo colega de curso e atual marido, João Miranda, filho do constitucionalista Jorge Miranda, que também se tornou militante do PS.


De aluna a professora, Alexandra Leitão hoje divide a atividade profissional entre o Parlamento e a universidade, onde leciona. Os colegas descrevem-na como uma «colega simpática e afável» e com uma «ótima relação com os alunos».


«Tem um enorme poder argumentativo e posições vincadas. É exatamente como um professor de Direito deve ser: firme e convicto na defesa das suas opiniões», conta o professor e colega de trabalho Guilherme D’Oliveira Martins, que a conhece há mais de 20 anos.


Mas esta postura vincada e determinada também já lhe valeu o rótulo de «conflituosa», que Alexandra Leitão negou peremptoriamente. «Não procuro o confronto. Assumo-o se tiver de ser», dizia na entrevista à Visão.

O ‘não’ a António Costa e o ‘sim’ a Pedro Nuno
Certo é que ficaria conhecida pela ‘nega’ que deu a António Costa aquando do convite para liderar a bancada parlamentar do PS, após deixar o cargo de ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, em março de 2022. Uma recusa que, na altura, Alexandra Leitão justificou dizendo que tinha «um perfil mais executivo».


Mas o ‘não’ transformou-se em ‘sim’ dois anos depois, já com Pedro Nuno Santos à frente do partido. Esta semana volta a aceitar um convite do líder socialista, desta vez para encabeçar a candidatura do PS à Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas deste ano.


A sua candidatura já gerou reações no panorama político lisboeta. Jorge Bacelar Gouveia refere que «a disputa à Câmara de Lisboa ficará altamente valorizada com a candidatura» da atual líder parlamentar do PS. «Assumo isso apesar de ela não ser do meu partido», assumiu o constitucionalista em tom de boa disposição.


Já o atual presidente da Câmara, Carlos Moedas, considerou que a escolha de Alexandra Leitão representa uma «radicalização» por parte do PS, afirmando que as cidades necessitam de moderação.
Uma crítica que o deputado socialista Pedro Delgado Alves caracteriza como «fraca e descurada de conteúdo».


«Já a conheço há muitos e anos e a Alexandra Leitão tem uma formação académica e uma experiência profissional muito densa, além de uma capacidade de trabalho acima da média», refere o colega de bancada de Alexandra Leitão, que é também um seus antigos alunos de Direito. «Conhece bem a cidade de Lisboa e tem uma enorme capacidade de realização, que é essencial num cargo autárquico».


«Carlos Moedas devia era estar empenhado e focado em fazer coisas por Lisboa e pelos lisboetas, em vez de ter um discurso com falta de adesão à realidade», remata o socialista.