Aborrecimentos…

Aborrece-me ouvir gente que fala sem dizer nada.

Aborrece-me que o Governo continue sem uma ideia, sem uma direção, uma, apenas uma, para o desenvolvimento da economia portuguesa. Como detentores de uma zona económica exclusiva marítima de relevância mundial seria expectável que esse ativo nos desse enquanto nação uma direção na integração em ecossistema económico da investigação científica, ensino técnico e superior, desenvolvimento de tecnologias e política de defesa. A ZEE constitui fonte de riqueza, de emprego e de posicionamento internacional como dificilmente poderemos, no estado atual da história, ver refletida noutra área.


Enquanto a fraca política se mantiver entretida com os casos do dia a dia, das demissões de pessoas que ninguém sabe quem são, ou das rusgas policiais que dão manchetes durante semanas, esgota-se a capacidade intelectual dos nossos magníficos e brilhantes políticos para pensar em temas que estruturem o longo prazo. Esses são demasiado complexos e intelectualmente cansativos, obrigam a pensamento e planeamento e não são matéria fértil para a trica diária e infantil. Enquanto o sistema político se comporta em estado de profunda imaturidade, resta-nos esperar por uma intervenção mais política do almirante Gouveia e Melo para maior esclarecimento e incentivo em matérias tão importantes para os destinos do país.


Aborrece-me que o Governo não faça a mais pequena ideia de como se relacionar no âmbito da CPLP com o desenvolvimento do espaço lusófono em termos de posicionamento político, económico, cultural e geoestratégico. Os mais recentes acontecimentos no que respeita à tomada de posse do recém-empossado Presidente da República de Moçambique são uma demonstração clara dessa incapacidade. A lusofonia constitui um espaço territorial e populacional muito relevante e deveria ser para Portugal absolutamente primordial a intervenção socioeconómica e cultural nessa comunidade de países irmãos. O desperdício desse potencial é muito nocivo para a estratégia de Portugal no mundo. Aproveito para lembrar que o idioma português é o mais falado no hemisfério sul.


Aborrece-me ouvir gente que fala sem dizer nada. Jantei um destes dias na mesma mesa que um ex-primeiro-ministro cujas medidas, na altura em que exerceu o cargo, considerei altamente prejudiciais ao desenvolvimento da qualidade da economia e da sociedade. Nas breves palavras que trocámos percebi que continua com dificuldade em compreender a sociedade em que vivemos e continua, em minha opinião, a falar sem dizer nada. Um aborrecimento… Menos grave porque, pelo menos por agora, já não intervém nos destinos da nação. Mais preocupante são as constantes declarações do presidente da Câmara de Lisboa que insiste em falar de coisas que não existem. Nas suas palavras, Lisboa é uma cidade renovada e exemplo mundial de boa gestão municipal… Um aborrecimento esta insistência de Carlos Moedas em tentar dourar uma evidente incapacidade de gerir em mínimos aceitáveis as matérias mais relevantes para o quotidiano do cidadão. Como se não bastasse falar da sua magnifica obra (que não existe), usou o momento da pré-campanha eleitoral para as eleições presidenciais para falar da magnifica obra, nas suas palavras, que todos os portugueses conhecem, de Marques Mendes, e assim justificar pela via da obra feita o apoio declarado a essa eventual candidatura presidencial. Não tenho aqui reparos a Marques Mendes, mas, na minha opinião, as capacidades visionárias do presidente de Lisboa conseguem ver matérias que o cidadão comum tem dificuldade em percecionar. Seria importante o PCML explicar melhor a obra relevante de Marques Mendes. Para alem de um longo percurso na política e no comentário político não lhe conhecemos grandes intervenções nem grandes projetos na sociedade portuguesa. Diria…


É muito aborrecido escrever sobre matérias tão fúteis, mas a forma como os atores políticos da atualidade atuam, constitui, em minha opinião, um atentado e uma ameaça ao desenvolvimento da nação.

CEO do Taguspark, Professor universitário