O estilo de consumo mudou e com ele também alterou o negócio dos CTT. E se tradicionalmente estavam virados para a distribuição de correio hoje estão mais virados para o negócio da distribuição. Uma realidade reconhecida pela própria empresa. «Mais do que uma empresa de correio, os CTT são hoje um operador logístico de comércio eletrónico. Com a queda das receitas provenientes do correio tradicional, impulsionada pela digitalização, o setor das encomendas tornou-se um pilar importante do crescimento da empresa», refere fonte oficial.
Nos primeiros nove meses do ano passado, a receita ligada ao expresso e encomendas totalizou 330,5 milhões de euros, um crescimento de 44% face ao período homólogos e, apesar de ainda não ter superado as do correio, «o crescimento sustentado dessa área de negócio nos últimos três trimestres sugere que esse marco pode ser ultrapassado este ano».
E este ‘sucesso’ não ‘salva’ apenas os Correios. O Nascer do SOL sabe que há muitos locais de recolha de encomendas – resultado de parcerias com os CTT – que conseguem puxar clientes para o seu negócio, à medida que vão entregando as mais variadas encomendas aos clientes. A par de papelarias e de quiosques também é possível encontrar lojas de venda de peças automóveis. «Conseguimos diversificar a nossa atividade e é natural que um cliente que venha levantar a sua encomenda também opte por comprar um livro, um jornal ou revista ou, até mesmo, comprar uma raspadinha», diz um dos parceiros da empresa.
Peso das parcerias asiáticas
De acordo com os Correios, este segmento, que beneficia diretamente do aumento das compras online, «exige soluções logísticas rápidas, eficientes e flexíveis, que obrigam a empresa a reinventar-se para se adaptar às mudanças do mercado e ir ao encontro dos atuais padrões de consumo dos clientes», referindo que a «aposta na área de negócio de logística, expresso e encomendas é suportada por uma estratégia de modernização e consolidação no território ibérico que é determinante para os CTT manterem a sua relevância e competitividade no futuro».
E para dar resposta a esta aposta é natural que tenham sido realizadas operações, como a aquisição da Cacesa e a joint-venture com a DHL, o que permite contar com mais de 20 mil pontos de entrega na rede Collectt «para total conveniência de um consumidor cada vez mais adepto de soluções sel-service e de entregas ‘fora de casa’».
As parcerias com as plataformas asiáticas também têm um peso relevante no negócio das encomendas dos CTT em Portugal e Espanha. No entanto, a empresa diz que «não ditam, por si só, o seu sucesso». E justifica: «Além do aumento da procura de bens no mercado asiático, o sucesso é ditado também por players nacionais e europeus e pela ascensão da compra e venda online de bens em segunda mão».
Os dados do E-Commerce Report dos CTT revelam que o mercado das compras online de bens e serviços ultrapassou os 100,6 mil milhões de euros na Península Ibérica em 2023 devido não só ao aumento da procura de bens do mercado asiático, como pela venda online de produtos em segunda mão. De acordo com o mesmo relatório, o mercado português de e-commerce gerou 11,1 mil milhões de euros, mais 8,8% do que em 2022, enquanto o mercado espanhol gerou 89,5 mil milhões de euros, com um crescimento de mais 10% em comparação com 2022. «É certo que a entrada dos e-sellers chineses no mercado europeu ajudou a aumentar as compras online, criando novos hábitos de consumo e reforçando os já existentes, trazendo mais pessoas para o comércio eletrónico. No entanto, acreditamos que ainda existe muito espaço para crescer no mercado ibérico, vindo este crescimento de e-sellers de diferentes geografias. Estamos confiantes que a adoção das compras online continuará a crescer, à medida que a oferta transfronteiriça, mas também local, for crescendo», acrescenta fonte oficial dos Correios.
Onde recolher as encomendas
A rede Collectt conta atualmente com mais de 20 mil pontos Pick & Drop «para uma distribuição que garante um serviço de proximidade mais sustentável» e a empresa afirma que «continuará a ser ampliada numa lógica de melhoria contínua da experiência do cliente».
Os Correios explicam que, em Portugal, a rede é composta por praticamente quatro mil pontos de recolha espalhados por todo o território, onde se incluem as lojas e pontos CTT, agentes Payshop e ainda pelos mais de mil cacifos Locky instalados de norte a sul do país. Quanto às parcerias (pontos CTT e agentes Payshop), a maioria diz respeito a papelarias/tabacarias e quiosques (33%). Seguem-se os protocolos com Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais (17%), e cafés (16%). Já em Espanha, a Collectt Express é suportada em redes parceiras com importante penetração no território, com mais de 16 mil pontos.
«O crescimento cada vez mais acelerado do comércio eletrónico, responsável pelo forte aumento do envio de encomendas, prova que os consumidores são cada vez mais digitais e escolhem fazer grande parte das suas compras online. O perfil de consumo online, sobretudo para as novas gerações que são nativas digitais, exige rapidez, conveniência e simplicidade, com opções de entrega (e devolução) que se adaptem ao seu estilo de vida, tornando a entrega tão conveniente como a compra. Este é, aliás, um dos fatores determinantes na escolha dos sites onde os clientes compram», explica a empresa.
Esta subida do negócio também exige adaptações de horários, daí os Correios apostarem em entregas também ao fim de semana. No entanto, neste momento, as entregas ao domingo ainda estão limitadas às áreas de maior densidade populacional, essencialmente Lisboa e Porto. «O serviço foi implementado em abril do ano passado, precisamente para acompanhar a evolução e exigência que resultam do crescimento do e-commerce». Ainda assim, admite que as entregas aos domingos podem vir a ser implementadas noutras localidades, se assim se justificar.