Após uma semana de aparente acalmia em Maputo, voltaram ontem os protestos violentos, com a polícia a dispersar os manifestantes a tiro.
Os acessos à portagem de Maputo, principal entrada e saída da capital moçambicana, foram totalmente bloqueados por manifestantes que se opõem ao regresso do pagamento de portagens na N4, a principal estrada que liga Maputo à África do Sul, através da fronteira de Ressano Garcia, que tinha sido suspenso nas últimas semanas devido aos protestos pós-eleitorais.
Os manifestantes colocaram um autocarro articulado e vários veículos pesados a bloquear o trânsito nos dois sentidos, enquanto outros queimaram pneus e colocam pedras na via, numa demonstração de descontentamento com uma medida que consideram injusta.
O bloqueio durou hora e meia até que a polícia interveio e disparou sobre os manifestantes para reabrir os acessos à portagem. Desde o início dos protestos que o comportamento violento da Polícia da República de Moçambique tem sido muito criticado, o que pode estar na origem da exoneração de Bernardino Rafael das funções de comandante-geral da polícia. Esta via rápida é considerada vital no Plano de Desenvolvimento do Corredor de Maputo, impulsionando o crescimento económico regional e a conectividade com outros países, sendo também o corredor usado para fazer a exportação de minérios sul-africanos através do litoral moçambicano.
A portagem é explorada pela concessionária sul-africana Trans African Concessions, que justificou o regresso das portagens com forma de financiar a construção, modernização e manutenção de estradas, garantindo padrões internacionais.
O candidato presidencial derrotado Venâncio Mondlane já tinha apelado ao não pagamento de portagens no país. «Muitas das vias estão em estado desastroso o que ofende a ideia de benefício de serviços», justificou, adiantando que «não houve consulta pública sobre essa cobrança e não se respeitou o princípio da via alternativa». Num documento divulgado esta semana com 30 medidas que pretende ver implementadas nos próximos 100 dias, Mondlane voltou a exigir o fim das portagens em todo o país.