O mundo na encruzilhada

O planeta está há algum tempo numa encruzilhada. Há como que uma expectativa, que já tem alguns anos, de que alguma coisa de verdadeiramente importante aconteça. Trump e Musk são a resposta a esse sentimento. Existe a convicção de que, juntos, serão capazes de mudar o mundo. Mas para onde?

A eleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos da América dividiu a Europa e o mundo. Na Europa, o ceticismo é muito grande; no mundo, a expectativa é enorme. Para muita gente na Europa, Trump representa uma ameaça; para muita gente fora da Europa, Trump significa uma esperança.
Percebem-se estes dois sentimentos.
A Europa está ainda muito influenciada pelas ideias socialistas e sociais-democratas, e mais recentemente pelo politicamente correto – a cultura woke, curiosamente importada dos EUA – e Trump é talvez o símbolo maior da oposição a essas ideias e a essa cultura. E, reconheça-se, fá-lo abertamente, corajosamente, sem meias palavras, de peito aberto, pegando o boi pelos cornos.
Mas Trump é mais do que isso.
De certa forma, hoje por hoje, é a figura mais messiânica do planeta. Aquela de quem se espera que faça tudo, que resolva tudo, da guerra na Ucrânia à paz no Médio Oriente.
A expectativa à volta de Trump é agora bastante maior do que no primeiro mandato, pois juntou-se-lhe outra figura planetária que parece ter tanto de excêntrico como de realista e pragmático: Elon Musk.
E a associação destes dois homens é pólvora.
São dois voluntaristas típicos, que como todos os voluntaristas podem demover montanhas mas também cometer erros gigantescos.
Para Musk, o mundo parece um brinquedo. O modo aparentemente simples como se tornou o homem mais rico da Terra, ou como entrou no negócio espacial colocando no espaço 7400 satélites, ou interveio nas telecomunicações comprando uma das redes mais influentes do globo, o Twitter, mostram que atua a nível planetário como uma criança brinca com um boneco. O planeta, nas suas mãos, é pequeno.
Todos percebemos que, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e da implosão da URSS, o mundo tinha entrado numa encruzilhada. Numa espécie de paz podre, que dois acontecimentos recentes vieram desafiar: a ascensão da China e a invasão da Ucrânia. Foram dois acontecimentos que abalaram certos equilíbrios que se julgavam estáveis e desinquietaram a Europa e o mundo. Ora, se Trump foi uma primeira resposta a essa nova situação, o par Trump-Musk é o desafio final.
Esta dupla, se por um lado pode representar para muita gente uma enorme esperança, por outro significa um enorme perigo. As ascensão do nazi-fascismo nos anos 30 também fascinou muitos milhões de seres humanos. A concentração de um grande poder num homem só é sempre um risco. E quando esse poder é elevado ao quadrado o risco é gigantesco. A expectativa que Trump e Musk estão a criar à sua volta pode levá-los a cometer grandes loucuras.
É certo que a América tem uma forte tradição democrática e mecanismos de controle do poder que aparentemente a colocam ao abrigo de eventuais abusos. Mas não é menos certo que se trata de um país novo, fervilhante, carregado de energia, de grandes misturas sociais e étnicas, que pode ser arrastado para fenómenos de massas incontroláveis. E a radicalização que se tem observado nos últimos anos na sociedade americana, com posições muito exaltadas e extremadas, e que já a colocou não muito longe da guerra civil, pode ser um terreno fértil a excessos.
O planeta, como se disse, está há algum tempo numa encruzilhada. Há como que uma expectativa, que já tem alguns anos, de que alguma coisa de verdadeiramente importante aconteça. Trump e Musk são a resposta a esse sentimento. Existe a convicção de que, juntos, serão capazes de mudar o mundo.
Resta saber por quanto tempo se manterão lado a lado, até porque já defenderam ideias diferentes ou mesmo opostas. Trump dizia-se um adversário da globalização e de alguns dos seus malefícios, Musk é um produto da globalização e um dos seus motores. Musk enriqueceu à custa dos carros elétricos, Trump reafirma a sua aposta nas energias fósseis.
Como é que dois homens que trilharam caminhos tão diferentes, e com personalidades tão vigorosamente vincadas, podem colaborar e agir no mesmo sentido?
O mundo entrou esta semana num tempo de tremenda expectativa e incerteza. Nunca nos últimos cinquenta anos as incógnitas terão sido tão grandes.