Portugal é maior que Espanha e cerca de 4 vezes maior que a Alemanha quando a Zona Económica Exclusiva Marítima dos países é adicionada à respetiva componente continental.
Defendo o alinhamento estratégico da economia portuguesa com esse ativo há mais de 2 décadas. No livro Mudar Portugal por uma Revolução Inteligente que publiquei em 2008, explico logo no início do 1.º capítulo a oportunidade mesmo aqui ao lado.
O potencial económico e geopolítico é colossal. Por incrível que pareça, num país que gostava de ser rico mas é apenas remediado, a classe política tem sucessivamente negligenciado esse alinhamento estratégico. Já podíamos ser os campeões mundiais em aproveitamento de energia das ondas, marés e correntes, os campeões mundiais da piscicultura em alto mar, os mais relevantes marinheiros da NATO ou de uma força europeia militar conjunta, e os principais cientistas na descoberta e utilização de novas moléculas para diversos fins científicos.
Tenho muita dificuldade em entender a forma básica como Luís Montenegro se recusou a alinhar com toda a convicção e visão estratégica ao desafio que a NATO através do seu secretário-geral trouxe a Lisboa de solicitar a Portugal uma posição de maior investimento na defesa. É uma das maiores oportunidades de crescimento da importância económica e geopolítica do nosso país. Montenegro ficou a olhar sem ver.
Nunca reconheci a Luís Montenegro o rasgo necessário para levar Portugal a uma rota distinta do marasmo económico, burocrático e social em que nos encontramos. Tem qualidades ilusionistas que fazem com que alguns ainda andem convencidos das suas competências de governação. É conhecida a evidente habilidade oratória de Luís Montenegro desde os tempos em que foi líder parlamentar do PSD durante o governo de Passos Coelho. Funciona muito bem nas quezílias mordazes do quotidiano parlamentar de picardia à moda do teatro de revista. À medida que vamos conhecendo melhor a qualidade (ou a falta dela) de uma crescente amostra dos deputados (que os eleitores efetivamente não conhecem) fica bem explicada a impossibilidade de debates ou conversas que envolvam matérias de interesse estratégico e possam constituir base para o planeamento da evolução da sociedade e da economia Portuguesa. Esse é o território em que a maioria dos parlamentares que usam da palavra se sentem confortáveis. Apesar da sua inequívoca boa educação a zona de conforto de Luís Montenegro é no meio da vivacidade da culpabilização do adversário.
Considero nocivo que a Assembleia da República se tenha transformado numa arena de confronto de egos e tenha maltratado a missão mais nobre de projetar o país a décadas, legislando nesse sentido, apoiando e escrutinando o Governo nesse desígnio. A forma como as listas de deputados são montadas (totalmente controlado pelo aparelho partidário sem qualquer critério de mérito) e os salários que são pagos aos políticos constituem entrave natural à captação dos melhor preparados para apoiar a governação do país. É muito grave para Portugal que tão importante missão esteja prisioneira de tanta inaptidão e desmazelo.
Considero existir uma pequena, muito pequena, janela de oportunidade na eleição do próximo Presidente da República. O perfil de um humanista, com noção da importância do oceano e da necessidade de investimento em inovação tecnológica a ocupar o Palácio de Belém trará um contributo positivo ao descolar do marasmo em direção ao crescimento. Esperemos que os portugueses entendam…
CEO do Taguspark, Professor universitário