Pedro Passos Coelho, como qualquer outro chefe de governo do mundo, não fez tudo bem, mas fez duas ou três coisas pelas quais o país lhe vai agradecer por muitos e muitos anos.
Mesmo que ninguém o queira reconhecer, nem mesmo em muitos casos os da sua cor política, se não fosse pela ação e coragem do antigo primeiro-ministro, hoje, todos nós poderíamos estar metidos numa bela caldeirada, a ver as famosas contas certas por um canudo.
Esta semana Passos Coelho foi a tribunal no âmbito do processo BES. Respondeu sobre a sua decisão de não intervir para evitar a falência daquele que era, na altura, o maior banco privado português. Por duas vezes, em abril e maio de 2014, Ricardo Salgado foi a São Bento pedir ao primeiro-ministro que o salvasse. Por duas vezes a resposta foi: ‘Não’. O dono do BES nunca imaginou ouvir tal resposta de um responsável político português.
Durante anos se especulou sobre a forma como Salgado punha e dispunha no país. No governo, na oposição, na comunicação social. Tinha o dedo em tudo, não por acaso recebeu a alcunha de Dono Disto Tudo (DDT).
Foi com esse estatuto que se permitiu conduzir o BES a uma situação financeira insustentável. Tinha a certeza que quando fosse preciso, nenhum político teria a coragem de lhe dizer que não. Até porque tinha por hábito ter infiltrados em todos os governos, de esquerda ou de direita. Mas Passos Coelho fê-lo, assumindo todos os riscos da sua decisão. Enquanto foi chefe do governo assumiu o lema: o risco é a minha profissão. O banco caiu com estrondo e com prejuízos graves para muitos dos seus clientes. Mas o país e, sobretudo os portugueses, não caíram com o BES. Se isso tivesse acontecido, ainda hoje estaríamos todos a pagar e a nossa vida, que não está fácil, estaria muito pior. Como disse em tribunal «achei que a minha decisão era o que melhor servia o interesse nacional». Foi muito criticado, ainda hoje há quem não lhe perdoe. Mas o país devia agradecer-lhe.
Para a história o ex-primeiro-ministro ficou conhecido como aquele que quis ir ‘para além da troika’. É certo que as suas características pessoais e a sua forma de fazer política não o ajudaram na criação de uma imagem positiva junto dos portugueses, particularmente junto dos que foram mais prejudicados com as medidas que teve de tomar. Mas um olhar objetivo devia levar-nos a estar reconhecidos a alguém que preferiu assumir-se como o mau da fita, para entregar um país anos-luz melhor do que recebeu. Um país que, apesar do pouco que aproveitou, vive ainda hoje à custa dos resultados da execução eficaz do programa da troika.
Ainda hoje, em 2025, vivemos dos rendimentos da governação sacrificada de um Passos Coelho obstinado em recuperar a independência nacional.
Finalmente e sobretudo nos tempos que atravessamos, devemos a Passos Coelho a integridade, discrição e dignidade com que está na vida pública. Também isso é um serviço ao país, o maior exemplo de que os populistas não têm razão quando dizem que ao longo de cinquenta anos foram todos iguais. Não, não foram e o exemplo de Passos Coelho está aí para o provar.
E já agora, sempre que Passos Coelho aparece percebe-se bem a diferença entre um político sério e um político oportunista. Por mais que André Ventura se esforce aos gritos no Parlamento com a jugular aos saltos de indignação.