A atividade de político eleito em exercício de funções acarreta a normal consequência de um enorme escrutínio e debate sobre medidas propostas e executadas. Tem, contudo, uma outra consequência relativamente antipática para os visados, mas essencial ao contrato de confiança entre eleitos e eleitores, que passa por um crescente escrutínio da vida pessoal dos visados.
Os testes de transparência, seriedade e coerência dessas realidades são um elemento essencial na rota da eliminação da crescente desconfiança relativamente aos políticos. Os políticos são alvo de de acusações, muitas vezes gratuitas e infundadas, de corrupção e más práticas. Essa é, na teoria, uma situação própria de sociedades eticamente subdesenvolvidas. A atividade política é demasiadamente importante para ser tão maltratada. Neste clima de desconfiança não me parece haver grande alternativa que não seja uma maior predisposição dos eleitos para uma maior exposição do seu passado económico. Se o currículo de funções e formação é relevante para o conhecimento e avaliação das capacidades dos políticos, também a divulgação do currículo económico deveria, em tese, servir para um maior conhecimento, mais transparente, das pessoas em causa. É o ponto a que infelizmente chegámos, mas considero essencial desenvolver mecanismos de aumento de confiança entre a sociedade e os seus políticos. O caminho que temos vindo a percorrer não tem, regra geral, gerado resultados dos quais nos possamos orgulhar.
Nesse contexto e com esses princípios em mente, e face às diversas notícias sobre os negócios privados do primeiro-ministro em exercício, Luís Montenegro, que deram, legitima ou ilegitimamente, azo a uma moção de censura, considero essencial um conjunto de esclarecimentos para que quaisquer climas de suspeição sobre o primeiro-ministro possam ser rapidamente dissipados.
São, em minha opinião, já alguns, e à luz dos princípios enunciados, os esclarecimentos que Luís Montenegro tem a obrigação de prestar, enquanto atual detentor do cargo de primeiro-ministro.
A forma como atabalhoadamente abriu o Websummit revelam um primeiro-ministro totalmente impreparado para falar inglês. Confesso que fiquei surpreendido com essa falha. A geração de Montenegro é uma geração que supostamente estudou inglês. Esta situação revela uma grande falha porque me parece que o primeiro ministro não está devidamente preparado para representar Portugal ao mais alto nível em contexto internacional. Desvaloriza-se a si e desvaloriza o país. Essa falha leva-me a um enorme dilema. Na página oficial do PSD consta que Luís Montenegro (https://www.psd.pt/pt/luis-montenegro) tem um programa avançado em gestão pelo INSEAD. É esquisito como terá sido possível a alguém que, manifestamente, não fala Inglês, ter realizado esse programa no INSEAD. Gostaria de ouvir da parte de Montenegro uma explicação para que este dilema e incongruência (relevante) ficasse claro para todos.
Quanto às notícias que foram publicadas sobre uma empresa onde é sócio que abriram um enorme debate sobre a respetiva conformidade com o regulamento do próprio Governo, devem ser completamente respondidas para que não pairem sobre o primeiro-ministro de Portugal, desconfianças nomeadamente quanto à origem dos fundos provenientes da faturação apresentada por essa mesma empresa.
A única forma de eliminar o preconceito de que ‘onde há fumo há fogo’ é através do esclarecimento transparente sobre essas matérias que, queremos crer, não constituirão qualquer embaraço a Luís Montenegro.
Quanto ao partido Chega e sobre estas matérias…. Não há palavras para a indignação. Chega do Chega.
CEO do Taguspark, Professor universitário