As (ir)responsabilidades de Luís Montenegro

Fico altamente surpreendido como a clubite partidária contaminou tantos advogados da ética e transparência. De Hugo Soares a Carlos Moedas…

Em minha opinião Luís Montenegro tem-se comportado de forma absolutamente irresponsável no que diz respeito ao modo como conduziu a sua atividade empresarial. A lista de falhas éticas e porventura legais que jornalistas, adversários e ordens profissionais legitimamente lhe apontam, constitui base suficiente para lhe apontarmos um nível pouco aceitável de ligeireza ética e irresponsabilidade na gestão de temas tão relevantes. Essa irresponsabilidade associada a uma teimosia em querer fazer crer, a quem suscita duvidas, legitimas, que tudo está respondido e esclarecido, adensam o clima de suspeição sobre matérias não conhecidas: clientes, trabalhos realizados, montantes cobrados. A trapalhada que tem apresentado não abona nem a favor da avaliação da sua estrutura de competências nem da sua ética.


Para que fique claro e não fiquem dúvidas sobre a fonte de suspeição: Luís Montenegro quer encobrir fontes de financiamento que poderão condicioná-lo, por via de favorecimentos, na sua função de primeiro-ministro? Esta é a desconfiança.


Se Luís Montenegro quisesse, esclarecia de uma forma clara, ética e profissional. Solicitava a uma entidade independente e certificada para o efeito um due dilligence (auditoria) à sua empresa. Assunto resolvido.
Em função dos resultados dessa auditoria, retiravam-se as consequências políticas. Ora Luís Montenegro, prefere, em minha opinião, a opacidade à transparência e torna-se responsável por mais um pântano político, levando de uma forma completamente irresponsável o país para novas eleições, sem ter tido a honestidade de esclarecer o que na base constitui a origem desta enorme trapalhada, da qual é o único responsável.


Fico altamente surpreendido como a clubite partidária contaminou tantos advogados da ética e transparência. De Hugo Soares a Carlos Moedas passando pela maior parte dos dirigentes, todos se recusam, na minha opinião, a olhar para este tema com um olhar sério. A forma como tratam este tema (que está longe de estar encerrado) coloca em perigo a sustentabilidade do PSD; estão a colocar em perigo o partido fundado por Francisco Sá Carneiro. São a geração destruidora desse capital. Uma profunda falta de responsabilidade. Enquanto não esclarecer o que necessita ser esclarecido não tem, na minha leitura, condições de ser presidente do PSD e muito menos de ser primeiro ministro.


A sucessão década após década, legislatura após legislatura, deste tipo de situações deveria levar-nos a pensar, de forma séria e alicerçada, na forma como escolhemos e elegemos os gestores do bem comum. Os políticos que legislam e governam. Estamos perante sucessivas demonstrações (de todos os quadrantes) de uma enorme falta de ética, capacidade de trabalho, e formação. Se não mudarmos, a tendência é, evidentemente, continuar a degradação em curso. Quando achamos que não é possível piorar, alguém se encarrega de contrariar e demonstrar que a descer ‘todos os santos ajudam’. Desta vez foi novamente o primeiro-ministro, o responsável.


Em vez de falarmos e debatermos a causa comum, o destino do país, a estratégia de posicionamento económico e geopolítico de Portugal, andamos a falar das trapalhadas da vida privada de Luís Montenegro… Uma verdadeira seca.

CEO do Taguspark, Professor universitário