O pai do Sol

O semanário SOL foi feito à sua imagem: irreverente, audaz, livre, mas também acessível, e prático

Esta quarta-feira celebrou-se o dia do pai. Foi o primeiro em que não pude desejar um bom dia ao meu pai. Da mesma forma, foi o primeiro em que o nosso semanário não teve presente o seu.

José António Saraiva, pai do semanário SOL, foi sempre um arquiteto de excelência. Adorava imaginar, projetar e conceber as melhores obras. A mais importante e basilar foi a família extraordinária que formou, a partir da qual puderam nascer todas as outras: as casas que arquitetou, as transformações e melhoramentos aqui e ali e, claro, o irreverente e livre semanário SOL. Mais do que um arquiteto tradicional, acompanhava as suas obras de perto, mantinha-se atento e sempre a cogitar no que e como poderia melhorar. Com o seu ar circunspecto, não descansava enquanto não encontrasse a solução certa e, acima de tudo, era sempre fiel àquilo em que acreditava, custasse a quem custasse. Até a ele. Qualidade que está em vias de extinção.

O semanário SOL foi feito à sua imagem: irreverente, audaz, livre, mas também acessível, e prático. Compreensivo, um ótimo e atento ouvinte, próximo, muito humano, fiel aos seus leitores e à sua equipa que, embora em grande parte já dispersa, continua a ser como uma família. A relação entre todos sempre foi de respeito e ajuda, à semelhança da que era mantida com todos por JAS e o resto da direção.

JAS faleceu numa quinta-feira, dia de fecho do jornal – já de si intrinsecamente extenuante – quando estava tudo projetado para ao final do dia ser enviado para a gráfica. O Vítor Rainho recebeu a notícia e, fazendo justiça a todos os anos de amizade, companheirismo e admiração, alterou estoicamente, sob a pressão das horas e do pesar, juntamente com o resto da incansável equipa o jornal de uma ponta à outra.

No dia seguinte estavam lá todos para velar e homenagear o seu diretor, dos ‘pintainhos’ – por altura do nascimento do SOL ainda recém-licenciados, que com ele cresceram e aprenderam muito mais do que a fazer jornalismo – à redação, direção e todos os que numa altura ou outra fizeram parte deste jornal. JAS conseguiu juntar todos, que o recordaram de forma emocionada, carinhosa, afetuosa e já muito saudosa.

Vai fazer muita falta à família, ao jornalismo e ao país. Reunia uma série de características e qualidades que estão cada vez mais comprometidas na nossa sociedade. Era um extraordinário chefe de família, um delicioso e apaixonante contador de histórias, um excelente e paciente ouvinte, tinha uma coragem e intrepidez fora de série e, acima de tudo, era estoicamente fiel aos seus pensamentos e convicções. Da mesma forma esperava o mesmo dos outros, ainda que tivessem ideias opostas, que respeitava e valorizava como as suas, porque era, sem dúvida, o exemplo máximo da liberdade de expressão e pensamento