Da Spinumviva à Spinummorta

O que é de mais enjoa e a estratégia de atacar Montenegro porque sim e porque não vai acabar por reverter a seu favor.

Desde que o país acordou com a notícia de que o primeiro-ministro tinha uma empresa imobiliária que se desencadeou no país um turbilhão de notícias. Rapidamente de agente-imobiliário-à-caça-de-aproveitar-a-lei-dos-solos-que-cozinhava-em São Bento, Montenegro passou a consultor-fantasma-de-empresas-com-quem-reunia-na-sede-do-Conselho-de-ministros. Poucos dias depois era, afinal, um consultor-fantasma-de-empresas-também investidor-a-comprar-casas-a-pronto por esse país fora, torneando regras municipais e fiscais.

 Em menos de um mês escarafunchou-se a vida do chefe do Governo por todos os lados, à procura de qualquer podre que pudesse transformá-lo num homem sombrio, que ganhou a vida a enganar o Estado e que num golpe final tomou conta do mesmo para distribuir benesses para si e para os seus amigos de negócios.

Numa coisa Luís Montenegro tem razão. Nunca nenhum primeiro-ministro foi tão escrutinado. Nem mesmo José Sócrates, apesar de tudo o que realmente já se sabia dele (cursos por correspondência, projetos de casas assinados por si e que na realidade tinham sido projetadas por outros, e mais outros pecadilhos devidamente documentados).

Quer isto dizer que nada há a apontar ao primeiro-ministro? Não. É verdade que manter aquela empresa nas mãos da mulher foi um erro e uma imprudência (palavra que Montenegro soube aplicar a Hernâni Dias e se recusa a aplicar a si próprio). E também não esteve bem nas inúmeras ocasiões em que podia ter explicado tudo do princípio ao fim, não deixando pontas soltas nem dando oportunidade a que o caso se agigantasse com dados novos a exigir novas explicações. Como dizia o famoso Esteves que Herman José criou nos anos 80: Ó senhor primeiro-ministro, não havia necessidade!

A tudo isto acresce que Luís Montenegro é um político experiente que comete um erro de principiante, o que irrita muito quem confiou nele.

Dito isto, há um salto gigante que os políticos e alguma comunicação social quiseram dar a partir do caso Spinumviva. É o que se está a passar com a proliferação de notícias/insinuações sobre os casos que se quiseram associar a Montenegro. Dizer que «não é um primeiro-ministro a tempo inteiro», ou que é um governante ‘avençado’, ou que a empresa é ‘de fachada’, são insinuações que podem cair em cima da cabeça do líder da oposição.

É por tudo isto que me parece um erro insistir nesta linha de argumentação como arma de campanha eleitoral. Mais, aqui chegados, parece-me que o grande beneficiário das acusações e insinuações manifestamente despropositadas é mesmo Luís Montenegro. Os exageros estão a fazê-lo passar de prevaricador a vítima.

Acabando com as dúvidas sobre a atividade da Spinumviva enquanto a ela estava ligado, o primeiro-ministro esclarece as dúvidas a quem realmente quer ser esclarecido: os eleitores. As explicações já começaram a surgir, com uma vasta documentação que deita por terra a maioria das suspeitas que os adversários políticos tentaram explorar.

A continuarem na estratégia do ataque ao caráter do primeiro-ministro, os principais opositores do líder da AD podem ter uma desagradável surpresa.

Sim, muita gente ficou irritada e desiludida com a história da Spinumviva, mas também já percebeu qual é exatamente a gravidade do caso. Neste momento já só quer ver a Spinumviva, Spinummorta e passar ao capítulo seguinte.