Quem trabalha e faz bem feito não precisa pedir aos outros para trabalhar. Por norma pedem-lhe para trabalhar! Quando o primeiro-ministro elege como lema ‘Deixa o Luís trabalhar’, lembro-me imediatamente daquela expressão diversas vezes pronunciada por aqueles que chamados à atenção por estarem a incomodar (muito comum quando param o trânsito a descarregar mercadorias) se justificam com a expressão ‘estou a trabalhar!!’.
O ‘estou a trabalhar’ e o ‘deixem-me trabalhar’ são, regra geral, disfarces de fraqueza e incompetência.
Quem ouviu o modo garganeiro como o atual primeiro-ministro enquanto líder da oposição resolvia em meses todos os problemas do país, passado mais de um ano facilmente conclui que a caquistocracia se instalou na presidência do PSD e do Governo. Para mim não constituiu estranheza. Percebi a impreparação, muito bem disfarçada pelo palavreado, no dia que conheci Montenegro e à mesa o secretário-geral do PSD falava na hipótese «fabulosa» de distribuir o PRR igualitariamente por cada português dando a cada um, pasme-se, €1.000.000. Na altura a minha pergunta foi simples: que nota tinham tido a Matemática no liceu… O presidente e o secretário -geral do PSD (partido com um contributo muito relevante na história da democracia portuguesa) mostraram naquele pequeno exercício não fazerem a mais pequena ideia do que é governar. Mas a verdade é que ambos falam, falam muito, dizem muita coisa, autoelogiam-se permanentemente e querem, pela insistência, fazer crer que sabem o que estão a fazer, pedindo aos eleitores para que os deixem trabalhar… Mau demais… Mais grave quando as alternativas para 18 de maio são as que são. A caquistocracia não só afetou a cúpula do PSD como contaminou muito do sistema político. Essa é, em minha opinião, a causa maior da incapacidade de Portugal evoluir. Estamos condenados a ver a caquistocracia trabalhar.
A quebra no abastecimento de eletricidade, ocorrida nesta semana veio mostrar que na história da engenharia portuguesa há trabalho muito bem feito. Foi esse trabalho do passado, que permitiu de forma muito rápida restabelecer a normalidade no abastecimento. Veio também demonstrar que em termos de evolução para um crescente aumento das necessidades energéticas, a nossa dependência face ao exterior é, na minha opinião, exagerada. Fiquei também com a ideia da inexistência de um plano com engenharia robusta para a evolução futura. Surpreendentemente o primeiro-ministro que tem demonstrado uma enorme alergia a auditorias (o caso da sua microempresa que parou o país, teria sido resolvido com uma miniauditoria), vem anunciar uma auditoria europeia e comissão técnica independente para avaliar a resiliência do sistema. É caso para dizer ‘faz o que eu digo e não faças o que eu faço’… Luís Montenegro não entendeu que a liderança pelo exemplo é a única que vigora. Tudo o resto é teatral e de pouca dura.
O dia do apagão veio também mostrar que o governo não soube promover o civismo e não usou aprendizagem recolhida nos dias COVID para garantir equidade no acesso a bens de primeira necessidade. A forma como se permitiu que açambarcadores esgotassem nos pontos de venda um conjunto de bens de primeira necessidade é também demonstrativo da ausência de visão por parte do governo. A tão elevado nível de caquistocracia, disfarçada com palavreado e insistência comunicacional está, também, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa que, apesar do orçamento anual de mais de €1.300.000.000 conseguiu nas contas de 2024 fechar com deficit de €9.000.000 numa cidade cada vez mais suja e caótica. A gestão de Carlos Moedas é do mais impreparado que já se assistiu, em décadas, na capital (e esta palavras são escritas por um não socialista). Apesar do autoelogio sobre as ações desempenhadas durante o apagão (não consegui entender quais), Carlos Moedas, uma vez mais, mostra que não entende o que é relevante na gestão de uma cidade que conhece mal, ao falhar em matéria tão simples quanto a coordenação dos principais cruzamentos com policias municipais, elementos da proteção civil ou voluntários, no sentido de evitar o caos que se instalou no trânsito pela ausência de semáforos. Quem não consegue fazer as coisas pequenas não consegue certamente fazer as grandes. Também em Lisboa a caquistocracia insiste em trabalhar…
CEO do Taguspark, Professor universitário