Nos tempos que correm é muito arriscado fazer previsões. Mesmo que sejam sobre o futuro político do país, apenas 12 meses depois de eleições.
Na véspera do dia de reflexão (uma originalidade da nossa democracia, mas que se torna muito útil em eleições a ritmo anual), deixo alguns cenários para os eleitores que vão passar este sábado a ler o Nascer do SOL.
1 – O cenário mais provável, pelo menos de acordo com as sondagens publicadas, é que tudo fique mais ou menos igual ao que estava quando Montenegro e a AD chegaram ao poder pela margem mínima. Alguns pormenores, ou por maiores, podem fazer a diferença. Consolidando-se o Chega no patamar dos 18%, ou mesmo acima disso, só um acordo do tipo bloco central pode permitir que se mantenham as linhas vermelhas. Ganhe a AD ou ganhe o PS, Montenegro ou Pedro Nuno Santos têm apenas um caminho, ou se entendem um com o outro, ou serão responsáveis pela implosão do sistema. Sabendo-se que esta é uma solução odiada por sociais-democratas e socialistas, o mais certo é que qualquer tipo de acordo seja de curta duração, com a consequente decapitação dos líderes que a protagonizarem.
2 – Num cenário menos pessimista, que as sondagens publicadas também permitem traçar, a AD e a Iniciativa Liberal conseguem eleger mais deputados do que a esquerda toda junta. Não sendo um cenário de maioria absoluta, este é o resultado menos mau que se pode ambicionar, tendo em conta a enorme fragmentação do parlamento. Se este resultado acontecer, Montenegro e Rui Rocha têm obrigatoriamente de se entender. Custe o que custar, nenhum dos dois pode fugir à responsabilidade que o eleitorado lhes deu. Talvez a derradeira antes de tomar opções mais radicais. Se resistirem à pressão internacional e nacional, podem governar os quatro anos da legislatura, e podem até salvar o sistema político tal como o conhecemos. Não é fácil, é exigente, mas é possível.
3 – O terceiro cenário, o mais improvável, é que à direita, sem o Chega, ou à esquerda, a soma de deputados dite uma maioria absoluta. Por ser o mais difícil, este é também o cenário menos complicado para os próximos quatro anos. Os riscos que a nossa democracia corre são de molde a não dificultar entendimentos e, ao mesmo tempo, há uma sensação no ar de que esta é a última oportunidade para causar uma boa impressão. Apesar das diferenças ideológicas e dos erros do passado, PSD, PS e os seus respetivos líderes, encontrarão forma de estar à altura do desafio que lhes é exigido. Quanto mais não seja, porque sabem que ou matam ou morrem e o ser humano tem sempre o instinto da sobrevivência à flor da pele.
4 – Ter ou não ter eleições daqui a um ano depende, em grande medida, de uma incógnita: que papel vai desempenhar o próximo Presidente da República? O primeiro-ministro que sairá das eleições do próximo domingo vai depender em muito de um protagonista que ainda não se sabe quem é. O atual Presidente diz que só dará posse a um governo que consiga fazer passar o programa de governo. Diz isto, porque sabe que o programa apresentado na Assembleia da República não tem de ser votado. Mesmo que o PCP, como fez na anterior legislatura, o ponha a votação, o racional, é que os restantes partidos deixem passar o programa do partido vencedor. até porque todos sabem que não poderá haver eleições até à escolha do próximo Presidente. Tudo somado, Marcelo faz de conta que ainda é Presidente, mas na realidade já não é, e a decisão sobre um berbicacho político que poderá deixar em herança, fica para o seu sucessor. É por isso que em janeiro de 2026 podemos ter as eleições presidenciais mais importantes da nossa história democrática.
raquel.abecasis@nascerdosol.pt