Na última crónica foi feito um apelo para que os cidadãos participassem ativamente no ato eleitoral e o fizessem tendo em conta o que considerassem ser o verdadeiro interesse do país, independentemente das opções ideológicas, doutrinárias ou partidárias de cada um.
Apesar de a participação ter sido inferior à verificada nas primeiras eleições democráticas, é inequívoco que os cidadãos responderam: presente.
Falta ainda apurar os resultados dos dois círculos do exterior (uma excrescência, hoje sem sentido, que se mantém na Constituição), mas já é possível afirmar que a abstenção (35,6%) foi a mais baixa dos últimos 30 anos e bastante mais reduzida em relação a 2024 (40,2%).
Mas a verdadeira abstenção, quer em 24, quer em 25, foi, seguramente, muito inferior, pois os cadernos eleitorais estão repletos de erros e sobreposições que, não pondo em causa a justeza dos resultados, inflacionam os níveis oficiais do abstencionismo.
Ao apelo para uma cidadania mais forte, aqui feito, os portugueses responderam afirmativamente.
A cidadania está pois de parabéns e com este sinal, e ao contrário do que apregoam os ‘suspeitos do costume’ e os profetas da desgraça, a democracia está bem e recomenda-se. É só preciso que não queiram ou não a possam estragar
Foi também feito um apelo à renúncia ao tribalismo, como processo habitual, de escolha eleitoral. Este apelo também foi, parcialmente, atendido.
Na realidade o Partido Socialista, o partido nuclear, não vale apenas os 23,38 % que as contas finais lhe atribuem. E é também certo que a agenda da extrema-direita, representada na votação do Chega, está muito longe de valer os 22,56% que o escrutínio, para já, lhe atribuiu.
São fenómenos passageiros que se corrigirão com o tempo, desde que os agentes políticos mais responsáveis aprendam com os erros cometidos, se afastem para dar visibilidade a novos protagonistas, com ideias novas, estratégias diferentes e entrega mais nobre à causa pública.
O povo nunca se engana e a política, como a natureza tem horror ao vazio. Se os nossos nos desencantam, vamos procurar o vizinho.
Felizmente que o percurso para o abismo, assente na instabilidade como regra, foi travado de momento.
Mas só o foi porque muitos cidadãos abandonaram as ‘escolhas da tribo’ e optaram por outras opções mais racionais e mais eficientes.
Foi um alerta e um aviso. Serão ouvidos?
A responsabilidade é agora tripartida.
Começa por ser dos partidos com representação parlamentar que tem o dever cívico e moral de evitarem novas crises e assegurarem uma legislatura de estabilidade.
Estende-se à generalidade da Comunicação Social que tem de refletir e perceber o mal que fez ao regime com a sua prática de jornalismo angustiado e sensacionalista e com o uso e abuso de comentadores enviesados, e na maioria incompetentes, que tentaram explicar ao eleitor o que o eleitor já tinha percebido.
E finalmente passa pelo PS, aqui individualizado face aos restantes atores políticos, dada a importância inigualável que tem para o regime democrático do país.
O PS falhou em toda a linha e não falhou apenas no último ano, com o ‘erro de casting’ que foi a escolha do último SG.
Não, o PS anda a falhar desde 2015, na sequência da golpada que o Costa deu ao regime com a criação de uma geringonça para seu exclusivo uso e proveito pessoal.
Chegará o dia em que se fará o balanço político, económico e social dessa época e o que se apurará não será agradável de escrutinar.
Está, agora, plenamente identificada a estratégia e conhecidos os protagonistas que, em conjunto, conduziram o PS à mais humilhante derrota da sua história.
Será o PS capaz de aprender a lição e conseguirá regenerar-se?
Pelo que se tem visto nos últimos dias não é fácil, pois não será com os protagonistas de sempre ou com os seus servidores, que se constrói o ‘novo’ que é necessário.
Mas, mais cedo que tarde, a bonança acabará por chegar. A cidadania agradece!