Como fica a TAP?

Lisboa precisa de um hub e o hub precisa da TAP. Já o resto do país não precisa do hub, mas precisa de uma TAP eficiente, gerida por quem sabe da poda e que não seja um peso para os contribuintes

Na semana passada, a convite do vice-presidente do governo Regional dos Açores, desloquei-me à Ilha Terceira. Propuseram-me um voo direto de ida do Porto na SATA e, no dia seguinte, um regresso direto na Ryanair. Por razões particulares, admiti ir à Madeira no final do mês e fiz uma busca na plataforma online de viagens eDreams. As melhores propostas em voos diretos eram da Ryanair, por 103 euros, e da Easyjet, por 137,97. Usei o mesmo motor de busca para encontrar uma alternativa na TAP, mas o voo custava 353,97 euros. Admiti que pudesse ser mais barato se reservasse diretamente, mas o site da companhia portuguesa indicava um preço ainda mais caro: 380,15 euros. 

Pequena amostra, dirá o leitor, mas comprova que a TAP não serve o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, em particular para os destinos que podem ser de interesse público. Nem serve os interesses de quem vive longe de Lisboa, o tal hub que este Governo quer proteger com a TAP. E falo das regiões autónomas porque, para outros destinos, temos felizmente todas as alternativas que o mercado nos proporciona, através de companhias aéreas que não precisam de subsídios.

Sim, eu sei que a TAP é fundamental para o hub de Lisboa. E para o novo aeroporto, que, por seu turno, tem uma importância crucial para o futuro da TAP. É a tal estratégia da ‘pescadinha de rabo na boca’, que cria um círculo vicioso. Acontece que os 3,6 mil milhões de euros que resgataram a TAP foram pagos por todos os contribuintes…

Está o Governo a fazer bem, ao avançar para a privatização de uma posição minoritária da TAP? Direi que está a ser realista, porque Chega e PS não permitiriam a privatização total, que seria a melhor solução para a empresa e para todos nós. 

Resta um problema: o PS exige que os 3,6 mil milhões de euros investidos para salvar a TAP sejam devolvidos aos contribuintes, o que condiciona a privatização. Uma incoerência porque o que o governo de então alegou foi que a injeção pretendia salvar um ativo estratégico, que perdera todo o valor financeiro. Tentar vender uma opção política é uma hipocrisia absurda. 

Há também uma tentação que condiciona esta privatização. O poder político quer continuar a decidir, a nomear os chairmen, a definir as rotas, a decidir os aeroportos, a garantir os interesses do hub de Lisboa, a negociar com os sindicatos no Ministério das Infraestruturas, a garantir o interesse da capital do império, das suas elites e clientelas. 

Dizendo a coisa de forma curta e grossa: Lisboa precisa da TAP e o resto do país que se lixe. 

Pois bem, a norte, o Aeroporto Francisco Sá Carneiro vai crescendo sem ser hub de coisa nenhuma. Com voos diretos da Azul para São Paulo e Recife e da United para Nova Iorque, já não temos de ir a Lisboa. Com tantas ligações a Madrid, Frankfurt, Paris, Amesterdão e Londres, temos acesso a múltiplos hubs naturais. 

Por outro lado, a Madeira e os Açores têm hoje, graças ao turismo, uma oferta diferenciada e já não precisam de voos subsidiados. O mesmo sucede com Faro. 

Em resumo: Lisboa precisa de um hub e o hub precisa da TAP. Já o resto do país não precisa do hub, mas precisa de uma TAP eficiente, gerida por quem sabe da poda e que não seja um peso para os contribuintes.

Deve-se à gestão privada, com Antonoaldo Neves, a inegável melhoria no serviço da companhia. E foi pena que não se tenha podido concluir a modernização da frota. Nos últimos anos, graças à injeção do Estado e ao bom ciclo que se vive no setor do transporte aeronáutico mundial, a TAP tem andado à tona. Ainda bem. Até por isso, esta é uma boa altura para reprivatizar a empresa. Se houvesse um consenso, deveria ser vendida na totalidade.