O regresso do banheiro ao Evaristo

Herdou o nome da praia e são muito poucos os que o conhecem por Vilarinho. Afastado do restaurante Evaristo, em Albufeira, desde 2010, regressa agora com os mesmos sonhos com que se iniciou em 1992.

Foi a praia que lhe deu o nome, foi nela que se tornou o banheiro mais famoso do país, e foi também aí que abriu há quase trinta anos um dos restaurantes mais emblemáticos do Verão algarvio: o Evaristo. Por motivos vários saiu da sociedade do restaurante em 2010, mas volta agora com a determinação de sempre. Ainda não é o regresso pleno, pois questões legais – um dos concorrentes à concessão interpôs uma ação contra a Câmara Municipal de Albufeira – impedem-no de abrir o restaurante de forma definitiva.

«Esta decisão [de avançar] foi de risco calculado mas, no fundo, foi pedir para reconstruir parcialmente, numa estrutura modelar e amovível – esteticamente não parece, mas é – ter uma infraestrutura que permitisse reativar o restaurante, o conceito, não na sua totalidade em termos daquilo que era a oferta do Evaristo, porque é impossível ainda este ano, mas permitir-nos, por um lado, dar apoio à praia, e segundo, assim que sair o contrato de concessão definitivo, tudo o que aqui está tem que ser novamente demolido», disse Luís Evaristo ao Nascer do SOL.

A praia do Evaristo, que fica entre Albufeira e a Guia, começou a ser explorada pelos pais de Luís Vilarinho, vulgo Evaristo, nos idos anos 80. Luís tornou-se então conhecido por ir buscar aos barcos, que estavam ao largo da praia, os clientes ou mesmo levar-lhes a comida e bebidas.
Aos poucos o projeto foi crescendo, já sem os pais, e o local tornou-se dos mais badalados de Portugal, recebendo os empresários mais bem sucedidos, os políticos de então, o mundo da bola e das artes.

Mas a concessão da praia tem toda uma história que dava um belo filme. O pai de Evaristo vendeu-a ao milionário inglês Judah Binstock, que já tinha a Casa do Castelo, que viria a ser uma das discotecas mais famosas dos anos 90. O Planet Marbella escrevia, no obituário de Binstock, que este «deixou o Reino Unido na década de 1970 após uma investigação do Departamento do Comércio sobre uma das suas empresas declarar que ele e os seus colegas ‘pareciam ter-se preocupado mais com o seu próprio enriquecimento do que com o dos acionistas que representavam, era um dos maiores proprietários de terras em Marbella. A sua empresa, o Grupo Corporacion Marbella, explorou terrenos rurais e convenceu a câmara municipal a reclassificá-los como terrenos edificáveis, principalmente nas colinas atrás do Centro Comercial La Cañada».

O terreno da Casa do Castelo e a concessão de praia passaram das mãos de Binstock para a União de Bancos Suíços, que acabou por vender a Vítor Santos, vulgo Bibi, e aos filhos deste. E são estes, juntamente com Evaristo, que fizeram a parceria que volta a colocar de pé o projeto que estava sem rumo depois de um incêndio ter consumido o restaurante há dois ou três anos.

«Desde sempre que vivi aqui, vivo a 100 metros, foi aqui que comecei a minha vida e estou muito grato por estar novamente junto aos meus parceiros. No fundo isto é quase um renascer do Evaristo com uma génese… nesta fase estamos apenas a recuperar alguma parte dos pratos, as lulas, as amêijoas… Não temos a componente da grelha, não temos o peixe grelhado. Temos as lulas, as ostras… Estamos a reativar parcialmente o conceito, não desvirtuando, é aquilo que é possível este ano em termos de cozinha e, obviamente, é nossa intenção, se esta realidade continuar assim, poder no próximo ano ativar na plenitude aquilo que era a essência do Evaristo que é o peixe fresco como, no fundo, o prato estrela», acrescenta Evaristo.

O restaurante será totalmente ao ar livre e dependerá da boa ‘vontade’ do tempo. Luís Evaristo não perdeu a sagacidade do discurso para a equipa: «Aquilo que me está a dar o maior gozo é o poder fazer aquilo que fazia, que é motivar e inspirar e conseguir fazer com que as pessoas que aqui estão a trabalhar sejam o maior ativo. Isto é de pessoas para pessoas. Portanto, está a dar-me um grande gozo voltar para o terreno, pôr as mãos na massa e motivar as pessoas para elas porem na cabeça que ser empregado de mesa é tão importante como ser primeiro-ministro porque eles fazem parte de um momento. A escolha que as pessoas fazem de vir aqui é uma escolha séria. Não vendemos comida, não vendemos bebida, vendemos sonhos», termina Evaristo com uma das suas máximas que vende desde 1992, apesar de algum interregno por problemas pessoais que o afastaram dos holofotes durante uns anos.