Faz muitos anos que me importunam os períodos de férias excessivos usufruídos por algumas atividades profissionais altamente relevantes na formatação de uma cultural social. Começo evidentemente por apontar os tempos exagerados de férias escolares que provocam, em minha opinião, nos mais jovens uma proximidade ao ócio imprópria para uma cultura de inovação e desenvolvimento. Esse período de férias incomum ao resto da sociedade torna professores e alunos membros de uma comunidade onde o tempo efetivo de trabalho é muitíssimo inferior ao resto da população ativa. Por isso defendo que esse período seja preenchido com um conjunto de atividades de promoção do civismo, da cidadania, da solidariedade social e do contributo para o bem comum. Habituar o nosso sistema escolar a promover uma cultura social de respeito pelo próximo e pelo bem comum, não só promove a relação com o trabalho como promove o cuidado com o espaço comum. Estas são matérias e atividades fundamentais à inversão de uma cultura de aversão ao trabalho que Portugal tanto necessita abolir.
Parece, contudo, que o sistema político está pouco interessado em debater temas essenciais à educação e ao papel do sistema educativo na formatação de uma sociedade com maior conhecimento, maior capacidade de inovação e melhor utilização do tempo das pessoas. Parece que o sistema político se contenta em debater apenas a abrangência dos temas de género e de sexualidade nas escolas, exibindo dessa forma a sua incompetência para tratar das profundas reformas que o sistema educativo necessita no tema da ocupação dos jovens nas férias excessivas, no modelo de ensino (que está efetivamente antiquado), na reposição do ensino técnico promovendo e enaltecendo um conjunto de profissões tradicionais que muita falta fazem em diversos setores de atividade, na proximidade às artes, na proximidade ao desporto e à competição, no desenvolvimento de creches e no respetivo transporte escolar. Há tanto para se fazer em Portugal… Há tanto para se fazer em prol de um país mais qualificado, mais inovador, mais próspero.
A transformação inteligente do país está, em minha opinião, condicionada por uma classe política que, na generalidade, tem revelado uma enorme falta de competência na resolução dos problemas da sociedade e da economia. Para agravar uma tendência de décadas, vivemos agora um tempo de perigosa incompetência liderado pelo Chega que conseguiu contaminar o primeiro-ministro com as agendas mais incompetentes e básicas que surgiram em Portugal nos últimos anos. As agendas da perseguição. Perseguição aos imigrantes, perseguição à educação e preparação dos jovens para uma sociedade onde a família está menos presente no seu crescimento, e onde os media e redes sociais invadiram muito do seu tempo.
No entretanto, temos de esperar uns meses para que o país volte a funcionar. Para além das férias escolares, também o Parlamento tem direito a 3 meses de férias tal como as férias judiciais que ao todo perfazem mais de 2 meses. Ou seja há 3 componentes fundamentais ao funcionamento do país (escolas, Parlamento e tribunais) que em minha opinião nunca deveriam parar, mas que são as que mais paragens para férias apresentam… Imagine-se que a moda pegava aos hospitais, à recolha do lixo e aos polícias…
Estas férias têm, contudo, uma enorme vantagem. Teremos um intervalo da confrontação com a incompetência generalizada que contaminou o Parlamento e um alívio da falta de educação e civismo dos deputados do Chega. Pena é que um crescente e significativo grupo de portugueses tenha aderido ao legítimo protesto que o sistema merece, pela promoção de um grupo de incompetentes ainda mais incompetentes que os restantes e, acima de tudo, perigosamente persecutórios e mal-educados. Vivem-se tempos difíceis… É o ‘principio de Peter’ a expoente máximo.
CEO do Taguspark, Professor universitário