Embustes

Nunca consegui perceber porque é que políticos de todo o mundo estão convencidos que a mentira é uma arma.

Assim que se confirmou a escolha de um novo governador do Banco de Portugal, o antigo ministro (há mais de 10 anos) da Economia, Álvaro Santos Pereira, começou a chuva de críticas na comunicação social: «É uma escolha política inaceitável, para um lugar que pede independência!».

Confesso que sempre que ouvi as críticas repetidas por jornalistas e opinadores, não consegui conter o riso. Santos Pereira é a escolha política e Centeno é o referencial da independência. Só pode mesmo ser para rir. Pior, justificam os críticos que é inaceitável que o governo tenha ido buscar um ex-ministro do Governo de Passos Coelho para substituir o atual governador. E dizem tudo isto convictamente. Ou pelo menos disfarçam bem.

Não sou especialista em economia e por isso, mais do que os que o são, gosto de saber que posso confiar nas informações do Banco de Portugal e em quem o dirige. Para quem tem dificuldade em perceber qual era o problema de Centeno, eu explico. O ainda governador saiu diretamente do Governo para a liderança do banco central. A transição não foi precedida de um período de nojo de 10 anos, 10 meses ou sequer 10 dias. Os primeiros documentos difundidos pela instituição após a sua entrada, dedicaram-se a análises elogiosas à política seguida pelo ministério das finanças. Dirigido por quem? Pelo mesmo Mário Centeno, é claro.

Quer tudo isto dizer que Mário Centeno foi um mau governador, ou que não tinha competência técnica para a função? Não sei avaliar. Mas «à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo». Mário Centeno deixou sempre dúvidas em relação à isenção das suas opiniões, entre outras coisas porque ao sair diretamente do governo para o regulador, passou a ser juiz em causa própria.

2 – A propaganda é, a par com as armas de fogo, uma das armas mais utilizadas em cenário de guerra. É tarefa dos jornalistas fazerem uma triagem à propaganda e trazer ao de cima o relato objetivo do que se passa no terreno.

Em Gaza, por imposição do governo israelita, não é permitida a entrada de jornalistas no terreno. Os relatos que nos chegam vêm de jornalistas locais cujos relatos levantam dúvidas legitimas sobre a credibilidade das notícias que vêm do terreno. Acresce que os dados oficiais sobre baixas, são difundidos pelo ministério da Saúde, representado pelo Hamas, o movimento terrorista que governa o enclave e que ao mesmo tempo mantém dezenas de israelitas como reféns há quase dois anos.

Tudo isto dito, é impossível ignorar o que está a acontecer à população civil, maioritariamente crianças, que estão a ser vítimas do uso da fome como arma de guerra. As imagens que nos chegam não são propaganda. Ainda que possa haver algum aproveitamento por parte de quem quer manipular, é um facto que os milhares de refugiados no enclave estão privados de comida e começam a morrer à fome. Pior, é um facto que a forma como a escassa distribuição de alimentos está a ser feita coloca em risco de vida quem vai buscar comida para sobreviver.

Israel continua a negar o óbvio e diz que não há fome em Gaza. Tem uma forma simples de o provar. Deixe entrar a imprensa internacional, como deve fazer um país democrático, para que os jornalistas possam ver com os seus próprios olhos se há ou não há fome, por falta de acesso a alimentos. Tenho a certeza que se houver por lá banquetes, ou refeições fartas, isso não escapará aos olhos e às objetivas dos jornalistas.

Recordo que ainda hoje há quem negue o Holodomor, ou ‘fome-terror’, o método adotado por Estaline para matar milhões de ucrânianos. Ninguém acredita nestes negacionistas, como ninguém pode, neste momento, acreditar nos desmentidos israelitas.