Porque os amigos são para as ocasiões

As redes sociais são um instrumento perigoso e indesejável, onde proliferam e se vulgarizaram as ameaças, as falsas denúncias e o ódio.

Hoje poderia escrever apenas sobre um amigo que foi caluniado e ofendido. E poderia também escrever apenas sobre uma amiga que partiu e me deixa grandes saudades.

Conheço o Miguel Sousa Tavares há décadas. Sou seu amigo, e sou amigo dos seus filhos. Conheci Teresa Caeiro, a Tegui, e também ficámos amigos, muito antes do seu relacionamento com o Miguel, durante o qual passámos férias e muitos fins de semana juntos.

A reputação do Miguel já foi defendida pelos familiares da Tegui, que se sentiram obrigados a interromper o luto para tentar conter a campanha que estava montada, absolvendo-o das infundadas acusações. É inenarrável, e muito cruel, que Pedro, o filho da Teresa, ainda a lidar com a perda da sua querida mãe, tenha tido de vir defender a sua honra, também ela posta em causa.

Faltam-me as palavras. Sei que haverá sempre quem diga que, porque sou amigo, terei uma visão distorcida. Pois bem, ser amigo é isso mesmo: é dar a cara nas ocasiões certas. Em todo o caso, prefiro recorrer ao copy paste e citar o testemunho muito sentido de Laurinda Alves, que, num texto intitulado Pelos frutos se conhecem as árvores, escreveu: «O amor, a cumplicidade, a ternura e as histórias (…) falam mais alto que todas as vozes que gritam e inventam ou distorcem realidades, agravando as dores devastadoras de quem sofre uma perda irreparável. Aqui fica a minha homenagem à Teresa, o meu abraço demorado ao Pedro, o filho, assim como aos pais e irmã. E fica expressa, mais uma vez, toda a gratidão que sinto pelo Miguel, pelos 18 anos de casamento e vida em comum, em família, e por ser o melhor pai que o nosso filho podia ter».

Sim, a árvore é boa e, sendo rija, não cairá às mãos dos verdugos.
Interessa-me, contudo, avaliar o que sucedeu nas redes sociais, que explodiram com comentários raivosos, insultuosos e difamatórios, depois de uma crónica num jornal. Pessoas que nada sabem, que não tinham qualquer ideia do sucedido ou das circunstâncias que rodearam a morte, que não conheceram ou privaram com o Miguel, ou com a Tegui, ou com o seu filho Pedro, ou com a irmã e os pais, apressaram-se a fazer comentários inaceitáveis. Desrespeitaram o luto e entretiveram-se a condenar, sem qualquer respeito por quem partiu e sem piedade por quem ficou.
Eu sei que o Miguel é um alvo perfeito para a matilha que pulula nas redes. Porque pensa pela sua cabeça. Porque não se esforça por nos dizer ou escrever o que queremos ouvir. Porque tem coragem. Porque é famoso e teve sucesso. Porque tem uma ascendência e uma descendência notáveis. Ora, tudo isso causa cobiça e arrelia os invejosos…

Tenho referido que as redes sociais, no seu formato atual, são um instrumento perigoso e indesejável, onde proliferam e se vulgarizaram as ameaças, as falsas denúncias e o ódio. Pessoas que sabem que a difamação é um crime parecem não entender que ele pode ser cometido na versão digital, com igual ou maior gravidade. No fundo, acreditam que o anonimato os coloca a salvo de qualquer contrariedade. Ora, sendo assim, os administradores das redes digitais deviam ser obrigados a registar quem nelas intervém, impedindo os perfis falsos e permitindo a identificação de quem prevarica.

Ao contrário do que ouço, isto não constitui qualquer ameaça à liberdade de expressão. É uma medida que responsabiliza o autor, que passa a saber que pode ser escrutinado, e que garante o direito ao bom nome, regulando o respeito coletivo que faz parte integrante da liberdade.