
O jovem influencer assumido conservador e trumpista Charlie Kirk, de 31 anos, foi atingido mortalmente no pescoço por um tiro de longo alcance disparado por um outro jovem norte-americano, de 22 anos, no momento em que a vítima respondia a uma questão de um estudante universitário do Utah sobre o aumento do número de mortes nos EUA com recurso a armas de fogo.
Kirk era talvez o mais influente apoiante de Donald Trump, multiplicando palestras e debates em escolas secundárias e universidades dos Estados Unidos, que juntavam multidões como a que vimos em Utah, e as suas intervenções tornaram-se virais, sendo seguido pela juventude muito além das fronteiras americanas, incluindo na Europa e em Portugal.
Tinha o dom da palavra, eloquente retórica e não fugia ao debate ou discussão com quem não partilhava e até abominava as ideias que acerrimamente defendia, contra o wokismo e o politicamente correto.
Em Portugal, vários órgãos de comunicação social autoproclamados independentes e de referência noticiaram a morte de Charlie Kirk às mãos de Tyler Robinson, um ‘jovem radicalizado político’. Assim mesmo, um ‘radicalizado político’, sem mais.
Na sexta-feira, dois dias depois, o jornal Público dedicava as páginas dois e três ao follow up da morte do ‘agitador digital’, sob o lead: «Durou pouco o simulacro de união entre republicanos e democratas após a morte a tiro, aos 31 anos, de Charlie Kirk, um dos mais influentes nomes do trumpismo. Horas após o crime de quarta-feira, condenado de forma unânime pelos rostos institucionais da esquerda norte-americana, dos ex-Presidentes Bill Clinton, Barack Obama e Joe Biden, a Kamala Harris, Gavin Newsom, Bernie Sanders ou Zohran Mamdani, todos com apelos contra a violência política, coube ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apontar baterias aos adversários democratas e responsabilizá-los pelo homicídio».
Em artigo de opinião também no Público, um jovem que se assina ‘Jurista na área dos Direitos Humanos’ escreve assim: «A agora defunta pop-star MAGA, Charlie Kirk, construiu um império assente no ódio e no preconceito. Ávido promotor de discursos xenófobos, homofóbicos e transfóbicos – entre tantas outras fobias –, cedo procurou o palco junto de outras estrelas do extremismo em terras do Tio Sam. Claro, para esta receita, não faltou a indispensável glorificação das armas». E ao artigo deu título de O ‘trumpismo’ matou Charlie Kirk.
Para Simão Ribeiro Póvoa, Jurista na área dos Direitos Humanos’, Tyler Robinson é um ‘radicalizado’ instigado pelos discursos de ódio, xenófobos e transfóbicos de quem assassinou.
Até porque, como igualmente escreve o Público, «os EUA arriscam espiral de violência política com promessas de vingança após morte de Charlie Kirk» – uma vez que Trump «responsabiliza a retórica de esquerda pelo assassinato de influente ativista conservador».
Lê-se e nem se acredita.
Quando Donald Trump foi vítima de atentado em plena campanha eleitoral, não faltou quem duvidasse de que tudo não teria passado de uma encenação. A sério!? A bala acertou-lhe de raspão numa orelha, escapou por um fio, mas as teorias da conspiração não faltaram.
Agora, se fosse ao contrário, talvez estivéssemos perante a morte de um jovem pai de duas crianças com uma inegável capacidade de argumentação na defesa dos seus ideais às mãos de um sanguinário radical de extrema-direita.
Porque só há radicais de extrema-direita e… ‘radicalizados
políticos’.
Kirk era um radical de extrema-direita e conservador.
Tyler é um radicalizado político.
E Trump é o grande culpado da violência e da espiral de violência.
Nos cartuchos das balas encontrados pela Polícia junto à arma que Tyler Robinson usou contra Charlie Kirk podiam ler-se as seguintes inscrições: «Ei, fascista! Toma!», excertos da música que foi hino antifascista na II Grande GuerraBella Ciao e «Se estás a ler isto, és gay, Lmao».
Para estes ‘juristas dos Direitos Humanos’, como para as mulheres e homens ou outros membros da comunidade LGBTIQAPN+ (já vai num terço do abecedário) que se aventuram em flotilhas humanitárias, o ódio é afinal só desses malfeitores radicais de direita.
Que estão mesmo a pedi-las, não é?