O PS tem 352 militantes ativos na Companhia Carris de Ferro de Lisboa (Carris), o que corresponde a 14% dos funcionários da empresa. A ‘setorial’ do partido na companhia de transportes de Lisboa elegeu quatro delegados ao Congresso de 2024, em que foi entronizado Pedro Nuno Santos. É uma das dez maiores secções socialistas da poderosa FAUL (Federação da Área Urbana de Lisboa), entre 84, abrangendo concelhos como Amadora, Cascais, Loures, Odivelas, Oeiras e Sintra. E lidera, destacada, o ranking das ‘setoriais’ em empresas públicas.
A Carris é estratégica para o PS no combate autárquico, como se viu esta semana. O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Carris, Basílio Moreira, foi delegado ao último congresso do PS. O anterior, Paulo Gonçalves, participou em vários congressos.
«Estamos a contratar mais pessoas, a contratar mais trabalhadores. Espero, aliás, que os possamos convencer da nossa estratégia e que venham a ser trabalhadores do PS e da secção do PS na Carris», brindou Fernando Medina, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, num jantar organizado pela ‘setorial’ em 2019. E tinha uma boa razão para tão fervorosa celebração partidária. A Carris fora municipalizada em 2017, pelo Governo de António Costa, quando tinha 161 militantes do PS. Nos três anos seguintes, outros 160 funcionários assinaram o cartão do partido, chegando aos 321. Como hoje são 352, a perda da câmara para Carlos Moedas não travou o crescimento da ‘setorial’, apenas o moderou consideravelmente.
A secção socialista da Carris nasceu em 2007, ano em que António Costa ganhou as eleições para a Câmara Municipal. «Foi ele quem inventou essa geringonça em Lisboa, que ainda dura», recorda um destacado militante ao Nascer do SOL.
Dos ‘picas’ nos autocarros à Administração. Como o PS controla a Carris foi o título escolhido pela jornalista Rita Penela para um retrato detalhado da ‘setorial´ no jornal Observador, em 2021. Essa reportagem demonstrava o domínio exercido por militantes do PS em todos os braços funcionais da empresa. António Martins Marques começou por gerir a estação de Santo Amaro, a que pertence o Elevador da Glória, e depois subiu a diretor de Operações, controlando o tráfego, horários e escalas. Ana Maria Lopes, outra militante do PS, atingiu a chefia de Pessoal. E o líder da ‘setorial’ do PS, António Pereira, subiu a chefe da Fiscalização, que controla a bilhética e os ‘picas´ que passam multas a passageiros sem título de transporte. O primeiro reformou-se, os outros continuam nos seus cargos.
O anterior presidente da Carris, Tiago Lopes Farias, foi nomeado por António Costa, em 2016, e Fernando Medina segurou-o no cargo até 2022. Embora não se lhe conheça cartão de militante, acumulou nomeações socialistas: vogal da EMEL, empresa das multas de trânsito de Lisboa; diretor municipal de Mobilidade e Transportes; e presidente da empresa Transportes de Lisboa, que reunia o Metropolitano, a Transtejo e a Soflusa. Um dos seus vice-presidentes na Carris era José Realinho Matos, conhecido militante socialista. E uma das vogais, Francisca Ramalhosa, tinha sido assessora no Governo de António Costa, de onde saiu para diretora municipal de Mobilidade, na câmara de Fernando Medina.
Nota de correção: António Martins Marques contactou-nos a esclarecer que nunca foi militante do PS, ao contrário do referido na reportagem do Observador, de 2021, citada nesta notícia.