Enquanto Lisboa chora o fim dos seus históricos elevadores e a tragédia da Calçada da Glória, não só mas também por evidente inadequação dos protocolos de segurança dos velhos ascensores elétricos à pressão de uma cidade que se voltou para o turismo de massas, Porto e Coimbra vivem num rebuliço por causa de um metrobus cuja racionalidade é no mínimo questionável e, obviamente, se transformou em tema da campanha para as eleições autárquicas de 12 de outubro.
Não sei se as vantagens anunciadas do metrobus justificam os sacrifícios patrimoniais tanto na Coimbra antiga como no histórico Porto.
Para mim, não!
Mas, num caso como noutro, trata-se de projetos de muitas dezenas de milhões de euros financiados pela Europa dos fundos perdidos e desperdiçados (PRR, Programa de Recuperação e Resiliência, e PO SEUR, Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos).
Milhões desbaratados, mas que permitem aos autarcas mostrar obra feita… ou a ser feita.
Em nome de transportes ditos ‘verdes’ à moda imposta pela tal Europa dos lóbis e dos interesses, Coimbra e Porto foram esventrados e abateram centenas de árvores nos seus centros históricos e principais acessos e reduziram as vias destinadas à circulação automóvel para privilegiarem o autocarro com que pretendem revolucionar a mobilidade das suas populações.
Tenho dúvidas que tanto os cidadãos do Porto como os de Coimbra passem a deixar os carros em casa e a andar só de metrobus.
E, se assim não for, quer dizer que as tais dezenas e dezenas de milhões foram um investimento que serviu, sim, para agravar os já de si problemáticos congestionamentos de trânsito e, por consequência, da poluição do ar de duas cidades que sacrificaram em vão centenas de árvores e trocaram espaços verdes por mais alcatrão.
Isto para não falar dos estaleiros em que se transformaram as descaracterizadas zonas mais nobres de ambas as cidades.
Em nome de quê?
Modernices, como diria o outro.
Um erro de Carlos Moedas em Lisboa foi ter feito, e bem, da inconcebível ciclovia da Avenida Almirante Reis um cavalo de batalha da sua campanha contra Fernando Medina para quatro anos depois continuar tudo exatamente na mesma.
Diga-se o que se disser, não faz sentido querer fazer de uma cidade com sete-colinas-sete uma monumental pista de circulação de bicicletas.
Os saudáveis ciclistas, aqueles que se esforçam por dar aos pedais em vez de ligarem o motor, só andam com os bofes de fora a abrir mais os pulmões para melhor receberem o monóxido de carbono acumulado nas avenidas atoladas por filas de trânsito sem escoamento possível e ainda mais dificultado precisamente pelas tais ciclovias.
É como os atletas que passam a correr pelo meio dos carros e autocarros a largar fumo preto nos seus joggings matinais que qualquer médico devia desaconselhar.
Mais uma vez, como diria o outro, é pura estupidez.
Pois para isso é que servem os parques nas cidades ou os passeios junto ao rio ou ao mar, longe dos carros e autocarros… e do metrobus.