De António Costa a Luís Montenegro, de Miguel Morgado a Vital Moreira, de Henrique Gouveia e Melo a Luís Marques Mendes, de todos os outros candidatos presidenciais aos líderes partidários sem exceção, a começar por André Ventura, que é as duas coisas, e a terminar em Catarina Martins, que também é candidata e já foi líder do BE, parece que ninguém agora se revê na forma como Marcelo Rebelo de Sousa interpretou e exerceu os poderes presidenciais nos dois mandatos que estão a chegar ao fim.
Sendo que Marcelo é um lídimo constitucionalista, catedrático em tudo o que respeita à Lei Fundamental, sua aplicação e interpretação.

Tanto assim que não precisou nunca de recorrer ao Palácio Ratton para concluir se os diplomas emanados do Governo ou da Assembleia da República estavam ou não conformes à Constituição e à Lei.
E sempre que entendeu pedir a apreciação preventiva da constitucionalidade, as dúvidas que suscitou junto dos juízes conselheiros acabaram por ter correspondente resposta. Basta ver o que aconteceu ainda tão recentemente com a Lei dos Estrangeiros, que o Governo, o Chega e a Iniciativa Liberal aprovaram só depois de expurgada das normas a que Belém levantou reservas e que foram validadas pela maioria dos juízes do Tribunal Constitucional.
Pouco importa se Marcelo conhece como muito poucos a Lei Fundamental da República.
Ninguém sai de Belém ou de S. Bento com a popularidade com que entrou. Nem Marcelo. Que bateu todos os recordes de popularidade enquanto Presidente da República.
Aquém e além fronteiras.
O Presidente de todos os afetos e das selfies com meio mundo, sendo filho do último ministro do Ultramar no Estado Novo, é o chefe de Estado português mais querido nas antigas colónias, em particular Angola (onde foi tantas vezes como PR e onde ouviu e calou) e em Moçambique (onde o pai Baltazar foi governador geral no final dos anos 60), mas também em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe ou Guiné-Bissau.
Mais querido até lá do que cá.
Sobretudo desde o caso das gémeas luso-brasileiras, que o abalou irreversivelmente e afetou a sua imagem pública, ainda mais prejudicada quando se referiu ao «dr. Nuno Rebelo de Sousa», qual filho renegado.
Marcelo nunca mais foi igual a si próprio. Entristeceu. Envelheceu. Perdeu alma. E a aproximação do fim do mandato, com o consequente e progressivo esvaziamento dos poderes presidenciais, é-lhe fatal. Quase até o emudece.
É certo que já estamos em plena campanha para a escolha do seu sucessor, com os debates televisivos entre os candidatos presidenciais a dominarem a agenda mediática e política.
E, naturalmente, as atenções voltam-se para o senhor que se segue.
Marcelo ressente-se. Precisa de palco e de afetos. Teve-os sempre, de uma forma ou de outra, ao longo de toda a sua vida, menino-prodígio que foi, e sempre falou de cátedra, na faculdade, nos media, na política.
Sair de cena não lhe é nada fácil.
E se, agora, está cada vez mais sozinho, há de chegar o momento em que, como diz Pedro Santana Lopes – mais um insuspeito não marcelista –, «ainda vamos ter saudades dele».
Como a Coimbra da balada, Marcelo vai certamente ter mais encanto na hora da despedida de Belém.
P.S. – José Manuel Mesquita nunca quis estar debaixo dos holofotes. E não lhe faltaram oportunidades. Nem saber. Partiu demasiado cedo. E se vai fazer falta a todos os muitos a quem sempre disse presente. Que descanse em Paz!
mario.ramires@nascerdosol.pt