Fim de ano. Alguns apontamentos

Nas eleições legislativas de maio o Chega veio quebrar o duopólio PS-PSD e tornou-se o segundo partido e líder da oposição. Foi notório o desconforto dos dois…

A nível nacional, uma alteração política de fundo com o fim do duopólio do poder político que se instalou após o 25 de novembro de 1975 e se consolidou com a revisão constitucional de 1982. Desde então PS e PSD foram alternando entre si no poder visível e apropriando-se, ambos, sempre em louvável harmonia, dos pequenos e grandes poderes – menos visíveis – da tentacular máquina do Estado a nível central e local. Mas nas eleições legislativas de maio o Chega vem quebrar esse duopólio como segundo partido e líder da oposição. Foi notório o desconforto dos dois até então atores principais perante o intruso que saltou da plateia para o palco. Particularmente pela parte do PS, a puxar pelos seus galões de ‘partido fundador da democracia’ tentando enraizar, num mito, a legitimidade que perdeu nas urnas. O PSD, esse, aparenta não saber bem que caminho seguir. Mas terão ambos de aceitar a realidade desta alteração radical no panorama político nacional, tanto mais que é bem sabido não ser André Ventura homem para ficar na estação a ver passar o comboio do defunto duopólio PS-PSD em direção às frescas e verdes pradarias dos amanhãs que (desafinadamente) cantam.

Um facto: entre quem serão partilhados os lugares que dependem dos votos de dois terços dos deputados, caso do TC, vai dar uma resposta a isto. O PSD, ele e só ele, vai ter de tomar uma decisão. Por sua conta e risco. 

Segundo apontamento, as presidenciais, com desfecho em 2026, mas que no essencial se desenrolaram este ano. Uma análise fria parece demonstrar que não apenas o duopólio PS-PSD acabou como, também, que esses dois partidos sobre os quais todo o sistema se articulou correm sérios riscos de ver os candidatos que apoiam ficarem afastados da segunda volta. Pelo menos no que toca ao PS é praticamente seguro (passe o trocadilho fácil) que tal vai acontecer. Se Seguro não passar será, para o PS, a confirmação definitiva do desastre das eleições de maio. Se Marques Mendes ficar também pelo caminho, é um decisivo sinal de que o sistema, tal como o conhecemos, colapsou. Seria uma ótima notícia para abrir 2006. Como quer que seja e depois de maio passado, o país político é outro. Se ele é completamente outro, ficaremos a sabê-lo em janeiro.

A nível internacional uma alteração geopolítica de fundo aconteceu com a chegada de Donald Trump à Casa Branca. Desta vez não entrou lá sozinho, como em 2016, mas, para mal de muitos e bem de muitos mais, solidamente apoiado na Heritage Foudation e em outros think tank conservadores. O 2025 NSS é o dobrar dos sinos pela ‘ordem liberal internacional’, pelo multilateralismo em que ela assentava, pelas plataformas burocráticas que esse multilateralismo alimentava e pelo (aparente) messianismo ideológico dos neoconservadores americanos e europeus que a justificava. O 2025 DSS representa um back to the basics, um retorno ao que é vital para qualquer país: a defesa da sua soberania, dos seus interesses permanentes e do povo que o habita; a convicção de que as relações são para estabelecer entre Estados soberanos e não com plataformas que não se sabe bem por quem são controladas. Um documento escrito numa linguagem firme, clara e direta e que a ninguém deixa dúvidas. Um regresso à realidade. Finalmente. A ‘Europa’ não gostou. Falaremos sobre isso. Boas entradas.