A crítica não lho perdoa. E o espantoso sucesso de bilheteira do primeiro, só ajudou a tatuar fundo na pele o alvo nas costas de Leonel Vieira. Mas foi ele o realizador que mais pessoas levou às salas de cinema para ver um filme português. Nunca um filme português tinha figurado no top 10 anual. O Pátio das Cantigas fê-lo, alcançou a terceira posição, ultrapassando os 600 mil espetadores. Um recorde que parece ter feito das bolas pretas da crítica as suas rodas, mesmo se Vieira terá alguma dificuldade em livrar-se da aura de persona non grata no estreito corredor cinéfilo português.
Nunca o divórcio entre a crítica e um realizador português foi tão feio, tão litigioso. Se a crítica foi unânime na condenação do filme que abriu a trilogia – com alguns dos intervenientes a assumirem uma postura próxima da militância, afirmando que se tinham sentido insultados –, Leonel Vieira fez questão de frisar que não tentou mais do que fazer «uma parábola em farsa», adiantando: «Ninguém pense que os filmes são mais sérios do que são. São comédias. O que me interessa é essa estrutura simples que procura ter muita eficácia».
De resto, Vieira nunca escondeu o desprezo que lhe merecem os críticos de cinema nacionais. Em entrevista ao Expresso, defendeu-se e contra-atacou, lembrando que «há mais pessoas além desses quatro ou cinco desalinhados que não chegam a lado nenhum com a opinião deles». Disse ainda que «o que eles pensam já não conta para nada num país».
Não havendo a menor possibilidade de conciliação de parte a parte, não deixa de ser importante reconhecer que Leonel Vieira – e não só no papel de realizador, mas enquanto produtor e empresário – deu um passo no sentido de reconciliar o público português com as produções nacionais. Mal ou bem, encetou um diálogo com o público. Público esse que parece dispensar a opinião dos críticos, cada vez menos capazes de orientar os espetadores ou sequer de impulsionar o sucesso comercial de produtos alternativos.
Leonel Vieira nasceu em Miranda do Douro, a 19 de Junho de 1969. Levou cinco anos a desenvolver o seu primeiro filme, A Sombra dos Abutres, realizando-o aos 25 anos, em 1997. No ano seguinte chegou ao grande público com Zona J, produzido a convite da SIC.