Papa quer relançar diálogo inter-religioso em visita à Terra Santa

O papa Francisco quer relançar o diálogo inter-religioso e a reconciliação entre Igrejas do Oriente, na primeira viagem à Terra Santa, e tentar ultrapassar um conflito regional que continua a agravar-se. 

Papa quer relançar diálogo inter-religioso em visita à Terra Santa

Guerra civil na Síria, impasse no processo de paz israelo-palestiniano e fortalecimento do fundamentalismo islâmico no Médio Oriente são algumas das preocupações que dominam "a peregrinação" de Jorge Bergoglio – popular nas comunidades muçulmana, judaica e cristã – a Amã, Belém e Jerusalém, de sábado a segunda-feira. 

Além de pelo menos 14 discursos e dois banhos de multidão em Belém e Amã, o papa vai multiplicar as cerimónias nos locais mais simbólicos: no rio Jordão, onde segundo a tradição Cristo foi baptizado, na basílica da Natividade, em Belém, no Santo Sepulcro, Esplanada das Mesquitas, Muro das Lamentações, Memorial do Yad Vashem e no Cenáculo em Jerusalém. 

Francisco vai ainda encontrar-se com refugiados palestinianos e sírios. 

Um rabino e um professor muçulmano, Abraham Skorka e Omar Abbud, amigos de longa data de Buenos Aires, acompanham Francisco na visita ao berço do cristianismo. De acordo com o papa, o diálogo inter-religioso pode aproximar campos políticos irreconciliáveis e mostrar que a religião não é um factor de ódio. 

A unidade entre cristãos do Oriente (católicos e ortodoxos), enfraquecidos pelas divisões até na Ucrânia, é um dos outros temas em destaque na quarta viagem de um papa à Terra Santa. 

"Francisco vai atravessar fronteiras, ao visitar três realidades políticas. Falará com todos (…) numa região marcada por recusas mútuas", disse à agência noticiosa francesa AFP o padre David Neuhaus, conselheiro para os 'media' do patriarcado latino de Jerusalém para a visita do papa. 

Em Amã, depois de ser recebido pelo rei Abdullah II, Francisco vai presidir a uma missa no estádio da capital e encontrar-se com 600 deficientes e refugiados, muitos oriundos da Síria. 

Em Belém, depois de ser recebido pelo presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, um automóvel descoberto vai levar Francisco à praça da Manjedoura, para a maior missa da viagem. 

O papa vai rezar na gruta da Natividade, entre um pequeno-almoço com famílias pobres e uma etapa no campo de refugiados palestinianos de Dheisheh. 

À noite, já em Jerusalém, o papa vai encontrar-se com os patriarcas católicos e ortodoxos na basílica do Santo Sepulcro, onde está, de acordo com a tradição, o túmulo de Cristo, para uma oração comum, sem precedentes.  

No último dia, visita a Esplanada das Mesquitas, Cúpula do Rochedo (Grande mesquita de Jerusalém) e o Grande Conselho dos Muçulmanos, o Muro das Lamentações, onde deixará uma mensagem e, no cemitério do monte Herzl (do nome do fundador do sionismo Theodor Herzl) uma coroa de flores – uma estreia para um papa. 

O papa vai manter breves encontros com o Presidente Shimon Peres e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, quando as negociações da Concordata entre o Vaticano e Israel – acordo sobre o regime fiscal e imobiliário dos bens das congregações católicas – parecem registar algum progresso. 

Uma missa no Cenáculo, local da Última Ceia de Cristo, vai concluir a viagem, num local onde se encontra também o túmulo do rei David. 

Este é um momento que pode desencadear a cólera de movimentos de jovens judeus fundamentalistas, que perpetraram recentemente atos de vandalismo anticristão. 

Tal como no ano passado, no Rio de Janeiro, o papa não terá um automóvel blindado e vai evitar também as cerimónias protocolares. 

Desde que foi eleito, Francisco tem ignorado as questões de segurança para estar mais próximo dos fiéis, sendo provável que também na Terra Santa se afaste do protocolo, disse Neuhaus. 

Em Jerusalém, as deslocações de Francisco vão ser acompanhadas por 8.000 polícias, em coordenação com o serviço de segurança interna israelita (Shin Beth). 

"Não temos qualquer razão para ter medo, porque Israel colocou à nossa disposição uma dose necessária, ou até mesmo uma 'overdose', de segurança", declarou o patriarca latino de Jerusalém, Fuad Twal. 

Lusa/SOL