Um mundo inabitável

A morte trágica de André Bessa, filho de Judite Sousa, aos 29 anos, suscitou uma onda de comoção pelas redes sociais e com ela a indignação por haver mais comentários a casos mais mediáticos. Nem nestas alturas de dor extrema há paz. 

É natural, diria até que é saudável, ter mais empatia por pessoas que ‘conhecemos’ do que por quem nunca vimos. Não se trata de minimizar a dor da morte de qualquer filho, mas de não ser possível a nenhum ser humano sofrer pela humanidade de forma idêntica. Todos os dias morrem pessoas, o sofrimento é permanente, mas há mortes que nos chocam mais, por estarem mais perto ou por serem uma tragédia na vida dos que têm uma presença frequente em televisão ou no cinema, quer os conheçamos pessoalmente ou não. Um mundo em perplexidade constante com a dor alheia, longínqua e até próxima em certos casos, é inabitável. Não é um mundo de seres humanos, mas um sítio em que não há vida nem verdadeira empatia. Não é um mundo moral.

Futebolista morde

Não faço a menor ideia do que terá passado pela cabeça de Luis Suárez, do Uruguai, para ter mordido o ombro do italiano Giorgio Chiellini, mas percebi que não é a primeira vez que o jogador tem este comportamento estranho. É a terceira vez que morde adversários, duas das quais com a desculpa de que se desequilibrou e caiu com a boca aberta em cima das vítimas. O castigo para este comportamento reincidente foi o afastamento dos campos de futebol durante quatro meses. O Presidente do Uruguai veio entretanto defender Suárez daquilo que considerou ser um castigo excessivo: «Não o escolhemos para ser filósofo, mecânico nem para ter bons modos. É um excelente jogador de futebol», afirmou José Mujica. Ou seja, Luis Suárez não foi contratado por ser um intelectual nem para meter a mão na massa e também não tem de ser um cavalheiro. Tem é de chutar na bola e acabou. E quem diz chuta, diz morde. Ficámos a saber que filósofos e mecânicos não mordem.

Baseado numa história de ficção

A série de televisão Fargo está prestes a chegar ao fim. Baseada no filme dos irmãos Joel e Ethan Coen, Fargo começa como o filme, com a advertência de que aquela história rocambolesca aconteceu na vida dita real: «This is a true story». Mas Fargo não tem nenhuma relação com nenhum homicídio brutal no Minnesota. Alice Vincent escreveu no Telegraph que o mais perto da realidade que Fargo esteve foi com a morte de uma empregada de escritório chamada Takako Konishi, em 2001, cinco anos após a estreia do filme, encontrada sem vida na neve em Detroit Lakes. O caso foi arquivado como suicídio, mas descobriu-se que Konishi tinha viajado entre Bismarck e Fargo com um amante. Um mal-entendido com a polícia de Bismarck parece ter levado à ideia de que Konishi procurava a mala de dinheiro escondida pela personagem representada por Steve Buscemi, Carl Showalter, no filme. Há um documentário de Paul Berczeller sobre o caso. Chama-se This Is A True Story.

Continuação

Há duas semanas, mencionei a história de Victoria Wilcher, a menina atacada por um pitbull, que tinha sido expulsa de um restaurante da cadeia Kentucky Fried Chicken porque as suas cicatrizes assustavam os clientes. A empresa abriu um inquérito e parece que no dia 15 de Maio, data do incidente, não há imagens de nenhuma criança com as características de Victoria em nenhum dos KFC dali. A refeição que a família diz ter pago também não aparece no sistema. Os pais de Victoria negam as acusações de terem fabricado a história para chamar atenção para o caso da filha e assim obterem dinheiro para os tratamentos. Por seu lado, a Kentucky Fried Chicken fez saber que fará uma doação de trinta mil dólares quer seja verdade quer não. A história ainda não acabou mas podemos estar perante um daqueles casos raros em que os fins justificam os meios. Ou então estamos perante um episódio banal de uma multinacional que tenta escapar a um processo de milhões.

Contágio emocional

O estudo de manipulação de emoções pelo Facebook parece uma ideia estapafúrdia, mas talvez não o seja realmente. Afinal de contas, para que serve o Facebook? Para vender, publicitar, vender. O que interessa a muitos utilizadores que por lá navegam na sua ingenuidade de publicação de fotografias de férias é irrelevante. A experiência aconteceu mesmo. O Facebook baralhou os feeds de 700 mil utilizadores e manipulou aquilo que lhes interessava que vissem, manipulando as suas emoções, expondo-os a posts alegres ou tristes conforme a sua vontade de testar reacções. O objectivo consistia em verificar como reagiam a posts alegres dos amigos, por exemplo. Ao que parece, houve uma menor quantidade de cliques durante a exposição à felicidade. O estudo realizado por investigadores de Cornell e da Universidade da Califórnia foi realizado sem o consentimento dos visados. A quantos estudos do género estaremos a ser sujeitos? Como sabotamos os resultados?