Novo Banco: estratégia arriscada

É uma notícia do “Sol”: o Banco Espírito Santo de Investimento (BESI) vai ser vendido por 400 milhões de euros. O vendedor é o Novo Banco, e o comprador é um grupo chinês, por enquanto ainda não identificado.

Os valores são interessantes. Obter 400 milhões de euros por uma empresa cujo prejuízo foi, nos primeiros nove meses deste ano, de 15 milhões de euros, e cujo capital próprio ascendia a 490 milhões de euros no mesmo período, corresponde, sem dúvida, a um bom negócio para os vendedores.

E note-se também que a nova administração do Novo Banco, liderada por Stock da Cunha, está a trabalhar depressa, possivelmente implementando a estratégia de que foi incumbida.

Já quanto à estratégia seguida, de desmembrar o Novo Banco para o vender por partes, tenho mais dúvidas. A parte de retalho do BES, os balcões, onde se contacta com os clientes, era cliente do banco que agora foi vendido, o BESI. O BESI funcionava como o cérebro do grupo, apoiando as decisões estratégicas, e criando produtos financeiros que depois eram vendidos aos balcões.

Sem as funções que estavam no BESI, designadas como banca de investimento (por oposição à banca de retalho, que são os balcões) o Novo Banco fica amputado de uma parte importante. A prazo, terá de tornar-se cliente de outros bancos (ou mesmo do BESI “chinês”) para as funções que estavam concentradas no BESI, pois não pode passar sem elas.

Assim sendo, tenho dúvidas que os dois bancos, o de retalho e o de investimento, separados, valham mais do que juntos. Em conjunto, faziam um grupo bancário forte. Cada um por si, perdem sinergias entre as suas actividades.

Vender o BESI agora só faz sentido na hipótese de o comprador do Novo Banco já ter uma presença forte na banca de investimentos. Mas, como nada é dito sobre as negociações, não podemos saber se é esse o caso.

Uma última nota: o presidente do banco Santander Totta, António Vieira Monteiro, veio hoje dizer que é difícil que o Novo Banco valha os 4.900 milhões de euros que foram emprestados para o seu resgate.

 A banca prepara-se para ter prejuízos devido ao empréstimo ao Novo Banco. Os clientes, possivelmente, suportarão custos mais elevados para pagar o custo desse empréstimo.