A importância do sofá

“Quando eu fui viver para a minha casa, durante muito tempo dormi num colchão no chão”. Esta é a frase que mais ouço quando deixo escapar um lamento sobre tudo o que ainda está por fazer ou por comprar. 

No mês passado houve mais uma vitória do proletariado cá de casa: a porta de alumínio, que não só era feia e nada tipicamente alentejana como deixava entrar todo o frio possível e imaginário, foi substituída – depois de ter passado mais de um mês encostada à parede da sala. 

Foram muitas as forças de bloqueio. Ora não nos atendiam o telefone, ora não havia tempo, ora era a estrutura da casa que dificultava o trabalho. Mas a coisa resolveu-se e eu ainda tive o gosto de fiscalizar a obra, para desgosto dos senhores que responderam às minhas perguntas com grunhidos, para ter a certeza de que ficava como eu tinha pedido. 

Desta vez a luta é outra: o sofá. Ou melhor, a falta dele. O sofá foi uma das coisas que ficaram para trás no processo de equipar a casa. 

Ainda estou a tentar descobrir porquê, mas nunca dei muita importância a esse elemento. E também nunca tinha tido de comprar nenhum. Sempre achei que qualquer improvisação daria um bom sofá – e, por isso mesmo, empatar dinheiro num sofá sempre me pareceu um desperdício. Havia outras coisas bem mais interessantes onde o gastar. 

Mas, com o aproximar do Inverno e o avizinhar de mais horas passadas em casa, começa a apoderar-se de mim a necessidade de um sofá a sério onde uma pessoa se possa sentar direita. 

Como a necessidade aguça o engenho (e quem não tem cão caça com gato), tentei convencer o resto da casa de que umas quantas paletes resultariam no sofá mais barato do mundo e também no mais confortável. Com a grande vantagem de ser uma peça única, apropriadamente rústica a uma casa numa vila alentejana. E, ainda por cima, muito na moda. 

Embora a moda me interessasse menos, o que realmente me encheu as medidas foi o peso mínimo no orçamento familiar e o facto de ser facilmente diluível nas despesas correntes. É que tentar equipar uma casa juntamente com a remodelação de um monte antigo deixa pouca margem de manobra. Portanto, recolhi imagens, desenhei o melhor que pude, medi paletes e espaços e elaborei um orçamento. 

Mas, sem eu imaginar, novamente forças de bloqueio conspiravam contra mim e, nomeadamente, contra o meu orçamentozinho. Cansadas das buscas intermináveis por velharias, da dança de candeeiros, das pinturas, das mudanças constantes e das invenções mirabolantes, as forças de bloqueio só querem um sofá onde se possam sentar – e não um sofá que ainda tenham de cortar, aparafusar e colar como se fosse um puzzle enorme em três dimensões. As forças de bloqueio não querem cá saber do rústico para nada, querem é sentar-se confortavelmente a ver um filme ou uma série. 

As forças de bloqueio, que são alentejanas de gema, querem é aproveitar o tempo que se diz que passa mais devagar no campo. 

E eu, que não as consegui vencer, junto-me a elas e procuro um sofá normal, desses que se compram facilmente numa dessas lojas que vieram democratizar o consumo – e, por agora, mando o rústico dar uma curva. 
Mãe que é mãe não dispensa umas tupperwearzitas, como escreveu a Joana Barrios, mas em contrapartida tem sempre umas coisas a mais que pode doar à nossa ca(u)sa. Mas, infelizmente, nada de sofá.