João Soares diz que prisão de Sócrates é ‘tentativa de humilhação’

O socialista João Soares critica a prisão de Sócrates, considerando-a desnecessária e chamando-lhe “tentativa de humilhação”. Por ter ocorrido no aeroporto de Lisboa com uma câmara de TV presente, numa sexta-feira à noite. E porque não faz sentido colocar a “possibilidade de fuga, ou obstrução à justiça” do ex-primeiro-ministro.

Numa noite de silêncio pesado entre os socialistas, João Soares, que foi adversário de Sócrates, na eleição para secretário-geral de 2005, foi o primeiro a reagir.

"Excepto por crime de sangue, em flagrante delito, não aceito a prisão (que "pudicamente" designam por detenção) de um ex-primeiro ministro como José Sócrates", começa por dizer João Soares, num texto publicado já de madrugada no Facebook.

"A prisão de José Sócrates, ao inicio da noite no aeroporto de Lisboa, com pelo menos uma câmara de TV de sobreaviso, é, antes de tudo, uma tentativa de humilhação do próprio ex-primeiro-ministro. Tratando-se de uma sexta-feira à noite, é, na minha opinião, uma ainda mais perversa tentativa de humilhação", critica.

Considerar que Sócrates ia fugir não faz sentido, argumenta. "Em relação a uma personalidade como José Sócrates, por maioria de razão tendo já sido Primeiro Ministro, não é admissível que se coloque sequer a possibilidade de fuga, ou obstrução à justiça". 

João Soares diz que "se há que julgar, o que quer que seja, que se julgue rapidamente e com a isenção que se exige da justiça. Humilhar e pré-condenar na praça publica, não". E aponta "os efeitos perversos e de desmoralização publica de uma iniciativa judicial como esta" que "são dificilmente avaliáveis".

Esclarece que faz esta declaração a título pessoal.  "Sou amigo de José Sócrates. Apoiei, empenhada e convictamente, as candidaturas do PS que encabeçou ao cargo de Primeiro Ministro e não me arrependo". 

João Soares, que apoiou António José Seguro nas primárias do PS, lembra que "no plano interno do PS" foi diferente: "Nunca o apoiei e raramente estive com ele, nomeadamente na ultima e recente disputa interna. Ele esteve, publica e empenhadamente, com o vencedor, eu, firme e convictamente, com o derrotado". 

João Soares deixa o seu apreço e solidariedade ao ex-primeiro-ministro, numa noite em que os socialistas próximos de Sócrates seguiram com preocupação, mas em silêncio as notícias da detenção do ex-primeiro-ministro, que, como noticiou o SOL, é suspeito de corrupção, fraude fiscal agravada, falsificação de documentos e branqueamento de capitais.

"Faço, como sempre disse, uma avaliação muito positiva dos Governos que José Sócrates dirigiu. E é isso que aqui quero deixar nesta hora difícil que ele, José Sócrates, está viver", conclui o socialista.

manuel.a.magalhaes@sol.pt