O interior despovoado

Na semana passada recomeçaram as obras do túnel do Marão, depois de uma paragem de 46 meses, quase quatro anos. Independentemente do que se possa pensar do saldo custo-benefício da totalidade da obra, com cerca de um terço do empreendimento já realizado seria insensato não o terminar.

O túnel irá facilitar as ligações ao Nordeste transmontano. Mas não se pense que ele será capaz de travar o despovoamento dessa zona. A multiplicação de auto-estradas em Portugal não limitou a saída de pessoas do interior para o litoral. Até, talvez, a tenha incentivado: quem se muda para a faixa litoral, do Alto Minho até Setúbal, tem assim melhores oportunidades de visitar a sua terra de origem em fins de semana ou em períodos de férias.

Em 1960 dois milhões de pessoas em Portugal viviam em cidades de 10 mil ou mais habitantes. Em 2011 já eram 4,6 milhões. O que se insere numa tendência mundial no sentido da urbanização: pela primeira vez na história, hoje na terra vive mais gente nas cidades do que em zonas rurais.

Apesar de os computadores, a net e a televisão tornarem menos isolada a vida no interior, não pára o despovoamento desse território. Um estudo da Universidade de Aveiro indica que, a manter-se a tendência das últimas décadas, em 2040 o interior de Portugal terá perdido mais 157 mil pessoas; e em 90 anos essa perda representará 75% da população actual.

É difícil inverter esta tendência. Os jovens querem sair do interior para prosseguirem estudos, arranjarem emprego e, talvez também, para esquecerem um passado ancestral de subdesenvolvimento. Temos, depois, o ciclo vicioso do fecho de escolas, tribunais, serviços públicos, serviços de saúde, etc., em localidades do interior com um número de habitantes que já não os justificam – o que por sua vez acelera o despovoamento.

Algumas câmaras municipais do interior têm dado benefícios, sobretudo fiscais, para ali fixarem jovens (nomeadamente no IMT, que sucedeu à sisa, e no IRS). Por vezes com um certo sucesso, mas insuficiente para inverter a tendência geral. 

Também o Estado concede alguns incentivos fiscais para que empresas se instalem no interior. Só que não chegam para contrapor às vantagens de uma empresa se situar em zonas onde existam acessos fáceis para exportar e importar, serviços públicos a que a burocracia nacional obriga a recorrer frequentemente, e, ainda, pessoas com qualificações para trabalharem nessas empresas ou tão só para lhes fornecerem alguns serviços. 

O acréscimo de concorrência decorrente da globalização estimula, aliás, a concentração de empresas no litoral.

Tudo isto leva ao gradual, mas inexorável, desaparecimento das aldeias, onde não há dimensão para fixar pessoas e muito menos empresas. É uma tragédia humana para os idosos que por lá vão ficando, cada vez mais sozinhos.

Já a promoção de cidades de média dimensão no interior parece uma política realista, que importa prosseguir com mais empenho. A qualidade de vida nessas cidades é muitas vezes melhor do que a corrente nas áreas sobrepovoadas do litoral, como a Grande Lisboa ou o Grande Porto. Ter universidades ou institutos politécnicos nessas cidades ajuda a sua vitalidade, mas não é possível ter ensino superior em todas elas. Outros factores da atracção terão de ser encontrados, diferentes de caso para caso.