Autor de ‘Je suis Charlie’ quer acabar com o ‘slogan’

O autor da frase “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”), o designer Joachim Roncin, quer pôr termo à exploração comercial do seu ‘slogan’ e vai analisar os meios legais para o conseguir, indicou hoje a sua advogada. 

Autor de ‘Je suis Charlie’ quer acabar com o ‘slogan’

"Joachim Roncin vai basear-se nos seus direitos de autor para tentar controlar a difusão e preservar a mensagem inicial intacta", declarou Myriam Witukiewicz-Sebban, citada pela agência de notícias francesa AFP, a propósito do 'slogan' que correu mundo após o atentado 'jihadista' contra a redacção do jornal satírico Charlie Hebdo, que fez 12 mortos na semana passada em Paris. 

A advogada acrescentou que o designer de 39 anos, da revista de moda Stylist Magazine, não pretende obter qualquer tipo de lucro com o 'slogan' que cunhou, embora este tenha sido adoptado globalmente, como símbolo da defesa da liberdade de expressão, depois do assassínio de vários elementos da equipa do Charlie Hebdo por ter publicado caricaturas do profeta Maomé.

O 'slogan' tornou-se uma 'galinha dos ovos de ouro' para os oportunistas, que logo o reproduziram — com letras brancas e cinzentas em fundo preto — em tudo, desde t-shirts a canecas.

O gabinete de patentes francês disse à AFP que, das 120 aplicações da frase que já recusou, duas se destinavam a ajudar a vender armas de fogo.

"Para ser franco, estou mesmo magoado com tudo o que aconteceu, com as pessoas a quererem fazer dinheiro com o 'slogan'. Sobretudo porque isso desvaloriza profundamente o seu significado", disse Roncin, em entrevista à AFP.

Exemplares da primeira edição da revista publicada depois do ataque também apareceram à venda no 'site' eBay por milhares de euros, levando o 'site' a anunciar que entregará quaisquer lucros ao Charlie Hebdo.

Até à data apenas um cidadão anónimo, com 400 seguidores na rede social Twitter, Roncin acabou casualmente por criar um dos mais populares 'slogans' de sempre, na sequência dos mais sangrentos atentados das últimas décadas em França e, desde então, este ganhou vida própria.

Tal como a equipa do semanário satírico, Roncin e os colegas da revista de moda estavam numa reunião de agenda, quando os dois 'jihadistas' armados com espingardas automáticas 'kalashnikov' irromperam pelas instalações do Charlie Hebdo e abriram fogo.

Um camarada de Roncin viu a notícia no Twitter e, embora fosse ainda demasiado cedo para saber quantas vítimas havia, este decidiu logo criar o 'slogan'.

"Não pensei, nem por um segundo, que o que eu dissesse teria algum impacto, e foi com total humildade que escrevi a frase, para expressar a minha dor e o quão chocado estava com um ataque a jornalistas", relatou.

O resto, como se diz, é história: "Je suis Charlie" espalhou-se via internet e transformou-se num movimento, com manifestações de pesar e homenagem aos profissionais mortos, entre os quais alguns dos cartoonistas mais populares de França, e em defesa da liberdade de expressão, um pouco por todo o mundo ocidental.

Roncin revela que a frase resultou de uma mistura de história e cultura 'pop': de "Ich bin ein Berliner" ("Eu sou um berlinense"), a célebre frase proferida pelo Presidente norte-americano John F. Kennedy em Berlim Ocidental, em 1963, até "We are all Americans" ("Somos todos norte-americanos"), após os atentados de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque.

Lusa/SOL