PSD e CDS divergem na preocupação com a Grécia

A provável vitória do Syriza nas legislativas antecipadas da Grécia, domingo, está a preocupar os partidos da governação na Europa. Em Lisboa, porém, PSD e CDS divergem no tom com que antecipam as consequências e o impacto na zona euro da vitória de um partido da esquerda radical como o de Alexis Tsipras. 

Os centristas consideram que não há comparação entre a realidade dos dois países – nem efeito de contágio –, desde logo, nota Cecília Meireles, porque o que está em discussão por estes dias é “se a Grécia vai precisar de um programa cautelar, já que não pode ter uma saída limpa, como Portugal teve”. 

“Aquilo que a Grécia discute, nós já discutimos no passado”, insiste a deputada do CDS, que considera que “o que quer que aconteça na Grécia não terá impacto em Portugal”. 

Mas Duarte Pacheco, do PSD, é categórico na previsão de um problema, sobretudo se o novo chefe do Executivo helénico insistir numa nova renegociação da dívida: “Não haja dúvidas de que quem tiver títulos da dívida grega vai ficar em stress, porque um dos braços desta dívida não quer pagar. Os mercados vão ter uma reacção negativa e pode haver uma desvalorização da moeda”, antevê ao SOL. 

Na mesma linha, Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS e membro do secretariado nacional de António Costa, teme o “impacto negativo nos juros das dívidas dos países do Sul”, se o partido da esquerda radical que tem em Francisco Louçã um dos consultores para o programa de governo chegar ao poder. Duarte Pacheco completa a tese: “Uma renegociação da dívida grega traduzir-se-à num aumento das taxas de juro nos outros países. Em Portugal, poderemos ser capazes de sobreviver no imediato, porque temos os nossos depósitos, mas se esta situação se prolongar teríamos de ir de novo aos mercados”.

Se no discurso político há o cuidado de salvaguardar que não são desejáveis interferências na decisão soberana dos gregos, no sector financeiro o pudor é menor. Ontem, o BPI enviou uma carta aos seus clientes através da qual alertava que estas eleições levantaram a questão do “grau de permeabilidade de alguns países europeus a um contágio de uma nova crise grega”.

Vitória do Syriza é um ‘aviso para o PS’, diz Sousa Pinto 

A comunicação do banco de Fernando Ulrich aos clientes foi denunciada pelo BE, que vê na vitória do Syriza “a possibilidade de ter no Conselho Europeu um líder que não votou em Jean-Claude Juncker”, segundo Catarina Martins, que estará hoje em Atenas ao lado de Tsipras. 

Não é segredo que o BE, que tem vindo a perder votos nas últimas eleições, espera cavalgar o sucesso do Syriza pela renegociação da dívida portuguesa e pela desvinculação de Portugal do Tratado Orçamental. “Escolher é determinante para os condicionalismos que temos ou não temos”, defende. A centrista Cecília Meireles, porém, deixa o alerta: “François Hollande era a grande esperança para a esquerda que deu lugar à desilusão. Uma vitória do Syriza pode ir neste sentido: os portugueses vão ver as consequências da sua eleição”. 

Sérgio Sousa Pinto, por seu turno – e não obstante o PS apoiar o PASOK, que esteve coligado com a Nova Democracia do recandidato a primeiro-ministro Antonis Samaras – entende que “ a vitória do Syriza é um aviso para o PS sobre a inutilidade dos partidos socialistas, que não compreendem as questões do seu tempo e que se divorciam das causas nacionais, o que os torna mandaretes de poderes internacionais, nomeadamente de instituições financeiras”. António Filipe, do PCP, lembra que independentemente do resultado nas legislativas gregas, “Portugal tem o seu próprio debate sobre a dívida pública”. 

Gregos indiferentes a avisos 

Neste quadro de previsão de contágios, somam-se avisos. Juncker, presidente da Comissão Europeia, sintetizou-os: a Grécia tem de cumprir os compromissos assumidos em troca de dois resgates (2010 e 2012) e de duas renegociações de uma dívida de 320 milhões de euros. 

Os eleitores gregos permanecem alheios a pressões e confiam na garantia de Tsipras de que uma vitória sua não implica a saída do euro. O Syrisa chega a estas eleições com 35,5% das intenções de voto, empurrando a Nova Democracia para segundo lugar (30,5%) e os socialistas do PASOK para o terceiro (4,9%), numa luta renhida com o Aurora Dourada e o KKE. 

ricardo.rego@sol.pt

*Com Sónia Cerdeira