Carlos Silva: ‘Guterres não deve olhar para trás se quiser a ONU’

Para o líder da UGT, Maria de Belém é uma boa candidata a PR e a resposta a uma sociedade ainda machista. O primeiro de Maio será longe da «instrumentalizada» CGTP. 

Carlos Silva: ‘Guterres não deve olhar para trás se quiser a ONU’

Porquê a sua visita a Sócrates, esta semana?

É meu camarada do PS, trabalhei com ele, tenho esse dever. Estivemos juntos na última campanha eleitoral e tenho muita pena do que aconteceu. Mas esta não é a visita do secretário-geral da UGT e não misturo a política com a Justiça, que deve seguir o seu rumo.

Ricardo Salgado foi o seu patrão no BES. Disse que tinha admiração por ele. O que aconteceu mostra que era um ídolo de pés de barro?

Nunca vi Ricardo Salgado como um ídolo. Era o meu patrão, sempre me tratou bem, tinha respeito por ele. O que aconteceu com o BES foi um choque profundo, já lá estou há 26 anos e tenho uma longa história familiar ligada ao então BESCL. Mas a Justiça que faça o seu caminho, também aqui.

Acha que António Guterres ainda será candidato às presidenciais?

Guterres, quando resolveu encetar uma carreira internacional, afastou-se de Portugal e é um grande representante do nosso país. Se ele tiver condições, e acho que tem, para avançar para as Nações Unidas, não devia olhar para trás.

O PS fica descalço nas presidenciais?

Não! Há vários nomes. Ana Gomes lançou Maria de Belém e vejo essa candidatura com bons olhos. Foi presidente do PS, ministra da Saúde duas vezes, foi líder parlamentar do PS e tem uma grande dimensão moral e humana que ultrapassa o PS. Numa altura em que a igualdade de género é uma batalha importante e que a violência doméstica um problema imenso, seria um grande avanço civilizacional ter uma mulher como Presidente da República. Era um sinal dado por uma sociedade que ainda é muito machista.

Se o PS não tiver maioria absoluta, o que deve fazer?

Vai ter de se entender com os restantes partidos do arco da governabilidade. Penso que à esquerda não vai ter grandes hipóteses de se articular, a não ser com pequenos partidos, que podem não chegar para a maioria. Acho que o PS não pode ficar refém do PCP e do BE, estou de acordo com Francisco Assis. Acredito que Costa terá a arte e o engenho de não fechar as portas à direita em Portugal.

Costa tem condições para ser primeiro-ministro?

Sim. As sondagens para já dão uma vantagem nas margens do 'poucochinho'. O PS tem de se pôr a mexer, tem de unir o partido e apresentar propostas. E então penso que o PS descolará.

A UGT não saiu bem do último Congresso do PS, perdendo representação na Comissão Política Nacional. As suas relações com António Costa já estão normalizadas?

Não gostei da maneira como os socialistas da UGT foram tratados depois do Congresso, mas as minhas relações com António Costa estão normalizadas. Na última reunião da Comissão Política do PS, Costa assumiu que tinha havido uma sub-avaliação do papel da tendência socialista da UGT e assumiu o convite a cinco dirigentes da tendência que eu indiquei para participar na Comissão Política.

Como vai ser o 1.º de Maio da UGT?

Vai ser no Porto. Temos a preocupação de descentralizar, temos de ir ao encontro das pessoas.

Separado da CGTP?

Sim. Eu não me revejo numa central sindical que aceita ser instrumentalizada por um partido político. A ligação da CGTP ao PCP vai para além do que é admissível. Como é que se aceita que o secretário-geral do PCP é que venha anunciar greves do movimento sindical? É uma promiscuidade.

manuel.a.magalhaes@sol.pt