‘Errare humanum est. Admito algumas falhas pontuais no Grupo Espírito Santo’

Ricardo Salgado foi ouvido no Parlamento durante quase 10 horas. Tal como na primeira audição, o antigo ‘dono disto tudo’ (DDT) recusou ser o ‘responsável disto tudo’ e colocar-se na posição de ‘vítima disto tudo’. O ex-presidente do BES esforçou-se por defender a “honra e a dignidade” da sua família, bem como a sua reputação.

‘Errare humanum est. Admito algumas falhas pontuais no Grupo Espírito Santo’

O ex-presidente do BES, visivelmente mais cansado do que na audição de Dezembro, voltou a usar a mesma "narrativa", que chegou a ser apelidade de "ladainha". Por um lado, assumiu que foram cometidos erros no topo da hierarquia do universo Espírito Santo.

Por outro, o ex-‘dono disto tudo’ apontou baterias na direcção de Carlos Costa. O governador do Banco de Portugal foi acusado ter feito um "julgamento sumário" logo a 3 de Agosto, dia da resolução do BES. O ex-banqueiro revelou que já avançou com um incidente de suspeição contra o regulador por "falta de isenção". Salgado insiste: "O BES não faliu, foi forçado a desaparecer".

Ricardo Salgado tentou rebater as conclusões dos dois blocos da autópsia ao BES – relativos ao cumprimento das determinações emitidas pelo Banco de Portugal e à exposição do BES ao BES Angola – e que revelaram dezenas de situações irregulares e potenciais actos dolosos de gestão ruinosa.

O ex-banqueiro repetiu, por diversas vezes, nunca ter realizado “qualquer desvio de dinheiro” em seu benefício ou da sua família. Salgado recusou ainda pedir desculpa, embora tenha dito que lamenta o que aconteceu aos accionistas, clientes, depositantes e trabalhadores com o colapso do banco e do grupo. O ex-banqueiro desabafou: "É uma facada chamarem 'banco mau' ao BES". Salgado não se esqueceu de, mais uma vez, enviar recados ao Governo e lançar farpas a Pedro Queiroz Pereira e a Fernando Ulrich. 

Acompanhe o minuto-a-minuto

01h07: Terminou a audição a Ricardo Salgado. Quase 10 horas depois, os deputados dão os trabalhos por concluídos.

00h53: Ricardo Salgado admite que o prestígio do Banco Fomento de Angola e da empresária Isabel dos Santos concedem maiores facilidades ao BPI.

00h50: "O Dr. Fernando Ulrich é uma pessoa que eu considero. Tem feito um excelente percurso e espero que continue". "Tenho pena que tenha feito comentários à liberalidade [presente de 14 milhões do construtor José Guilherme], um assunto pessoal que ele desconhece. Não posso falar porque está em segredo de justiça. Compreendo até certo ponto, mas tenho pena que não queira ter sido elucidado sobre o assunto". Ulrich disse, no Parlamento, que já não voltaria ao BPI se tivesse recebido um "presente" de tamanha magnitude.

00h42: "O CEO e o CFO eram extremamente onerosos para o grupo", disse referindo-se a gestores da Rioforte. "Esses senhores têm uma grande responsabilidade, porque em vez de estarem a fazer o deleverage, aumentaram a dívida. A arbitragem era um problema para resolver. Mas não havia gestão de tesouraria centralizada".

00h41: "A Enterprise era uma empresa que coordenava e regularizava os serviços partilhados", repete. "Nós não estávamos a reconstruir contabilidades. Queríamos perceber onde é que poderíamos encontrar os activos ainda não contabilizados e que acabaram por se perder. Não houve nenhuma intenção de criar uma ficção contabilística".

00h27: A audição entra na terceira ronda de perguntas.

00h24: Mariana Mortágua questiona Salgado sobre a existência de um Hotel dentro do edifício Miami Plaza e que alegadamente permanece na esfera do GES. Salgado responde que o GES "desapareceu", mas explica que o Hotel era independente do edifício. "Conrad é uma cadeia internacional. Bem sei que o nome Espírito Santo é um nome prestigioso. Mas Conrad não é Espírito Santo", esclarece o ex-banqueiro.

00h19: "Ficaram 850 milhões de euros de provisão para reembolsar os clientes que tinham 567 milhões de euros aplicados em papel comercial", assegura.

00h15: "Houve alguns lapsos de gestores que não cumpriram as instruções na venda do papel comercial, mas certamente, e tal como já foi dito, contam-se pelos dedos de uma mão", diz Salgado. Recorde-se que, nesta fase, há ainda 2.500 clientes que não conseguiram reaver os 527 milhões de euros aplicados em papel comercial de entidades do GES.

00h09: "Não combinei com ninguém operações da Eurofin", repete.

00h04: Mariana Mortágua pergunta se Salgado não geriu durante anos um grupo falido. A deputada do Bloco de Esquerda faz a comparação com o maestro da orquestra que prefere continuar a tocar música e afundar com o barco do que admitir que acabou. O ex-banqueiro recorda que o Estado português estava falido e que o GES ajudou a salvar vários grupos. De tal forma que "Vítor Gaspar reconheceu e agradeceu o contributo do GES para o país em duas chamadas telefónicas". "O que fomos pedir [ao Governo] foi reciprocidade".

00h00: "O BES foi forçado a desaparecer, devido ao excesso de provisionamento e ao fim da garantia de Angola. Não é uma ladainha, mas sim aquilo que aconteceu".

23h57: "Em relação à ladainha, tenho procurado explicar isso. O banco não faliu. A 30 de Junho, o BES tinha capitais de 3,7 mil milhões de euros e a situação da garantia de Angola foi abandonada pela atitude dos nossos supervisores. No dia 18 de Junho, fui a Angola com o Dr. Amílcar Morais Pires e pedi ao Eng. Manuel Vicente para acelerar a garantia – uma técnica em que os activos que cobriam a garantia seriam passados para um SPV, algo muito realizado em Espanha. Ora, saiu no Expresso que Ricardo Salgado foi pedir ajuda a angolanos. Não fui pedir ajuda. Fui pedir a aceleração da garantia". 

23h55: "Explique-nos essa ladainha, que nos traz aqui desde o primeiro dia – a de que o BES não faliu, foi forçado a desaparecer", pede o deputado do PCP, Miguel Tiago.

23h50: A supervisão aos bancos era permanente e, durante o programa de assistência económica e financeira a Portugal, os banqueiros eram obrigados a reunir com a Troika regularmente, recorda.

23h45: "Nunca escondemos nada do Crédit Agricole. Foi uma parceria estratégica de 30 anos. Uma parceria destas não se quebra de qualquer maneira". O accionista francês estava disposto a participar no aumento de capital do BES, na medida das suas possibilidades, recorda Salgado. O Crédit Agricole estava a passar por um período complicado e a abandonar operações em Espanha, Itália e Grécia, acrescenta. 

23h40: Questionado sobre a venda de acções realizada por Rui Guerra, último presidente do BESA, dias antes do colapso do Grupo, Salgado avança: "Fez bem. Eu guardei as minhas e investi mais no aumento de capital". Suscita risos na sala.

23h20: Ricardo Salgado acusa o contabilista Machado da Cruz de apresentar múltiplas versões sobre a falsificação das contas da ESI.

23h18: O ex-banqueiro diz que um investidor que tinha dívida da ESFG ou da Esfil colocou uma acção cautelar para impedir a venda da Tranquilidade. E só desistiu desse processo porque a Apollo cedeu 8% do capital da Tranquilidade a esse investidor.

23h16: “É só esperar alguns anos para ver o que vai acontecer à Tranquilidade”, alerta Salgado, estimando que a Apollo vai conseguir “um lucro brutal” com a venda da companhia. A seguradora valia muito mais do que o preço pelo qual foi vendida, apesar de o investimento no GES ter desvalorizado a Tranquilidade.

23h05: "Ouvi o vice-primeiro-ministro dizer que as alternativas para o BES eram a nacionalização ou a resolução. Espanta-me! Antes da nossa saída tínhamos forma de organizar uma recapitalização privada", realça o antigo banqueiro.

23h02: Para Salgado, “um conglomerado misto integra as duas partes: não é possível em termos de confiança extrair a parte não financeira sem contaminar a parte financeira”. É com esta justificação que garante ter alertado o Governo para os riscos sistémicos do grupo. Salgado mostrou a Passos a carta enviada ao governador a 31 de Março.

23h00: “Não se pode comparar o GES à Peugeot. O GES criou mais de 30 mil empregos”.

22h55: “A imprensa diz que eu fui ao primeiro-ministro fazer queixas do Sr. governador. Não foi isso. Foi um grito de alarme. Alertei para o risco sistémico do BES”, insiste Salgado.

22:50: " Ninguém podia saber tudo o que se passava dentro do BES", sublinha em resposta ao deputado do PS para justificar o seu desconhecimento sobre a venda da ES Turismo.

22h40: "A Eurofin funcionava como empresa independente”, repete.

22h26: "Estou totalmente convicto no empenhamento das equipas do BES no cumprimento das determinações do Banco de Portugal. Aguardo o fim dos trabalhos da auditoria forense. 'Errare humanum est'. Acredito que tenha havido algumas falhas pontuais".

22h24: "O senhor Queiroz Pereira referiu que as minhas irmãs fazem bolos para vender para fora e que eu não lido bem com a verdade. As minhas irmãs já responderam. E eu só gostava de dizer que tenho uma excelente relação com as minhas irmãs e que elas nunca puseram processos judiciais contra mim. O Sr. Queiroz Pereira não pode dizer o mesmo".

22h18: Ricardo Salgado desconhece que a ESAF tenha aplicado dinheiro no HSBC, sobretudo para alegadamente fugir ao Fisco.

22h15: As relações entre o BES e o BESA estão novamente em análise. “Não acredito na existência desse tipo de procedimentos”, referindo-se a concessão de créditos sem comprovativos.

22h10: Foram retomados os trabalhos, com nova ronda de perguntas do PSD.

21h40: Terminou a primeira ronda de perguntas e a audição foi interrompida durante 30 minutos para jantar.

21h20: “A auditoria forense não viu muitas coisas”, critica Salgado.

21h15: “Não desobedecemos ao ring-fencing do Banco de Portugal”, garante.

21h02: O BES nuna teve operações com o HSBC, daquelas que estão agora a ser investigadas na Suíça.

20h59: Ricardo Salgado diz conhecer a falta de “apreço” de Mariana Mortágua pelos conglomerados mistos e até acaba por reconhecer que não é totalmente contra certo tipo de ajustamentos legislativos que possam vir a ser implementados.

20h45: Salgado assume que o balanço consolidado e o ajustamento do grupo deveriam ter começado mais cedo. Reconhece fragilidades no GES.

20h33: “O segredo de justiça impede-me de falar sobre os meus valores pessoais (…) Os registos da ES Enterprise estão a ser alvo de investigação pelo Ministério Público. Não posso falar sobre um campo alvo de segredo de justiça”. Os movimentos desta empresa, considera uma espécie de “saco-azul” do GES, estão a ser alvo de um inquérito, numa certidão extraída do processo judicial Monte Branco. Salgado diz desconhecer os motivos que permitiram a Helder Bataglia receber sete milhões de euros da ES Enterprise.

20h30: É agora a vez de Mariana Mortágua do Bloco de Esquerda fazer questões. Quem dava ordens na Espírito Santo Enterprise? “Era uma holding operacional, que regularizava serviços partilhados.Os administradores eram o Dr. Machado da Cruz e o Dr. José Castella”, responde Salgado.

20h27: “É como darem-me uma facada chamarem o BES de banco mau”

20h24: Salgado recorda que não pode falar sobre a operação Monte Branco, na qual foi constituído arguido.

20h20: “O Dr. Morais Pires não beneficiou de nada que não tivesse direito. Em relação aos meus activos estão totalmente publicitados. Por isso, pode ter a certeza que não foi por aí que o BESA ou o BES faliram”.

20h00: “Já me disseram que a Espírito Santo Saúde mudou para o Santander. O Novo Banco cortou o funding”. O presidente da comissão, Fernando Negrão, aproveitou para interromper a audição e pedir que sejam usados menos termos anglo-saxónicos. Há muitos cidadãos a queixarem-se. O pedido surge na sequência da utilização da expressão ‘finding’ ao longo das cinco horas do testemunho de Ricardo Salgado. 'Findings' são as conclusões da auditoria forense.

19h58: O Banco de Portugal acompanhava directamente as entradas e saídas de dinheiro da conta escrow, a conta criada para reembolsar os clientes que investiram aos balcões do BES em papel comercial de entidades do GES. “Não houve desvios de dinheiro da conta escrow”, insiste Salgado.

19h45: A exposição do BES à area não-financeira “nunca foi demasiadamente elevada”, considera o ex-CEO. Os grandes riscos estiveram sempre dentro dos limites impostos. O deputado Miguel Tiago discorda.

19h40: Salgado não se recorda de a Espírito Santo International ter negado as contas ao auditor PriceWaterhouseCoopers.

19h37: “Do meu lado não houve falsificação de contas”, atesta.

19h35: “O Banco não faliu. Foi forçado a desaparecer”. Esta é uma afirmação que Salgado já tinha proferido na primeira audição.

19h32: “O Grupo esteve 40 anos no Luxemburgo, sem qualquer problema. De repente, cai-nos tudo em cima da cabeça, por não termos acompanhado a estrutura do topo da gestão do grupo. Tínhamos um desiquilíbrio. O grupo tinha defeitos de organização”.

19h25: Depois de um intervalo de cinco minutos, é a vez do deputado do PCP, Miguel Tiago, interrogar Salgado.

19h20: Em matéria de reembolso dos montantes investidos em papel comercial, Salgado rejeita que tenha sido dado tratamento especial a alguns clientes, em detrimento de outros.“Agimos em conformidade com as exigências do Banco de Portugal”. A primeira parte da auditoria forense ao BES indica que clientes do BES Açores, BEST e ESAF foram reembolsados pelo investimento em papel comercial. Há 2.500 clientes que ainda não conseguiram reaver os 527 milhões de euros investidos.

18h50: "Só na área financeira fazia 515 reuniões por ano. Tinha 200 dias úteis ocupados por ano. Era completamente falso que tivesse poder absoluto no banco".

18h45: "A minha relação com José Manuel Espírito Santo era de irmandade. Mantenho total confiança no Dr. José Manuel Espírito Santo".

18h20: É agora a vez da deputada Cecília Meireles do CDS interrogar Ricardo Salgado.

18h10: Saiu dinheiro do BES para o BESA e do BESA para uma offshore com o objectivo de a família Espírito Santo participar em aumentos de capital? Salgado nega. "O dinheiro não foi para os bolsos dos acionistas", entre os quais se encontrava a Família Espírito Santo, repete.

18h06: Se algum deputado estiver interessado, Ricardo Salgado diz estar disponível para mostrar a distribuição de pelouros no BES. Garante que não era centralizador, como se diz na opinião pública, e adianta que o BES Angola era um pelouro de Amílcar Morais Pires. "Havia um acompanhamento permanente das exposições do BES ao BESA".

18:05: "Não me recordo desse período. Eu estava completamente absorvido pelo BES", defende-se Ricardo Salgado, perante a insistência do deputado do PS sobre as relações PT/Espírito Santo.

18h00: "Não sei se sabiam se era da Rioforte, sabiam que era uma aplicação na ESI e que seria prorrogada por um ano", tenta esclarecer o ex-CEO do BES.

17h58: A aplicação da PT em papel comercial da Rioforte, no montante de 897 milhões de euros, é o tema agora em análise. "Ninguém esperava o colapso".

"Acredito que sim" é a resposta de Ricardo Salgado às perguntas do PS: Henrique Granadeiro sabia da aplicação? E Zeinal Bava sabia da aplicação? E quanto os accionistas brasileiros da Oi? "Sabiam e depois desmentiram", disse.

17h35: "Por que não participou na auditoria forense?", questionou o PS. "Quero dizer-lhe que fiquei profundamente chocado com o julgamente sumário que o Sr. Governador do Banco de Portugal fez, ao acusar a administração de ter cometido as maiores fraudes. A partir daí recusei-me a falar, porque percebi que estávamos num julgamento prévio. Isto certamente acabará no Tribunal, mas estou confiante nas instâncias judiciais".

17h28: "Espero vir a ter detalhes para comprovar que cumprimos [as determinações do Banco de Portugal] até ao final. Todos os recursos que saíram da conta escrow foram para pagar aos particulares de retalho".

17h20: O deputado Pedro Nuno Santos questiona o ex-CEO do BES sobre alegadas violações a determinações de ring-fencing [separação da área financeira da não financeira do GES], impostas pelo Banco de Portugal. Aumentou ou não a exposição do BES à ESI?

"Nós estamos a trabalhar no escuro para esclarecer essas matérias". Salgado tenta escapar à resposta, o deputado não desiste. Aumentou ou não a exposição do BES à ESFG? "Tenha paciência. Nós cumprimos exactamente com o ring-fencing e foi exactamente por cumprirmos o ring-fencing que o grupo colapsou. A proibição à ESFG só chegou a 30 de Junho", defende-se o antigo presidente do BES.

17h16: É agora a vez do grupo parlamentar do PS fazer as suas questões. O presidente da Comissão pede respostas mais concretas e directas a Salgado, para evitar a dispersão.

17h15: "Costuma dizer-se que quem não tem vergonha o mundo é seu! E, nesse sentido, o Dr. Ricardo Salgado ainda é o DDT – 'dono disto tudo'", ataca o deputado do PSD.

17h10: "A sua versão, e com que aqui fez teima, não faz qualquer sentido", acusa Carlos Abreu Amorim, lamentando a ausência de um pedido de desculpa. O deputado PSD confessa que tinha esperança de ver Ricardo Salgado seguir o exemplo de Henrique Granadeiro e José Manuel Espírito Santo que apresentaram o seu pedido de desculpa aos vários lesados na PT e no GES.

17h05: Quem indicou Paulo Kassoma para o BESA? Salgado elogia o CV do general, e recorda Rui Guerra, o último presidente do BESA antes da intervenção do Banco Nacional Angolano. E refere que os accionistas Geni e Portmill detinham 45% do capital da instituição angolana.

17h03: Tem quantas offshores? Foi a pergunta do deputado do PSD. E confirma saídas de dinheiro do BESA para essas offshores? "Oh, senhor deputado, não tive tempo de ver a auditoria forense. Mas a minha situação pessoal e fiscal é pública e já foi diversas vezes divulgada. Não recebi nem mais um centavo do que aquilo que foi divulgado. A Savoices era uma offshore, que foi completamente arrumada em 2012". Salgado garante que não tem dinheiro em offshores, neste momento.

16h50: O que é a Espírito Santo Enterprise? “Não é um saco azul” do Grupo Espírito Santo, garante Salgado. Os minutos seguintes são passados a descrever a actividade da Espírito Santo Enterprise. "Não aparecia no organograma. É uma grande falha. Devia aparecer por baixo da ES Imobiliária", refere, suscitando risos na sala 6 do Parlamento."Não posso falar porque esse assunto está sob segredo de justiça". Salgado confirma assim um inquérito judicial ao suposto saco azul do GES. Ainda questionado sobre o território geográfico da actuação da ES Entrerprises, Salgado hesita. Mas acaba por indicar que "talvez" fosse o Luxemburgo.

16h38: "Foi uma situação muito infeliz o que aconteceu com o grupo", desabafa Salgado. O ex-presidente do BES e a sua família investiram 70 milhões de euros no aumento de capital da Espírito Santo Control. Em 2014, antes do resultado da auditoria da KPMG, a família investiu novamente mais 25 milhões de euros. "Ninguém na família sabia o que se passava".

16h34: "Tenciona processar o Dr. Machado da Cruz?" Foi a pergunta do deputado do PSD. Salgado responde que o grupo está "desmantelado" e entregue aos tribunais do Luxemburgo. Reitera que o GES sempre teve "confiança" no contabilista Machado da Cruz. O antigo CEO nega ter tido encontros, em Cascais, com o commissaire aux comptes para desenhar uma estratégia de defesa sobre a ocultação de contas da ESI. E acaba por não responder directamente à questão.

16h30: O ex-banqueiro nega que tenha dado instruções ao contabilista do GES para ocultar o passivo das contas da holding Espírito Santo International. O ex-presidente do BES mantém a sua versão e desmente assim Machado da Cruz, o contabilista do GES. Os deputados identificam a primeira contradição óbvia de testemunhos.

16h17: Salgado não comenta as declarações do professor João Duque, mas refere que enviou uma carta ao presidente do ISEG. O economista manifestou arrependimento por ter atribuído o honoris causa a Salgado. João Duque declarou , numa entrevista, que premiou um "escroque da pior espécie".

16h15: Carlos Abreu Amorim, do PSD, é o primeiro a questionar o ex-líder do BES. O deputado insta Ricardo Salgado a pedir desculpa. Salgado responde, citando Fernando Pessoa: "Pedir desculpa é pior do que não ter razão. Eu estou aqui a defender a minha razão e essa razão espero vir a obtê-la quando for julgado nos tribunais". Ainda assim, reconhece: "Sou responsável certamente e cometi erros". 

Esta citação acabou por ser corrigida quase no final da audição. "Não dar desculpas é melhor que ter razão", da autoria do heterónimo Álvaro de Campos.

16h11: O ex-banqueiro termina a leitura da sua apresentação inicial, um documento com 54 páginas.

16h10: Salgado é duro nas críticas a Carlos Costa: "Lamento que, num Estado de Direito como o nosso, ainda exista quem pretenda uma “Justiça de pelourinho”, sem direito a defesa ou mesmo sem direito a um processo condigno".

"Podem ter a certeza que estarei sempre ao dispor de todas as instâncias do Estado e apenas ambiciono explicar os meus actos e as razões que me guiaram na gestão dos últimos meses da vida do BES".

"Mas acreditem que me defenderei até ao limite das minhas forças, pois apesar de todos os erros que possa ter cometido ao longo de uma vida de trabalho, de uma coisa tenho a certeza: nunca, em momento algum, tive intenção de prejudicar os interesses do BES, dos seus clientes, colaboradores e accionistas".

16h00: "Para onde foi o dinheiro", interroga Salgado e de imediato dá apresenta a sua versão: "O dinheiro não foi para os “bolsos” dos acionistas, entre os quais se encontrava a família Espírito Santo. Mas, o dinheiro não desapareceu". 

"Primeiro: como já referi, o relatório elaborado pela KPMG sobre a ESI demonstra que não houve qualquer desvio de fundos. Segundo: basta ver, com atenção, as contas do BES do 1.º semestre de 2014 e as contas do Novo Banco, que foram divulgadas em 9 de Março de 2015, para concluir que não houve desvio de dinheiro.

Ainda em 30 de Junho de 2014, o BES tinha um capital próprio de 3.732 milhões de euros, conforme atestam as contas consolidadas do 1.º semestre de 2014. Ainda em 30 de Junho de 2014, o custo com imparidades e contingências registado nas contas consolidadas do BES, relativo a reforço de provisões e similares, ascendia a 4.253 milhões de euros".

15h55: Salgado acusa o governador de ter preparado "o terreno para as medidas de resolução". As cartas trocadas são um evidente sinal disso, acusa. "Já o padre António Vieira dizia que em nenhuma parte como em Portugal se gasta tanto em papel". 

15h50: "O regulador inviabilizou a injecção de fundos no BES", acabando por exigir a uma nova administração uma solução em 48 horas que antes tinha descartado.

15h40: Salgado descreve a actuação do regulador com "estupefacção". O ex-presidente questiona a fuga de nomes dos seus potenciais sucessores. "Os factos objectivos que traduzem o comportamento do regulador do sector bancário nesta matéria causam, no mínimo, estupefacção", concretiza.

15h35: "Não houve nexo causal entre o problema da Espírito Santo Internacional (ESI) no final de 2013 e a quebra de confiança no BES", afirmou. A volatilidade das acções a fuga de depósitos foram as causas para o colapso do BES, considera o ex-responsável do banco. E o plano de recuperação da ESI não vingou por falta de tempo, defende.

15h30: Salgado critica o facto de a segunda parte da auditoria forense – relativa à exposição do BES ao BES Angola – ter sido divulgada há pouco mais de 48 horas, o que o impede de exercer o direito ao contraditório e mostra-se indignado por as conclusões terem por base notícias dos jornais.

15h29: "Finalmente, quero esclarecer esta Câmara que, no passado mês de Fevereiro, fui confrontado com um projecto de decisão administrativa do Banco de Portugal, na qual o regulador “presume” – repito, “presume” – que sou responsável pelo agravamento da situação financeira do BES, apenas porque fui administrador deste Banco até 13 de Julho de 2014.

Perante esta situação, solicitei ao Banco de Portugal a consulta do processo administrativo, tendo-me sido respondido que o processo é composto, unicamente, pelo próprio projecto de decisão. Portanto, não há nada para consultar, porque o regulador entendeu ser desnecessário produzir qualquer prova. Em face destas circunstâncias e de uma pré-condenação anunciada de viva voz e em directo, em 3 de Agosto de 2014, fui obrigado a suscitar, nesse processo administrativo, um incidente de suspeição do Senhor Governador, por manifesta falta de isenção.

Aguardo, há mais de um mês, a decisão dos restantes membros da Administração do Banco de Portugal, apesar de a lei obrigar que o incidente de suspeição seja apreciado em oito dias".

15h28: "O ring-fencing prejudicou o BES em vez de o proteger", acusa.

15h25: "As descobertas que, em 3 de Agosto de 2014, o Banco de Portugal pré-anunciou como práticas fraudulentas são apresentadas, passados 7 meses, como “potenciais” desobediências, como, por exemplo, a falta de preenchimento de um questionário por um administrador (não identificado) ou, ainda, a concessão de um empréstimo à habitação, de 255 mil euros, a um administrador não executivo, que não teria sido aprovado pela maioria exigível da administração".

15h20: "Vivo bem com a potencial desobediência", indicada no relatório da Deloitte ao BES. 

15h18: Ricardo Salgado refere que só teve acesso à auditoria forense através da comunicação social. O ex-presidente do BES tem uma vasta lista de pontos para refutar as conclusões do primeiro capítulo da auditoria. A indisponibilidade do Banco de Portugal e da auditoria em ouvir terceiros é uma das primeiras criticas feitas por Ricardo Salgado. 

"Fica-se sem perceber como a consultora que elaborou o relatório de auditoria foi contratada em 2 de Março de 2015 e emitiu o trabalho final no dia seguinte. É isso que diz o documento".

"A auditoria baseou-se, exclusivamente, em informação prestada pelo Banco de Portugal e pelo Novo Banco, leia-se, Banco de Portugal”.

15h17: "É verdadeiramente inadmissível que o Banco de Portugal ande a divulgar gota a gota, e na imprensa, elementos que levem a um julgamento e uma imprecisão", ataca Salgado, acrescentando que se quis passar a imagem de que o ex-presidente do BES desobedeceu 21 vezes ao regulador. 

"Pelo menos, em 10 descobertas do relatório é referido que não foi disponibilizada informação ou prova ou, então, que a informação existente é inconclusiva".

15h16: "Lamento, profundamente, todos os que foram prejudicados pelo desfecho da situação do BES/GES e nunca esqueci ou esquecerei os Clientes, Colaboradores e Acionistas, que em nós confiaram". Salgado não apresenta qualquer pedido de desculpa, como fez José Manuel Espírito Santo, antigo presidente do Banque Privée Espírito Santo, ex-administrador da ESI.

15h15: “Hoje, que perdi o que foi a minha vida de trabalho de mais de 40 anos, só quero lutar pela minha honra e da minha família, explicando o que fiz, num contraditório objetivo e com armas iguais", diz.

"Sei que os anos que me restam de vida serão passados nessa luta e que a maioria daqueles que me rodearam com honras e solicitações fingirão nunca me ter conhecido ou dirão que se enganaram anos a fio".

"Como se trata de um processo muito complexo, que exige provar factos, ouvir pessoas, comparar versões e isso leva muito tempo, o julgamento rápido e sumário foi este: Ricardo Salgado era o único responsável. Porque tinha mandado, desde os anos 90, em todos os actos, de todos os gestores das empresas do GES e do BES, assim como em
políticos de sucessivos governos e em reguladores que não tinham poder para forçar a sua saída, mesmo tendo desejado fazê-lo".

15h10: Fernando Negrão faz duas notas prévias à audição. A primeira para referir que os deputados “estão a trabalhar” e que são precisas condições para fazê-lo da melhor forma possível. Por isso, o presidente da comissão pede silêncio à comunicação social. Depois, recorda que a audição a Salgado é uma repetição. “Não estamos aqui para julgar ou acusar alguém”, diz Fernando Negrão. Mas “é necessário apurar os factos” e, para tal, pede “perguntas e respostas claras”.

15h06: Ricardo Salgado já está na sala 6 do Parlamento. O ex-presidente do BES chegou acompanhado dos seus advogados e do seu assessor de imprensa.

15h00: Ricardo Salgado fará uma declaração inicial. Acompanhe a audição minuto-a-minuto.

14h30: A audição está agendada para as 15h00.